31 de jan. de 2010

Lula para Davos: Brasil será ator permanente no cenário do novo mundo



Amorim (foto) recebeu o inédito prêmio no lugar de Lula

Em discurso lido esta manhã pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em Davos, na Suíça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu o prêmio de Estadista Global, concedido pelo Fórum Mundial, e lembrou que ''um outro mundo é possível''.

Justificar
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recebe das mãos do ex-secretário geral das Nações Unidas Kofi Annan o prêmio de "Estadista Global" conferido ao presidente Lula

- Nos últimos meses, tenho recebido alguns dos prêmios e títulos mais importantes da minha vida. Com toda sinceridade, sei que não é exatamente a mim que estão premiando, mas ao Brasil e ao esforço do povo brasileiro. Isso me deixa ainda mais feliz e honrado - enfatizou o discurso de Lula.

O presidente lembrou ainda que o prêmio aumenta a responsabilidade dele como governante e a responsabilidade do Brasil como ator cada vez mais ativo e presente no cenário mundial.

- Tenho visto, em várias publicações internacionais, que o Brasil está na moda. Permitam-me dizer que se trata de um termo simpático, porém inapropriado. O modismo é coisa fugaz, passageira. E o Brasil quer e será ator permanente no cenário do novo mundo - ressaltou.

- O Brasil, porém, não quer ser um destaque novo em um mundo velho. A voz brasileira quer proclamar, em alto e bom som, que é possível construir um mundo novo. O Brasil quer ajudar a construir este novo mundo, que todos nós sabemos, não apenas é possível, mas dramaticamente necessário, como ficou claro, na recente crise financeira internacional, mesmo para os que não gostam de mudanças - prosseguiu Lula.

- O olhar do mundo hoje, para o Brasil, é muito diferente daquele, de sete anos atrás, quando estive pela primeira vez em Davos. Naquela época, sentíamos que o mundo nos olhava mais com dúvida do que esperança. O mundo temia pelo futuro do Brasil, porque não sabia o rumo exato que nosso país tomaria sob a liderança de um operário, sem diploma universitário, nascido politicamente no seio da esquerda sindical - acrescentou.

- No meu discurso de 2003, eu disse, aqui em Davos, que o Brasil iria trabalhar para reduzir as disparidades econômicas e sociais, aprofundar a democracia política, garantir as liberdades públicas e promover, ativamente, os direitos humanos. Iria, ao mesmo tempo, lutar para acabar sua dependência das instituições internacionais de crédito e buscar uma inserção mais ativa e soberana na comunidade das nações. E comentei que a construção desta nova ordem não seria apenas um ato de generosidade, mas, principalmente, uma atitude de inteligência política - recordou Lula.

O presidente foi enfático ao lembrar que o Brasil fez a sua parte: ''Sete anos depois, eu posso olhar nos olhos de cada um de vocês – e, mais que isso, nos olhos do meu povo – e dizer que o Brasil, mesmo com todas as dificuldades, fez a sua parte. Fez o que prometeu''.

A seguir, Lula fez uma pergunta: 'O que aconteceu com o mundo nos últimos sete anos? Podemos dizer que o mundo, igual ao Brasil, também melhorou?

E respondeu: 'Não faço esta pergunta com soberba. Nem para provocar comparações vantajosas em favor do Brasil. Faço esta pergunta com humildade, como cidadão do mundo, que tem sua parcela de responsabilidade no que sucedeu – e no que possa vir a suceder com a humanidade e com o nosso planeta'.

- Podemos dizer que, nos últimos sete anos, o mundo caminhou no rumo da diminuição das desigualdades, das guerras, dos conflitos, das tragédias e da pobreza? Podemos dizer que caminhou, mais vigorosamente, em direção a um modelo de respeito ao ser humano e ao meio ambiente? Podemos dizer que interrompeu a marcha da insensatez, que tantas vezes parece nos encaminhar para o abismo social, para o abismo ambiental, para o abismo político e para o abismo moral? - indagou mais uma vez.

- Posso imaginar a resposta sincera que sai do coração de cada um de vocês, porque sinto a mesma perplexidade e a mesma frustração com o mundo em que vivemos. E nós todos, sem exceção, temos uma parcela de responsabilidade nisso tudo. Nos últimos anos, continuamos sacudidos por guerras absurdas. Continuamos destruindo o meio ambiente. Continuamos assistindo, com compaixão hipócrita, a miséria e a morte assumirem proporções dantescas na África. Continuamos vendo, passivamente, aumentar os campos de refugiados pelo mundo afora. E vimos, com susto e medo, mas sem que a lição tenha sido corretamente aprendida, para onde a especulação financeira pode nos levar - criticou.

E Lula pergunta também quantas crises serão necessárias para mudarmos de atitude. - Quantas hecatombes financeiras teremos condições de suportar até que decidamos fazer o óbvio e o mais correto? Quantos graus de aquecimento global, quanto degelo, quanto desmatamento e desequilíbrios ecológicos serão necessários para que tomemos a firme decisão de salvar o planeta? - acrescentou.

Em uma referência à tragédia no Haiti, Lula também pergunta: quantos Haitis serão necessários para que deixemos de buscar remédios tardios e soluções improvisadas, ao calor do remorso?

- Todos nós sabemos que a tragédia do Haiti foi causada por dois tipos de terremotos: o que sacudiu Porto Príncipe, no início deste mês, com a força de 30 bombas atômicas, e o outro, lento e silencioso, que vem corroendo suas entranhas há alguns séculos. Para este outro terremoto, o mundo fechou os olhos e os ouvidos. Como continua de olhos e ouvidos fechados para o terremoto silencioso que destrói comunidades inteiras na África, na Ásia, na Europa Oriental e nos países mais pobres das Américas - criticou.

O presidente brasileiro também deu a receita para o desenvolvimento. - A melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. Esta também é uma das melhores receitas para a paz. E aprendemos, no ano passado, que é também um poderoso escudo contra a crise. Esta lição que o Brasil aprendeu, vale para qualquer parte do mundo, rica ou pobre - afirmou.

Na conclusão do discurso, Lula enfatizou que está na hora do mundo recuperar sua capacidade de criar e sonhar.

- É hora de re-inventarmos o mundo e suas instituições. Por que ficarmos atrelados a modelos gestados em tempos e realidades tão diversas das que vivemos? O mundo tem que recuperar sua capacidade de criar e de sonhar. Não podemos retardar soluções que apontam para uma melhor governança mundial, onde governos e nações trabalhem em favor de toda a humanidade. Nós fomos eleitos para governar e temos que governar. Mas temos que governar com criatividade e justiça. E fazer isso já, antes que seja tarde. Não sou apocalíptico, nem estou anunciando o fim do mundo. Estou lançando um brado de otimismo. E dizendo que, mais que nunca, temos nossos destinos em nossas mãos. E toda vez que mãos humanas misturam sonho, criatividade, amor, coragem e justiça elas conseguem realizar a tarefa divina de construir um novo mundo e uma nova humanidade - concluiu.

Do Site Pátria latina - 31.01.10
Fonte: JB Online

Hitachi, junto com Camargo Corrêa e Odebrecht, quer o monotrilho de São Paulo

A companhia Hitachi, que construiu o monotrilho que liga a cidade de Tóquio ao aeroporto de Haneda, entre outros, já fechou parceria com as construtoras brasileiras Camargo Corrêa e Odebrecht para participar da concorrência para a construção desse transporte em São Paulo, obra prevista em mais de R$ 6 bilhões. Segundo Tetsuro Hori, gerente-geral de vendas globais da Hitachi, o consórcio tem condições de apresentar um preço bastante competitivo nos editais da cidade. As exigências de capacidade e segurança do governo e da prefeitura de São Paulo parecem se encaixar ao modelo de construção da Hitachi. Procuradas, Camargo Corrêa e Odebrecht confirmaram a formação do consórcio para São Paulo por meio de suas assessorias de imprensa.

Fora de São Paulo, a empresa japonesa também pretende concorrer no monotrilho de Manaus, que deverá ser incluído no pacote de transporte urbano com apoio do governo federal nas cidades-sede da Copa de 2014, e no Rio, onde a companhia imagina que serão necessários novos investimentos em mobilidade urbana para a Copa e a Olimpíada de 2016. Para esses, a empresa ainda não tem exclusividade com as empreiteiras.

Segundo Hori, toda a parte de construção civil do monotrilho de São Paulo deve ficar a cargo das construtoras brasileiras, o que equivale a cerca de 60% do custo da obra. Dos 40% restantes, que se relacionam principalmente ao material rodante, também uma parte da cadeia de fabricação poderá ser feita no país, deixando apenas os itens de maior tecnologia e especificidade para serem exportados do Japão.

Os transformadores elétricos, por exemplo, poderiam ser adaptados dos existentes no metrô paulista. O Metrô de São Paulo administrará o monotrilho, depois de pronto. Só o expressamente prioritário será feito no Japão, como o sistema eletrônico usado nas bifurcações, diz Hori. A possibilidade de importação quase total assusta a indústria brasileira de equipamentos, que apresentou reclamações ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo.

A Hitachi já fez mais de 80 quilômetros de linhas de monotrilho em sete diferentes obras, incluindo China, Cingapura e Dubai. Este, mais recente, terminado em agosto de 2008.

Segundo a empresa, é possível construir um monotrilho de 10 quilômetros, com dez estações e capacidade para 10 mil passageiros por dia em prazo de 28 meses. Mas os de São Paulo devem ser maiores do que esse modelo.

O consórcio Hitachi, Odebrecht e Camargo Corrêa não deve ser o único concorrente nos editais de São Paulo. Conforme publicado pelo Valor, as duas empreiteiras nacionais também se aproximam em outros empreendimentos, como o consórcio para disputar a construção da hidrelétrica de Belo Monte.

Do próprio Japão poderá surgir outro grupo competitivo, composto pela Mitsubishi, que já fez linhas em Chiba, na grande Tóquio, em Shonan e Ueno. O monotrilho da Hitachi tem uma diferença visual grande em relação ao da Mitsubishi, porque corre sobre trilhos colocados ao longo das vias. O da Mitsubishi corre sob vigas, como se estivessem pendurados. Também a francesa Alstom, a canadense Bombardier e a alemã Siemens já manifestaram interesse em concorrer no monotrilho paulista.

Atualmente, a Hitachi já disputa para construir uma linha em Bombaim, na Índia. Para São Paulo, porém, por causa da forte demanda e da falta de alternativas de transporte, seria construído um veículo com a maior capacidade já feito pela companhia, capaz de transportar até 1200 passageiros de uma só vez, ou até 600 mil pessoas por dia, em carro com velocidade máxima de 90 km/h. O projeto de São Paulo é muito desafiador, diz Hori.

São três diferentes projetos para a cidade de São Paulo. Dois estão em audiência pública. Os projetos envolvem o Metrô de São Paulo, a prefeitura e governo estadual. Um prevê 23,8 quilômetros de linha do monotrilho, ligando a estação Vila Prudente até a Cidade Tiradentes. Nesse, a prefeitura prevê orçamento de R$ 2,8 bilhões e média de 510 mil usuários por dia. Nessa linha, é exigida capacidade mínima de mil passageiros por viagem e extensão máxima de 90 metros.

O segundo edital em audiência é o do monotrilho de 21,5 quilômetros, que ligará o aeroporto de Congonhas a três diferentes linhas do metrô, previsto em R$ 3,1 bilhões. Serão 20 estações nesse sistema, que deve ter demanda menor do que o primeiro. Ele poderá ter recursos federais, se houver expansão até o estádio do Morumbi, para facilitar o acesso durante a Copa.

O terceiro projeto, em fase mais embrionária, terá 8,4 km de extensão e ligará os bairros da Cachoeirinha e Lapa, por onde passam trens da CPTM. Este tem custo estimado em R$ 1 bilhão.

Uma ação do Tribunal de Contas do Estado (TCE), porém, mantem suspenso temporariamente o edital do monotrilho que vai estender a linha verde do metrô à Cidade Tiradentes. No tribunal, havia reclamação do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), que teme que grande parte dos recursos da obra vá para fora.

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), já visitou o sistema de monotrilhos de Tóquio e os japoneses estiveram no Brasil em novembro. Em Tóquio, o monotrilho liga a malha do metrô ao aeroporto de Haneda, o mais antigo. O aeroporto passa por um projeto de ampliação, que deverá ser acompanhado pela expansão da linha do monotrilho até outubro.

O monotrilho japonês permite inclinação de 6% no trilho (a cada 100 metros, sobe ou desce 6 metros) e curvas de raio de até 50 metros, combinando com as exigências brasileiras. O material rodante tem suspensão a ar e rodas sólidas. Uma sala de controle monitora eletronicamente e via câmeras todas as estações.

Segundo a Hitachi, o custo de construção desse veículo é cerca de um terço da do metrô, de 5 bilhões a 15 bilhões de ienes por quilômetro (entre R$ 100 e R$ 300 milhões), em comparação ao do metrô, que é de 15 bilhões a 30 bilhões de ienes por quilômetro. Kassab estimou o custo dos monotrilhos em São Paulo em mais de R$ 100 milhões por quilômetro. O metrô, porém, tem capacidade para transportar quatro vezes mais passageiros.

Os japoneses destacam, ainda, que a emissão de CO2 do monotrilho é um quarto da feita pelos ônibus.

Os monotrilhos urbanos têm sido introduzidos no espaço das rodovias existentes e desempenham um papel suplementar no trânsito das rodovias. No Japão, o estado subsidia a obra por não cobrar pelas áreas de construção.

Os projetos japoneses costumam vir acompanhados de um investimento nos arredores das estações, para facilitar o acesso dos usuários. São instalados, por exemplo, estacionamentos para automóveis e bicicletas nas estações, além de fazer com que mais linha de ônibus passem por elas. O governo japonês também controla o desenvolvimento imobiliário nos arredores, para evitar expansão desordenada. São Paulo já prevê bicicletários nas estações do monotrilho.

A construção de uma linha de vem acompanhada, no Japão, por novos planejamentos urbanos, tanto em infraestrutura e capital humano. Na parte de infraestrutura, normalmente, são construídos hospitais, universidades e outros órgãos públicos, além de projetos para educar os cidadãos a usar mais os sistemas de transporte público no lugar do automóvel, apresentando suas vantagens particulares e sociais.

O monotrilho também foi um dos modais de transporte público adotado no planejamento da cidade de Tama, na grande Tóquio. Com o crescimento da capital, a cidade vizinha foi uma alternativa para expansão. O desenvolvimento em grande escala de Tama Newtown foi promovido pelo governo nacional e local. Com o monotrilho e outros sistemas de transporte ali, cresceram os números de condomínios e estabelecimentos comerciais na cidade, enquanto a área agrícola ficou bastante reduzida.

Falar em números crescentes no Japão costuma ser exceção, num país onde a economia, apesar de desenvolvida, está estagnada há décadas e a população tende a cair pela baixa taxa de natalidade. Ainda assim, em Tama, o número de condomínios cresceu 40% entre 1986 e 2002.

Do Site do Vereador Chico Macena - 29.01.10

Danilo Fariello, de Tóquio
29/01/2010

Fonte: Valor Online

29 de jan. de 2010

Paulistanos reprovam educação na cidade

Por Simone Harnik, no UOL
Em São Paulo

A educação da cidade de São Paulo merece nota vermelha, na opinião dos paulistanos. Ela recebeu nota 5, em uma escala de 1 a 10 (a média seria 5,5), de acordo com uma pesquisa do Ibope Inteligência, feita a pedido do Movimento Nossa São Paulo.

Os dados foram divulgados nesta terça-feira (19) e fazem parte do Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município). A ideia é medir o nível de satisfação dos moradores da cidade.

A presença de manifestações culturais nas escolas também foi considerada insuficiente pelos entrevistados, e recebeu nota média de 5 pontos. Já a inclusão de portadores de deficiências na rede escolar foi considerada ainda pior: a nota média da cidade foi de 4,3.

A sensação de desigualdade também paira no ambiente escolar. Os paulistanos se mostraram insatisfeitos com o acesso à rede, e deram nota 4,3 para o quesito.

Somente entre os usuários da educação e suas famílias, a opinião é mais favorável aos serviços municipais. Veja as médias na tabela ao lado.

O objetivo do Irbem é formar um conjunto de indicadores que servirão para que a própria sociedade civil, governos, empresas e instituições conheçam as condições e os modos de vida dos cidadãos.

Na primeira fase do processo de formulação do índice foi realizada uma consulta pública pela internet que contou com a participação de 37 mil cidadãos de toda São Paulo. Eles informaram que itens consideravam importantes para a pesquisa.

Com isso, foi realizada uma consulta de 2 a 16 de dezembro de 2009, com 1.512 habitantes de São Paulo com 16 anos ou mais. O Ibope Inteligência, responsável pela medição, estima que a margem de erro seja de três pontos percentuais para cima ou para baixo.

Do Blog Boca no Trombone - 28.01.10

Azenha - Vi o Mundo - 28.01.10

iPad deve acabar com Kindle e ajudar jornais online

O iPad, novo lançamento da Apple, deve, a médio prazo, acabar com o Kindle, o livro digital da Amazon, e, de quebra, "ajudar" toda a imprensa mundial a se reerguer de uma grave crise financeira, por ser uma plataforma tida como "ideal" para a leitura de jornais online. Essas são as apostas de especialistas em mídia e tecnologia depois de conhecerem a nova criação do "mago" Steve Jobs, diretor executivo da Apple.

Para início de conversa, o iPad, destacam os analistas, vai muito além do Kindle já por oferecer cor e vídeo. A aposta é que o aparelho possa reformular o setor editorial da mesma maneira que o iPod mudou a música, com uma loja virtual de livros e textos como a iTunes. A indústria de discos nunca mais foi a mesma depois do lançamento dessa plataforma.

Chama-se iBooks Store a loja de livro eletrônicos à qual o iPad estará conectado. Ela será lançada em parceria com cinco grandes editoras americanas (Penguin, HarperCollins, Simon & Schuster, Macmillan, e Hachette Book Group). Steve Jobs não perdeu a oportunidade de dar uma alfinetada na concorrência. "A Amazon foi pioneira e fez um ótimo trabalho com o Kindle. Mas nós vamos além".

Com relação ao impacto do iPad na imprensa, investidores e analistas estão cautelosamente otimistas quanto às perspectivas para grupos editoriais como Time Warner, Conde Nast, New York Times e HarperCollins, parte da News Corp. E não foi à toa que uma das primeiras funções destacadas por Steve Jobs na apresentação do iPad foi a da leitura de um jornal na internet - ele acessou a página do New York Times e, usando o visor sensível ao toque, moveu para baixo e para cima o cursor, mostrando como é fácil e prático ler as notícias no novo aparelho. O velho jornal no papel parece estar mesmo com os dias contados.

Mike Vorhaus, presidente da Magid Advisors, empresa de consultoria especializada em mídia, alerta que o iPad deve ser apenas parte da solução para a fuga de leitores em busca do conteúdo mais barato oferecido na Web. Os grupos editoriais já estão desenvolvendo estratégias mais amplas que incluem celulares inteligentes e outros aparelhos.

"Não é uma bala de prata, é uma bala de bronze. E será necessário um M-16 cheio delas", disse Mike Vorhaus, que estima que o tablet possa elevar em 10 a 20 por cento a receita digital dos grupos editoriais.

Estas megacompanhias estão muito conscientes do dano que a loja digital de música iTunes, da Apple, causou às gravadoras, ao ditar preços e permitir que os consumidores adquirissem as faixas individuais desejadas, o que destruiu as vendas de álbuns.

Para antecipar o tablet, Time Warner, News Corp, Conde Nast, Meredith e Hearst anunciaram em dezembro planos para uma loja digital apelidada de "Hulu para revistas", que promoveria a venda de versões eletrônicas de todos os seus títulos.

É por essas e outras que o iPad pode se tornar um marco - uma ferramenta não apenas de interativdade, com e-mail e acesso fácil a redes sociais, mas também de entretenimento e informação, com livros, filmes e música portáteis e de possibilidades infinitas.

Isto é iPad:
- Tela sensível a toque de 9,7 polegadas;
- Versão de 16 gigabytes custará 499 dólares nos Estados Unidos, de 32 GB sairá por 599 dólares, e de 64 GB por 699 dólares;
- Capacidade sem fio 3G custará valor adicional de 130 dólares;
- A operadora AT&T terá um plano de transmissão de dados com preço mensal de 14,99 dólares por 250 MB, outro de 29 dólares para acesso ilimitado;
- Bateria tem duração de 10 horas e de 1 mês em "standby";
- Espessura de 1,3 centímetro, peso de 680 gramas;
- Conexão WiFi e Bluetooth, permite visualizar informações na tela nos modos horizontal e vertical;
- Opera com um sistema operacional que é uma variação do software do iPhone. Segundo a Apple, todos os aplicativos do iPhone funcionam no iPad;
- Suporta o iWork, pacote de aplicativos da Apple que compete com o Office da Microsoft;
- Equipado com chip A4 de 1GHz da Apple;
- Modelos com WiFi começarão a ser vendidos no fim de março e aparelhos com 3G em abril.


28 de jan. de 2010

Uso e abuso dos professores

Do Correio da Cidadania - 27.01.10

Escrito por Gabriel Perissé
27-Jan-2010

Li na Folha de S. Paulo, no dia 23 de janeiro de 2010, matéria assim intitulada: "SP admite ter de usar professor reprovado".

O verbo "usar" entra pelos olhos, assalta as mentes, espanca o coração, cai torto no estômago e nos faz mal.

O verbo "usar", bem conhecemos. Eu, você, todos nós usamos o verbo "usar". Usamos e abusamos. Faço uso desse verbo porque muitas coisas eu aprendi a usar.

Uso roupa, uso computador, uso escada para subir, uso papel para escrever, uso dinheiro para comprar, uso carro para me transportar, uso de tudo que é lícito para viver humanamente.

Usar não é errado quando uso e manipulo o que é usável e manipulável: objetos a meu dispor, simples ou complexos, caros ou baratos, de qualidade ou vagabundos.

Mas usar pessoas, isso não; isso é demais da conta. Usar pessoas, jamais! Usar alguém para escalar. Usar alguém para ganhar. Usar alguém para gozar. Usar alguém para vencer. Usar alguém é coisa que ninguém deveria fazer. Usar alguém não é do bem. Usar alguém faz mal, e faz mal aos dois: a quem é usado, e também àquele que usa!

Dirão, talvez, que entendi mal. Que o título da matéria não tem maldade. Que "usar" é assim mesmo, usamos sem pensar. Que temos aí um modo de escrever inofensivo. Que estou exagerando a força da palavra. Que estou usando mal a minha capacidade de ler o jornal. Que estou vendo coisas.

Contudo, lá está, a matéria diz: os professores reprovados serão usados. Usados, concluo, porque foram reprovados. E foram reprovados porque sempre foram usados. Porque têm sido objeto de uso e abuso.

O professor fez a prova e foi reprovado. O que será que essa prova provará? Será essa prova eliminatória ou "humilhatória"? O governo de São Paulo garante que o professor, mesmo reprovado, será usado. E ele, o professor, que já se habituou a ser usado faz tanto tempo, voltará a ser temporário. Por quanto tempo?

Usado e mal pago, de manhã, à tarde e à noite, o professor se sente manipulado como uma coisa. Sem aplauso, excluso, mero parafuso, o professor aceita ser usado.

E aqueles que, useiros e vezeiros em usar os professores, humilham o docente, provam, na verdade, que não sabem servir a sociedade. E se não vivem para servir, para que servem?

Gabriel Perissé é Doutor em Educação pela USP e escritor.

Website: http://www.perisse.com.br/

Ambientalista: Represas do Alto Tietê estavam cheias antes do período das chuvas


Prof. Luis - Blog Olhos do Sertão - 27.01.10

Por Conceição Lemes - Vi o Mundo - 27.01.10

Sábado, 23 de janeiro. De barco, esta repórter percorreu, das 11 às 15hs, cerca de 7 quilômetros do rio Tietê na região do Pantanal. Primeiro, em companhia do líder comunitário Francisco Amaro Gurgel, coordenador do Movimento em Marcha. Depois, com Pedro Guedes, da Associação dos Moradores da Vila da Paz e do Movimento Unificado dos Moradores da Várzea do Tietê.

Passamos pelo Jardim Romano, Vila Aimorés, Fazenda Biacica, Cotovelo do Pantanal, Pantanal, vilas São Martins, da Paz, das Flores e Chácara Três Meninas. Não choveu durante o trajeto. Mas a correnteza maior – inabitual nesse trecho – chamou nossa atenção.

“O nível do rio também está bem mais alto”, acrescentou o barqueiro Sérgio Silvério Ferz, que fizera o mesmo percurso 15 dias antes.

Guedes reforçou: “Realmente, o Tietê subiu. Aqui, ele costuma ser ‘manso’ mas hoje [23 de janeiro] não está nem um pouco”.

Mal sabíamos que eram primeiros os alertas de um novo infortúnio. Nas horas seguintes, o Tietê transbordou e o Pantanal inundou muito mais do que em 8 de dezembro de 2009. As águas avançaram sobre pontos até então livres de alagamentos. Entre eles, a avenida de ligação de São Paulo com Guarulhos pela Vila Any e a rua Gruta das Princesas, percorridos pela repórter no sábado anterior com Ronaldo Delfino, do Movimento de Urbanização da Legalização do Pantanal (as fotos abaixo são dele).



Ligação de São Paulo com Guarulhos pela Vila Any: em 16 de janeiro, sequinha, no dia 24...



GRuta_das_Princesas.jpg

Rua Gruta das Princesas, onde fica o Colégio estadual Flávio Augusto Rosa. A inundação do sábado, 23 de janeiro, alagou inclusive a escola.

“Saí de casa no sábado, às 2 da tarde, estava seco. Voltei às 7, com água no joelho”, conta Maria das Mercedes Cavalcanti, 55 anos, sete filhos, que mora há quatro quadras do CEU do Jardim Romano. “Liguei para cá às quatro e meia, a minha casa já estava enchendo, ela nunca inundou. A água chegou até a coxa. Hoje, ainda está no joelho.”

“Ainda está tudo cheio. Nunca vi isso. Um conhecido nosso, o ‘seo’ Antonio, acabou de sair daqui. Perdeu tudo”, lamenta Maria Lúcia Farias, esposa de Ronaldo. “No sábado, a casa dele que não tinha enchido antes ficou com mais de 1 metro de água. ‘Seo’ Antonio e a família saíram com a roupa do corpo”.

“A parte da rua onde eu moro já estava alagada desde dezembro, mas a minha casa, não. Porém, desde sábado, estamos com água em todos os cômodos. Ficamos ilhados. Tive de chamar um guincho para tirar o carro, se não estragaria”, indigna-se Gurgel. “Como é o que o governo do Estado de São Paulo deixa a comunidade nessa situação e não se manifesta?”

“Desde a madrugada de domingo, colegas ligam desesperados, com água na altura do peito”, relata Ronaldo. “Estamos sem saber o que fazer nem o que começou a acontecer a partir de sábado. Pela nossa experiência não são as chuvas. Ouvi dizer que abriram as comportas das barragens do Alto Tietê, mas ninguém nos alertou nada antes.”

“O Pantanal inundou, de novo, porque as barragens do sistema do Alto Tietê estão excessivamente cheias para o verão, e a Sabesp abriu as comportas, contribuindo para alagar ainda mais região”, denuncia o economista e ambientalista José Arraes. “É uma irresponsabilidade a Sabesp e o Daee terem deixado a cheias chegar, para começarem a descarregar água dos seus reservatórios. É um crime. É um erro tremendo de gerenciamento”

Há 13 anos as enchentes em Mogi das Cruzes, município da Grande São Paulo, levou o ambientalista a se interessar pela questão de recursos hídricos. Ajudou a solucionar o problema do seu bairro e não parou mais. Atualmente, é membro do Comitê da Bacia do Alto Tietê, do Subcomitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê e do conselho gestor da APA (Area de Proteção Ambiental) da várzea do Tietê.

Viomundo – O senhor já fez essa denúncia aos órgãos públicos?

José Arraes – Claro. Denunciamos à Sabesp e ao Daee [Departamento de Águas e Energia Elétrica], órgãos do governo do Estado de São Paulo, que as barragens do Alto Tietê estavam excessivamente cheias para o verão. Fizemos isso no final de 2009.

Viomundo – E aí?

José Arraes – Nenhuma providência foi tomada. Aliás, em 2009, duas coisas muito estranhas ocorreram no gerenciamento das barragens do Alto Tietê. No início do ano, a Sabesp e o Daee praticamente secaram o Tietê e encheram os reservatórios. Em Mogi das Cruzes, o rio ficou vários meses com apenas 20 centímetros de lâmina de água. No final do ano, as barragens estavam muito lotadas para a época. Há 13 anos acompanhamos esse processo e sabemos que o Daee e a Sabesp reservam cotas nas barragens, prevendo as cheias do verão. Em 2009, não fizeram isso. Resultado: chegamos a dezembro com a quase a totalidade das principais barragens cheias. Um absurdo!

Viomundo – Por que a Sabesp e o Daee mantiveram as barragens lotadas?

José Arraes – Eu desconfio de um destes esquemas. Primeiro: para não faltar água para a Região Metropolitana de São Paulo. Assim, pode ter havido determinação governamental para estarem na cota máxima. Segundo: a Sabesp e o Daee já estarem aumentando o volume das represas, visando aumentar a produção da Estação de Tratamento de Água Taiaçupeba de 10 metros cúbicos por segundo para 15 metros cúbicos por segundo (10m³/s para 15m³/s) . Terceira: a privatização do Sistema Produtor de Água do Alto Tietê – chamado SPAT. Hoje é um consórcio de empresas privadas que regula, administra, mantém e fornece as águas que estão represadas nessas barragens.

Viomundo – Por favor, explique melhor isso.

José Arraes – Existe um consórcio de empresas – entre elas, uma empreiteira conhecida na nossa região, a Queiroz Galvão –, que hoje gerencia as águas reservadas nas represas em uma parceria público-privada. Toda a água represada em todas as barragens do Sistema do Alto Tietê são gerenciadas por esse consórcio. Quanto mais cheias as represas, mais interessantes para o consórcio. Interesse comercial, nada mais do que isso.

Viomundo – Quer dizer que as águas das barragens do Alto Tietê estão privatizadas?

José Arraes – Sim. As empresas do consórcio fazem a conservação das barragens e a intermediação com a necessidade da Sabesp que a trata e remete para a população. Logo, para o consórcio de empresas, quanto mais cheias estiverem as barragens, mais água fornece para a Sabesp. Mais ganhos financeiros, portanto.

Viomundo – Qual das três hipóteses é a mais provável?

José Arraes – Talvez a combinação das três. Cabe ao Ministério Público investigar. O fato é que as barragens do Alto Tietê estão excessivamente cheias e as comportas estão sendo abertas, contribuindo com as inundações em toda a calha do rio até a região do Pantanal.

Viomundo – Quantas barragens há no Sistema Alto Tietê?

José Arraes – Temos cinco: Paraitinga, Biritiba-Mirim, Ponte Nova, Jundiaí e Taiaçubepa, onde existe também uma estação de tratamento de água da Sabesp. As barragens são como caixas d’água para a cidade de São Paulo.

Viomundo – Qual a capacidade de cada uma?

José Arraes – A de Paraitinga [município de Salesópolis], tem capacidade para 37 milhões de metros cúbicos, e está com 92% da sua capacidade. A de Biritiba-Mirim [no município do mesmo nome], 35 milhões de metros cúbicos, está com 94%. A de Jundiaí [fica em Mogi das Cruzes], 84 milhões de metros cúbicos e 97% de cheia. A de Ponte Nova, 300 milhões de metros cúbicos; está com 73%. A de Taiaçubepa [entre Mogi das Cruzes e Suzano] tem capacidade para 82 milhões de metros cúbicos, está com 73% de cheia.

Viomundo – Quais estão soltando água?

José Arraes – Todas. No sábado, 23 de janeiro, a de Paraitinga estava vazando 5m³/ A de Jundiaí, 2m³/s. Biritiba-Mirim, 1m³/s. Taiaçupeba, 5m³/s. A de Ponte Nova, 0,5m³/s.

Viomundo – Mas as barragens normalmente liberam água o tempo todo?

José Arraes – Liberam, mas em pouquíssimas quantidades. É para o rio não perder as suas características. Em condições normais, liberam entre 0,5m³/s a 2 ou 3m³/s, no máximo.

Viomundo – Então quanto está sendo vazado?

José Arraes – Se você somar as vazões de Paraitinga, Taiaçupeba, Jundiaí e Biritiba-Mirim, são 12m³/s. É bem maior que os 10m³/s que a Sabesp está tratando em Taiaçupeba. É uma enormidade de água. Para você ter uma dimensão do volume, você abastece toda a cidade de Mogi, que tem 400 mil habitantes, com 3m³/s.

E o mais complicado é que as barragens de Paraitinga, Biriba-Mirim, Jundiaí e Taiaçupeba vazam para rios afluentes diretos do rio Tietê. É por isso que o Pantanal está cheio. As águas vazadas já chegaram até aí. Se você libera pouca água no rio, não causa transtorno nenhum. Agora, o transtorno é liberar 5, 6, 12m³/s no rio. É água demais! Acrescida das quantidades das chuvas deste verão, piora a situação.

Viomundo – É preciso liberar as águas das barragens?

José Arraes – Agora, tem de abrir as comportas, não tem outro jeito, pois as barragens estão cheias e vão transbordar. O grande erro foi deixar as barragens acumularem tanta água antes das chuvas do verão. No momento, estão tendo de soltar muita água.

Viomundo – Ou seja, estão abrindo as comportas na época errada. Quando isso deveria ter começado?

José Arraes – O normal seria o vazamento controlado ter começado por volta de agosto, setembro, para que, agora, no verão, as barragens estivessem mais vazias para receber as águas das chuvas e não transbordar.

Viomundo – Não fizeram isso?

José Arraes – Não, não fizeram. Ou se fizeram, não foi corretamente. O fato é que as nossas barragens não poderiam chegar à época de chuvas com 90% da sua capacidade preenchida. De forma que o Pantanal provavelmente ainda vai ter muita enchente, porque as chuvas vão continuar. A Sabesp e o Daee não vão parar de vazar agora, pois há risco de essas barragens extravasarem e inundar toda a região de Mogi das Cruzes, Paraisópolis, Ferraz de Vasconcellos, Suzano, Biriti-Mirim e até São Paulo.

Viomundo – É verdade que essas barragens podem se romper se as comportas não são abertas?

José Arraes – Romper, eu não acredito. Mas poderiam extravasar, ou seja, passar por cima da barragem. Se isso acontecer, você pode perder o controle da vazão. Diferentemente de quando você abre as comportas e limita a vazão do quanto é necessário. Por isso, a nossa preocupação é também com o extravasamento dessas barragens. Elas podem encher tanto que a água começará a passar por cima dos vertedouros. Isso é perigoso. Se vier a acontecer, as águas chegariam fatalmente a São Paulo.

Viomundo – A Sabesp alega que as barragens foram mantidas cheias, por causa do risco de estiagem em 2009. Há também quem diga que não se poderia ter bola de cristal para prever as chuvas dos últimos dias.

José Arraes – Balela. A Sabesp e principalmente o Daee têm o registro das chuvas dos últimos 20, 30 anos. Todos sabem que são cíclicas. De cinco em cinco, de dez em dez anos, há um período de chuvas mais fortes. Então a Sabesp e o Daee deveriam ter se prevenido há muito mais tempo. Eu acho que não tem perdão para o que está acontecendo. É falta de gerenciamento mesmo.

Viomundo – Com que volume as barragens deveriam ter entrado na estação chuvosa?

José Arraes – Do jeito que está chovendo este ano, elas deveriam estar bem baixas. Questão de prevenção. Há cálculos matemáticos para se estabelecer esses níveis, mas eu não saberia fazê-los e te dizer quanto.

Viomundo – Será que pensaram que São Pedro fosse dar uma mãozinha para São Paulo?

José Arraes – Como poderiam aguardar a ajuda de São Pedro, se a Sabesp e o Daee sabem que chove bastante de períodos em períodos. Foi uma grande irresponsabilidade.

Viomundo – A Sabesp e o Daee só se preocuparam com o abastecimento de água e se descuidaram das enchentes?

José Arraes – Aparentemente é o que aconteceu. Lembre-se de que a água tratada gera lucro.

Viomundo – A região do Pantanal encheu, de novo, de repente, a partir do sábado no final da tarde. Para isso ter ocorrido no sábado, quando as comportas começaram a ser abertas?

José Arraes – O dia exato eu não saberia dizer, mas foi mais ou menos há 20 dias. Foi mais ou menos quando o governador José Serra noticiou que havia autorizado a abertura das comportas.

Viomundo – Demora tanto tempo para chegar aqui embaixo, na capital, na região do Pantanal?

José Arraes – Demora. Não é imediatamente. O Tietê é um rio de planície, não tem velocidade e correnteza. Tem uma vazão muito pequena. Quando são abertas as comportas, as águas demoram mais ou menos 10 a 15 dias para chegar a São Paulo, dependendo ainda do assoreamento do rio. O fato é que as comportas já estão abertas há vários dias.

Viomundo – Conversei com várias lideranças comunitárias sobre isso. Nenhuma foi comunicada da abertura das comportas. Segundo Ronaldo Delfino, do Pantanal, talvez a Defesa Civil também não tenha sido alertada, pois muitos moradores acionaram-na e não foram socorridos. Ligavam, ligavam, ligavam, só dava ocupado, “como se o telefone estivesse fora do gancho”.

José Arraes – Infelizmente, em geral, as populações não são comunicadas com antecedência. São alertadas pela televisão, mas só DEPOIS. É um erro muito grave, que pode custar vidas.

Viomundo – Pelo noticiário, as chuvas dos últimos dias são apontadas pelas autoridades como as responsáveis pela nova e maior inundação do Pantanal. O que o senhor acha?

José Arraes – As chuvas podem até ter contribuído, mas a causa mais importante dessa nova inundação é que as barragens do sistema do Alto Tietê estão vazando água. E como Tietê está assoreado, o rio extravasa, inundando a várzea.

Viomundo -- Reportagem publicada pelo Viomundo denunciou que o Tietê da barragem da Penha até o Cebolão pode ter ficado sem ser desassoreado em 2006, 2007 e 2008 (até outubro) e contribuído para as enchentes históricas de 8 de setembro e 8 de dezembro? Como está o rio acima da barragem da Penha?

José Arraes – De Biritiba-Mirim até barragem da Penha está um horror, todo assoreado. Há muitos anos não são retirados os resíduos acumulados no fundo do Tietê. São mais ou menos uns 70 quilômetros de extensão. É um Deus nos acuda tentar convencer os órgãos do governo do Estado de que é preciso desassorear o rio.

Viomundo – O que fazer agora?

José Arraes – O que o Daee e a Sabesp estão fazendo é fruto de uma irresponsabilidade total. Nós temos denunciado isso, mas a nossa voz ainda é muito incipiente. Até as autoridades do governo do Estado levarem em consideração o que dissemos mais inundações ocorrerão, mais pessoas perderão pertences, algumas até a própria vida. O único caminho que nós temos é denunciar ao Ministério Público do Estado. Se for o caso, até ao Ministério Público Federal. É, insisto, o nosso único caminho.

26 de jan. de 2010

Lula assina MP que dá quase R$ 1 bi a atingidos por catástrofes no Brasil e Haiti

Eduardo Bressiani - G1 Brasília - 26.01.10

R$ 375,9 bilhões vão para país atingido pelo terremoto, diz Presidência.
Outros R$ 384,1 milhões vão para municípios por perdas com arrecadação.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta terça-feira (26) uma medida provisória que destina R$ 989,9 milhões para atender as vítimas das chuvas no Brasil e do terremoto no Haiti, que devastou a capital do país, Porto Príncipe. Segundo a Presidência da República, R$ 614 milhões serão destinados para atender as vítimas das catástrofes no Brasil. Em relação ao Haiti, o montante liberado é de R$ 375,95 milhões.

Foto: REUTERS/Carlos Barria e Patricia Kappen/G1

Rua devastada por terremoto em Porto Príncipe, Haiti (esquerda) e deslizamento em Ilha Grande, no Rio (Fotos: Reuters e Patricia Kappen/G1)

No Brasil, o Ministério da Integração Nacional ficará com R$ 394 milhões para atender diretamente as vítimas e recuperar a infraestrutura das áreas atingidas. Outros R$ 150 milhões serão direcionados ao Ministério das Cidades para a construção e a reconstrução de casas para pessoas de baixa renda afetadas pelas enchentes e deslizamentos. A pasta da Agricultura terá ainda R$ 70 milhões para a recuperação de pequenas estradas que escoam a produção rural e foram destruídas por enchentes.

Em relação ao Haiti, o montante liberado é de R$ 375,95 milhões. A maior parte dos recursos, R$ 205 milhões, ficará com o Ministério da Defesa. Este valor, segundo a Presidência, será para reforçar a missão de paz liderada pelo Brasil no país. O dinheiro será empregado na compra de combustíveis e lubrificantes para transporte de donativos, na recuperação de uma base de fuzileiros navais, no uso de dois navios e na substituição de equipamentos destruídos pelo terremoto.

Para o ministério de Relações Exteriores, o montante reservado foi de R$ 35,3 milhões. De acordo com a Presidência, o Itamaraty usará estes recursos para conceder apoio financeiro à implementação de ações de cooperação e de projetos humanitários no Haiti. Entre esses recursos do Ministério de Relações Exteriores estão os US$ 15 milhões que serão doados ao país da América Central. Outros R$ 600 mil serão destinados à área de inteligência da Presidência da República, que coordena um gabinete de crise sobre o terremoto.

O Ministério da Saúde terá ainda R$ 135 milhões para ações no Haiti. Segundo a pasta, o dinheiro será usado para a construção de unidades de pronto-atendimento no país e auxiliar na estruturação de um sistema de saúde

Crise internacional

A MP destina ainda outros R$ 384 milhões ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para compensar perdas de arrecadação das prefeituras devido à crise econômica internacional.

25 de jan. de 2010

PAC - 2 terá linha de crédito para banda larga

O Programa Banda Larga nas Escolas já conectou mais de 70% das 56.720 escolas públicas urbanas do país. O PAC agora quer incluir toda a população

Gerusa Marques - O Estado de S. Paulo - 21.01.2010

O Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2), que deverá ser lançado até o fim de março, terá uma linha de crédito específica para a expansão da banda larga no País. Esse será o primeiro projeto do setor de telecomunicações a ser incluído no PAC. A informação foi dada ontem pelo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, depois da reunião ministerial na Granja do Torto.

Padilha não antecipou qual será o montante a ser investido na banda larga. Disse que a ideia é garantir a toda a população acesso à internet em alta velocidade, investindo em equipamentos e infraestrutura. Os valores serão definidos depois que a área econômica do governo fizer uma análise de todos os projetos incluídos no PAC-2.

Já houve aceno do governo para a liberação dos recursos que serão recolhidos a partir de 2010 ao Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), que são em torno de R$ 1 bilhão ao ano. O ministro disse também que não foi discutida, na reunião, a modalidade de execução do Plano Nacional de Banda Larga – se será feita por meio de uma parceria com as empresas privadas do setor, ou se haverá investimento apenas do governo.

ETANOL

Padilha relatou que, na reunião, o presidente Lula mostrou preocupação especial com investimentos em usinas termoelétricas que utilizem etanol. Nesta semana, Lula inaugurou, em Juiz de Fora (MG), a primeira usina termoelétrica que utiliza etanol como combustível.

Do Blog do Favre - 22.01.10

21 de jan. de 2010

PV-PSDB: Marina fantoche de Serra?

O PV azul e amarelo

O partido cunhado por ideais progressistas, que abriu os olhos da sociedade para um tema quase inacessível e teve papel importante em questões ambientais, não é mais o mesmo.

No Rio o partido deu mais um passo para a coligação com PSDB e mostra que, hoje, sua direção ainda mais azul e amarela (cor tucana) do que verde. Marina Silva deverá subir no palanque de Gabeira, Serra no palanque do Vice-de-gabeira.

Toda essa farofa por quê?

O único partido que se beneficiará nessa coligação, que até agora é PV-PSDB-DEM, seria o partido tucano... apesar de o Rio de Janeiro não eleger um candidato Psdebista há anos, o partido tem muita força nas câmaras de deputados e na assembléia legislativa.

Pois bem, Serra subirá no palanque do Vice de Gabeira e do governador de Caxias, Zito...

E Marina?

Corre o risco da senadora apenas servir de degrau para Serra, dividindo votos da esquerda e dando o primeiro turno para o governador paulista.

Ainda não entendi o jogo de Marina Silva, por sua vasta história política, saiu do PT alegando incompatibilidade de visões e visando outros campos, onde o desenvolvimento sustentável fosse encarado com seriedade.

Hoje parece estar funcionando de marionete do partido de FHC e de Serra, uma contradição para quem conhece o perfil da senadora.

Serra se diz empenhado em assuntos ambientais: Podemos ver isso no tratamento do Tietê e o saneamento do estado. Se a imprensa sub-noticia o caos, as chuvas mostraram a realidade.

O PV de hoje abriga integrante da mesma família Sarney que os tucanos, a imprensa e a sociedade passaram a condenar. Contudo Sarney Filho foi ministro de Meio Ambiente do governo FHC, sem nenhum incômodo para o PSDB, muito menos para os noticiários.

O que Sarney Filho fez pelo Meio Ambiente que não fosse obrigações de acordos internacionais que o Brasil foi signatário? Pouco ou nenhuma medida voluntária foi tomada.

As contradições do partido (definido por Marina Silva como não sendo de direita, nem de esquerda, mas progressista), são várias e não parte apenas de aloprados do partido, mas de dirigentes e figuras muito conhecidas.

O presidente regional do partido Alfredo Sirkis, defendeu em matéria no jornal O Globo publicada em janeiro de 2010, que o passado de repressão e tortura deveria ser esquecido. Contradizendo todos os Mov. pelos Direitos Humanos e engrossando coro com PSDB-DEM.

E tem o Gabeira!!!! Já votei nele... confesso.
O jornalista Rodrigo Viana classificou o pré-candidato como "aquele que deu um verniz "pop" à velha direita moralista".

A dupla PV-PSDB é histórica em SP, onde o PV é o "PSDB para quem nunca votaria em tucanos".

No Rio essa dobradinha na candidatura para o executivo é novidade, foi inaugurada na última disputa para a prefeitura da cidade por Gabeira. Com apoio velado de Cesar Maia.

Saulo Machado - Portal Luis Nassif - 21.01.2010

18 de jan. de 2010

AI-5 em São Paulo - Polícia do Serra invade o Sindicato dos Jornalistas e intimida ato público



O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, indignado, lamenta e protesta contra a invasão realizada na noite do último dia 14 por Policiais Militares, durante realização de ato em defesa do III Plano Nacional de Direitos Humanos, que tinha nítida tentativa de intimidar os participantes.

A intimidação já havia ocorrido por volta do meio-dia durante a entrega protocolada de carta à presidência da República no seu escritório de São Paulo, na esquina da avenida Paulista e Rua Augusta A PM por duas vezes exigiu saber “o nome dos responsáveis” pelo evento – do qual participaram cerca de 30 pessoas e foi totalmente pacífico.

Mais tarde, por volta das 18 horas, um sargento da PM veio à sede do Sindicato para saber que tipo de ato estava sendo preparando para a noite. Depois de receber explicações de que se tratava de cerimônia interna, o sargento pediu o número da carteira de identidade do nosso diretor André Freire – o que já é um abuso.

À noite, por volta de 21 horas, com o auditório lotado por cerca de 200 pessoas, dois PMs, fardados, invadiram o auditório e disseram “estar cumprindo ordens superiores”. Foram convidados a sair.

Diante disso, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo exige das autoridades da Segurança Pública no Estado de São Paulo que dêem uma resposta a este abuso de autoridade que nos lembra os velhos costumes da ditadura, que não podemos aceitar de maneira alguma.

Aguardamos audiência com o secretário de Segurança para saber de quem exatamente partiu essa ordem, para que seja responsabilizado por tamanho arbítrio. Link aqui

José Augusto Camargo

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo

"É descabido o tamanho da reação contrária. Ela só demonstra a intransigência de certos grupos em debater o tema. Eles não querem nem ao menos abrir a possibilidade de que esses assuntos sejam discutidos pela sociedade brasileira”, disse o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, José Augusto Camargo (Guto), durante manifestação em defesa do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH) e constituição da Comissão da Verdade, realizada na última quinta-feira (dia 14) no auditório Valdimir Herzog, do Sindicato e na avenida Paulista.

Por Helena - Os amigos do Lula - 18.01.10

17 de jan. de 2010

Quem não sabia? Marina é traira!


Verde que te quero verde

Por Gilvan Freitas - Do Blog o Terror do Nordeste - 13.01.10

A traíra Marina é, definitivamente, uma pessoa totalmente sem ética.Depois de ter saído do PT sem entregar o cargo obtito pelo partido, agora, une-se a José Serra para derrotar Dilma(fato impossível de ocorrer).De todo modo, não tem preço ver Gabeira, Marina, José Serra, César Maia, Solange Amaral e Rodrigo Maia no mesmo palanque.

Gabeira aceita se candidatar por aliança PV-PSDB no RJ


Folha de S. Paulo - 13/01/2010

Apontado como o candidato ideal do governador José Serra (PSDB) ao governo do Rio de Janeiro, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) admitiu ontem a possibilidade de entrar na disputa estadual.

Em reunião com tucanos do Estado, Gabeira condicionou sua candidatura à consolidação de uma aliança entre PSDB e PV do Rio. "Se todos se sentirem confortáveis, eu topo", disse o deputado à Folha.

A operação conta com o aval da pré-candidata do PV, Marina Silva (AC). Grife da sigla, Gabeira ameaçava desistir até do Senado se o partido insistisse no lançamento de uma chapa "puro-sangue" no Estado.

A candidatura de Gabeira é crucial para Serra por oferecer um palanque forte ao PSDB no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país.

Em conversas com o PV, o PSDB concordou que Gabeira defenda o nome de Marina na TV. Sozinho, o PV tem direito a 1 minuto e 20 por dia no horário eleitoral. A coligação garantirá 8 minutos diários, incluindo a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia para o Senado.

Presidente estadual do PV do Rio, o vereador Alfredo Sirkis afirma que a aliança - que reunirá também DEM e PPS - abre caminho para "uma campanha competitiva no Rio".

Segundo Gabeira, a decisão deverá ser oficializada depois do Carnaval. O arremate dependerá da costura de detalhes com o comando do PV. O partido chegou a defender candidaturas isoladas nos principais Estados. Mas, diante do risco de Gabeira de desistir até da corrida ao Senado, Marina acenou com a possibilidade de exceções na semana passada.
"No Acre, por exemplo, não teremos nem candidato próprio", admitiu Marina.

Gabeira se reuniu com o comando do PSDB do Rio no sábado, um dia depois de conversar com o presidente nacional do partido, Sérgio Guerra (PE), e com o ex-deputado Márcio Fortes. Na conversa, eles alegaram que Gabeira tem chances de ir ao segundo turno.

Mas, segundo tucanos, mesmo derrotado, Gabeira pode ser recompensado caso o PSDB chegue à Presidência. Cogita-se que ele poderia ocupar, por exemplo, a Embaixada do Brasil na França.
Outro pré-candidato, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) já disse a interlocutores que torcia pela candidatura de Gabeira por forçar um segundo turno no Estado.

Leia outras notícias em O Terror do Nordeste

16 de jan. de 2010

São Paulo na lama

Luana Lila e Rodrigo Martins - Carta Capital - 15.01.10

Clique aqui para ver a galeria de fotos de Luana Lila mostrando a situação dos bairros alagados.


O som estridente da marreta contra uma coluna de concreto ecoa pela ladeira dos Peixes, na Vila Aimoré, zona leste de São Paulo. Ao redor do grupo de trabalhadores, um cenário de destruição. Ao menos uma dezena de casas já havia sido demolida por ordem da prefeitura, após a remoção das famílias que concordaram em receber um auxílio aluguel de 300 reais para abandonar a várzea do rio Tietê, severamente castigada pela megaenchente de 8 de dezembro. De uniforme azul, o cabisbaixo pedreiro Crispim Antonio de Souza, 50 anos, lamenta em voz baixa. “Hoje estou derrubando a casa dos outros. Amanhã, pode ser a minha própria casa.”

Crispim mora com a esposa, dois filhos e dois netos em uma casa de quatro cômodos no Jardim Pantanal, bem próximo de onde cumpria a amarga tarefa de demolição. No dia da cheia, os móveis de sua casa ficaram cerca de meio metro submersos. Somente após duas semanas, a água saiu da residência. Passados 35 dias da enchente, porém, a inundação persistia no quintal, na calçada e nas ruas do bairro, completamente tomadas por um lodo escuro e fétido, mistura das águas da chuva com o esgoto que deixou de ser bombeado por uma estação de tratamento que também ficou debaixo d’água. O cenário é recorrente em ao menos sete bairros do distrito paulistano Jardim Helena, que faz divisa com os municípios de Guarulhos e Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, especialmente entre as casas mais próximas do rio Tietê e seus afluentes.

“Não quero sair daqui. Com 300 reais, não consigo alugar uma casa para a minha família. Mas vou fazer o quê? Não tenho opção”, resigna-se o pedreiro Crispim. Boa parte dos moradores, no entanto, mostra-se resistente à proposta do auxílio aluguel oferecido pela prefeitura, e já apelidado de “bolsa-despejo” por movimentos sociais que atuam na região. O governo municipal garante o benefício por seis meses, período que pode ser renovado sucessivas vezes, até o governo abrigar em moradias todos os afetados pelas inundações. Das 2.752 famílias cadastradas até 13 de janeiro, 794 optaram por receber o auxílio-aluguel, condicionado à demolição das casas antigas, e 370 já receberam a verba. Outras 280 famílias foram acomodadas em apartamentos. Mas a desconfiança é grande.

“Há três anos, funcionários da prefeitura vêm aqui, dizem que estamos irregulares, temos de sair, mas nunca me ofereceram uma casa. Como posso acreditar que, depois de seis meses, o auxílio não será cortado? Só saio da minha casa para entrar em outra”, afirma a dona-de-casa Cledionice Aparecida da Silva, 39 anos, que mora em um sobrado tomado pelas águas com outras 17 pessoas da família de garis e catadores de material reciclável. A cozinha da casa chegou a ficar submersa até a altura da cintura. Agora, o lodo da enchente está concentrado no quintal, onde só é possível transitar sobre tábuas suspensas por tijolos.

A desconfiança é ainda mais forte entre aqueles que tentaram, em vão, ser incluídos em um programa habitacional. O aposentado Rosalvo José dos Santos, 66 anos, por exemplo, está na fila para comprar um imóvel da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) desde 1997. Pai de uma jovem portadora de necessidades especiais, ele teria prioridade. Mas nunca foi chamado. “É por isso que não confio na proposta da prefeitura.”

Diante das constantes reclamações de moradores, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo entrou com uma ação pedindo a suspensão das remoções até que o processo seja discutido com a população. “O povo tem o direito de participar da construção de seu próprio destino. Estamos falando de pessoas, e não objetos que podem ser removidos de um lugar para o outro. Eles querem sair do local, mas com um mínimo de dignidade”, afirma Carlos Henrique Loureiro, coordenador do Núcleo de Habitação e Urbanismo da Defensoria. Ele também lembra que deslocar a população de forma não planejada é apenas uma forma de transferir o problema, “você tira a pobreza de um lado e coloca do outro”.

Exemplos disso não são difíceis de ser encontrados, como é o caso da família do pedreiro João Luiz da Silva, 55 anos. Eles moravam na extinta Vila Nair, que foi removida para a construção do anel viário que liga a Avenida Jacu Pêssego, na zona leste de São Paulo, com a rodovia Ayrton Senna. Com o dinheiro da indenização, 9 mil reais, compraram uma casa no Jardim Iguatemi, e foram novamente despejados, desta vez para a construção de um dos trechos do Rodoanel. Com a indenização de 11 mil reais, mais algumas economias, compraram um barraco na Chácara Três Meninas, um dos bairros castigados pela cheia do Tietê e alvo de novas desapropriações. “Só saio daqui para uma casa definitiva. Essa é a terceira vez que querem nos expulsar”, diz Silva, cansado da vida itinerante.

A enchente na várzea do Tietê é a mais grave dos últimos 15 anos, segundo os moradores. Estima-se que até 3 mil famílias tenham sido atingidas pelas inundações. De acordo com a Secretaria de Saneamento e Energia do Estado, em apenas um dia os radares registraram chuva com intensidade de 84 milímetros em média na Bacia do Alto Tietê, o que corresponde a dois terços de toda a chuva prevista para dezembro.

Para muitos moradores, no entanto, a culpa da cheia não deve ser atribuída exclusivamente à natureza. “Como é possível demorar mais de um mês para a água voltar ao rio? Faça sol ou faça chuva, a área inundada permanece a mesma”, afirma Ronaldo Delfino de Sousa, uma das lideranças do Movimento por Urbanização e Legalização do Pantanal (Mulp). “É isso que leva o povo a desconfiar que a tragédia pode ter sido causada intencionalmente e persiste porque o governo não moveu uma palha para tentar drenar a água e limpar os córregos e bueiros”.

Revoltada, a moradora de um conjunto habitacional que sofreu com as inundações constrangeu o prefeito Gilberto Kassab (DEM) no início de janeiro, ao cobrar uma postura mais efetiva da prefeitura. “Vamos por o pé na lama? Nós queremos o senhor lá para sentir na pele o que a gente sente”, disse na ocasião. “Todos estão fazendo o maior esforço possível para ficar ao lado das famílias”, respondeu Kassab, reiterando que a prefeitura está oferecendo o auxílio aluguel e busca soluções para resolver o impasse.

Na região, considerada uma área de risco por autoridades municipais e estaduais, o governador José Serra (PSDB) pretende construir o Parque Várzeas do Tietê, o maior parque linear do mundo, com 75 km de extensão e 107 km² de área, entre as cidades de São Paulo e Salesópolis. As obras foram iniciadas em julho. Mas, para concluir a primeira fase do projeto de 1,7 bilhão de reais, 70% financiado pelo Banco Mundial, o governo precisa remover ao menos 2,6 mil famílias, segundo a Secretaria de Saneamento e Energia. Muitas delas atingidas pela cheia.

Além do interesse do governo estadual pela área, uma reportagem publicada pelo portal UOL revelou que as seis comportas da barragem da Penha foram completamente fechadas na madrugada da enchente, e só foram reabertas dois dias depois. O objetivo da manobra seria evitar um alagamento na marginal Tietê, onde o governo está realizando um conjunto de obras viárias orçado em 1,3 bilhão de reais. A denúncia levou o promotor Eduardo Valerio, do Ministério Público Estadual, a instaurar um inquérito civil, em meados de dezembro, para apurar se o fechamento da barragem poderia ter causado a inundação da zona leste de São Paulo.

“Ainda estamos investigando, mas aparentemente este incidente, isolado de outros fatores, não seria o suficiente para alagar toda aquela região, já que é um procedimento de rotina, realizado mais de 30 vezes ao longo de 2009”, afirma Valério. “Mas há fortes indícios de que o assoreamento do Tietê e as intervenções ambientais de grandes indústrias instaladas na região podem ter criado um ambiente favorável às enchentes. Se ficar comprovado que o governo foi omisso na fiscalização ou nas ações para desassorear o rio, o Estado pode ser responsabilizado pela tragédia, independentemente da existência de intencionalidade ou culpa”.

Por meio de nota, a Secretaria de Saneamento e Energia do Estado, responsável pela autarquia que controla a barragem da Penha, afirmou que, mesmo com a abertura das comportas, a água não baixou por se tratar de uma área de várzea, “espaço natural de amortecimento das cheias”. Além disso, destacou que o próprio investimento na construção do Parque Várzeas do Tietê visa proteger as pessoas expostas às enchentes.

Enquanto não surge uma solução satisfatória para o impasse, a Defensoria Pública pede que a Justiça obrigue a prefeitura paulistana e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), ligado ao governo do Estado, a promover a drenagem e o manejo das águas fluviais contaminadas que estão nas comunidades, bem como a limpeza dos bueiros e a desobstrução de obstáculos. Além disso, destaca que a responsabilidade das ocupações ilegais nas margens do Tietê não devem ser atribuídas exclusivamente à comunidade pobre que habita a região, uma vez que o poder público disponibilizou infraestrutura urbana no local.

No Jardim Romano, por exemplo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) inaugurou no ano passado um Centro Educacional Unificado (CEU). Na mesma rua Capachós, um conjunto habitacional financiado pela Caixa Econômica Federal também foi inaugurado recentemente. Os investimentos fizeram com que a prefeitura revisasse a planta genérica de valores do logradouro, usado como base para o cálculo do valor venal dos imóveis e do IPTU de 2010. A valorização chega a 187%. Só que, hoje, tanto a escola como a Cohab estão com a entrada bloqueada pelo lodo.

Muitos dos moradores que agora correm o risco de serem removidos da região possuem escritura do imóvel e pagam todos impostos. É o caso do ajudante de cozinha Adriano Clementino Barros, 45 anos, que só consegue sair de casa com um par de galochas de cano longo nos pés. “No dia da enchente, a água ficou até à altura do tornozelo dentro de casa”, comenta. “Passei 12 dias fora de casa, e quando voltei a água já havia baixado. Mas a calçada e a rua continuam nesse estado. Tenho de sair de galocha até para ir na padaria. E qualquer chuvinha faz o lodo entrar na minha casa. Passei o Reveillon com o pé na lama”.

Mesmo nas habitações precárias construídas em ocupações ilegais o poder público mostra-se presente. “Dá uma olhada nessa casa que foi demolida”, aponta o advogado Raimundo dos Anjos Silva, presidente da Associação de Moradores da Vila Aimoré. “Eles só deixaram de pé o poste de luz com marcador da Eletropaulo e o relógio de água da Sabesp. Sabe por quê? Eles ainda vão cobrar a última conta. Se era uma área de risco para a população, qual o sentido de o poder público investir para trazer água encanada, asfalto, escolas, postos de saúde, iluminação pública?”

Em comum, moradores, defensores públicos e promotores exigem que o governo passe a planejar melhor suas intervenções urbanas em vez de buscar soluções imediatistas para problemas tão complexos como a falta de moradia e a degradação ambiental. Até para evitar a repetição de dramas como o do pedreiro que pode se ver obrigado, por dever de ofício, a demolir a própria casa. Ou da família que corre risco de ser despejada pela terceira vez, sem destino certo.

11 de jan. de 2010

Chomsky e as estratégias de manipulação

Por Altamiro Borges - Blog do Miro - 10.01.10

O lingüista estadunidense Noam Chomsky, que se define politicamente como “companheiro de viagem” da tradição anarquista, é considerado um dos maiores intelectuais da atualidade. Entre outros estudos, ele elaborou excelentes livros e textos sobre o papel dos meios de comunicação no sistema capitalista. É dele a clássica frase de que “a propaganda representa para a democracia aquilo que o cassetete significa para o estado totalitário”. No didático artigo abaixo, Chomsky lista as “10 estratégias de manipulação” das elites. Vale a penar ler e reler:


1- A estratégica da distração.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes.

A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

2- Crias problemas, depois oferecer soluções.

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da degradação.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente aplicar progressivamente, em “degradado”, sobre uma duração de 10 anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de forma brusca.

4- A estratégica do deferido.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por que?

“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido critico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre o possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

8- Promover ao público a ser complacente na mediocridade.

Promover ao público a achar "cool" pelo fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.