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4 de fev. de 2011

Ana de Hollanda, o Comando de Caça aos Commonistas e a transição conservadora


Rodrigo Savazoni*

A opção pela retirada da licença Creative Commons (CC) do site do Ministério da Cultura é reflexo de um posicionamento político assumido pela ministra Ana de Hollanda. Não se trata de medida menor ou ação isolada, e sim é parte de uma estratégia que resultou no estremecimento da relação do Ministério da Cultura com as forças defensoras do compartilhamento do conhecimento e da colaboração cultural.

Durante o governo Lula, a liberdade foi tônica: na política de valorização do software livre e no reconhecimento das novas formas de produzir e circular informação pelas redes interconectadas. O mundo, então, voltou seus olhos para o Brasil, país que em várias áreas do conhecimento voltou a apontar caminhos e produzir respostas globais – como ocorreu na época do surgimento da poesia concreta, da Bossa Nova e da arquitetura de Niemeyer.


No centro do capitalismo, as indústrias criativas (do copyright) produzem leis para restringir a livre circulação e vedar a inovação. Por aqui, o Ministro “Hacker” Gilberto Gil, com aval do presidente Lula, apontou a seta pra direção oposta. Esse embate segue em curso, e o Brasil agora irá aderir ao movimento conservador?


Entre 2003 e 2010, as licenças Creative Commons foram adotadas pelo Ministério da Cultura, pela Radiobrás (e segue sendo utilizada na EBC), no programa Café com o Presidente, na distribuição pela internet de A Voz do Brasil (!) e no Blog do Planalto, entre outros exemplos.


Gestores públicos sabem que os símbolos têm poder. Um site público com a marca de uma licença flexível é diferente de um site público que em seu rodapé exibe a marca do copyright seguida da mensagem “Licença de Uso: O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte”.


O primeiro exemplo é de um site que valoriza ativamente os commons (ou seja, os ambientes não comerciais que são utilizados em benefício de toda a coletividade). Trata-se, portanto, de uma ação afirmativa no sentido de construir ambientes de troca, de fortalecer o comum onde o padrão é ditado pelo individual. No outro caso, reconhece-se o império do comércio e abre-se uma exceção, frágil e inconsistente, na direção da liberdade.


No caso da decisão da ministra Ana de Hollanda, a retirada da logomarca do Creative Commons foi feita sem que nenhum dos atores ligados às políticas de cultura digital, dentro e fora do ministério, tivessem sido ouvidos.


A decisão foi tomada antes mesmo de seu secretariado ter sido formalmente nomeado, o que ocorreu na sexta-feira da semana passada, em meio às reações das redes culturais.


Por que a pressa? O que se queria demonstrar com isso? Fomos questionados sobre o que estaria por trás de nossa reação a essa decisão. O que está por trás da decisão da Ministra? Quem são seus assessores nessa escolha? Essas perguntas não foram respondidas.


Em sua resposta pública, o Ministério usa os mesmos argumentos historicamente expostos pelos advogados que defendem o ECAD. Em defesa da decisão da ministra, os primeiros a se manifestarem foram representantes das entidades mantenedoras do escritório de arrecadação. Músicos e compositores, em sua maioria com mais de 50 anos, detentores de uma obra ou uma herança saíram em defesa da Ministra, em uníssono, conformando o que dei o nome de Comando de Caça aos Commonistas (CCC).


Informações de bastidor dão conta de que ninguém dentro do novo Ministério da Cultura a assessorou nessa decisão. Suspeita-se que advogados ligados às entidades que mantém o ECAD sejam os conselheiros.


O novo secretariado do Ministério da Cultura esteve reunido em imersão este fim de semana. A conversa já terminou, conforme registrou Marta Porto no Twitter.


Resta saber se essa equipe, que conta com vários apoiadores dos movimentos pela liberdade do conhecimento e da cultura digital, se posicionou diante da decisão da Ministra e se há margem para um diálogo em outros termos a partir de agora.


Fato é que, nesses últimos dez dias em que o tema invadiu a blogosfera, a imprensa alternativa e a grande mídia, o assunto demonstrou ser de amplo interesse público, e não algo secundário, como o Ministério da Cultura chegou a acreditar ao tomar a decisão arbitrária de remover a licença CC do site.


A evolução da conversa para um bom termo deveria nos levar a uma discussão sobre quais políticas de cultura são as que devemos construir em contexto digital. É o que esperamos da presidenta Dilma.


Obs: se você não compreendeu alguns dos termos utilizados nesse post e quer saber mais sobre o assunto, o Azenha fez um excelente
glossário no Vi o Mundo.

*Rodrigo Savazoni é jornalista e ativista da comunicação livre e distribuída.


**Publicado originalmente no site do Brasil de Fato -
http://www.brasildefato.com.br/.

Publicado em 04/02/2011
Da Agência Ibase - 04.02.2011 

28 de jan. de 2011

Sergio Amadeu: Os “nacionalistas” que a Microsoft ama

por Luiz Carlos Azenha

A entrevista que fiz com o sociólogo Sergio Amadeu, um conhecido defensor do software livre e da inclusão digital no Brasil, ficou muito mais longa que o desejável. Mas, como o tema é complexo, achei que valeria a pena colocar no contexto mais amplo possível o significado da decisão da ministra Ana de Hollanda de retirar do site do Ministério da Cultura a licença CC, do Creative Commons. Amadeu acredita que a decisão foi simbólica de uma ruptura com os ministros que a antecederam, Gilberto Gil e Juca Ferreira. Seria, portanto, uma ruptura com a política do governo Lula, como argumentou Sergio em artigo publicado originalmente na Carta Maior e reproduzido aqui.

Porém, na entrevista, falhei miseravelmente no quesito “didatismo”. É um tema complexo, cheio de siglas e informações incompreensíveis para muita gente. O bicho assusta, mas é manso. No entanto, tem gente que está chegando agora e se afasta da discussão por falta de paciência para entendê-la. É justamente aí que mora o perigo. O que está em jogo é importante demais para ser decidido apenas em gabinetes governamentais ou nos arreglos entre as grandes empresas e os políticos que elas ajudam a eleger ou “deseleger”.

Por isso, fiz um guia básico para iniciantes dos temas sobre os quais falamos na entrevista. Se você já é do ramo, é só saltar e ir direto para os vários trechos da gravação.
Caso contrário, não se envergonhe:

Copyright ou Direito Autoral, garante os direitos do autor sobre a obra.

Copyleft, popularizado pelo estadunidense Richard Stallman, é um trocadilho com o “direito de cópia – todos os direitos reservados” do copyright.

Stallman é um dos papas do software livre. O software livre, em contraposição ao proprietário (aquele, da Microsoft, pelo qual você paga) pode ser compartilhado dentro de algumas regras. Um dos princípios básicos é que seja transparente, ou seja, o código-fonte (o código que determina como o programa funciona, o DNA dele) é público. Pode ser manipulado por qualquer pessoa que tenha conhecimento para tanto. Você pode acrescentar, inventar, mexer à vontade, desde que tenha o compromisso de dividir com os outros da mesma forma que recebeu.

Stallman definiu os princípios pelos quais o software livre seria compartilhado ao criar a Licença Pública Geral, GPL em inglês.

O que a GPL foi para o software livre o Creative Commons é para uma gama mais ampla de criações culturais — textos, fotos, música, etc.

Creative Commons é uma ONG sem fins lucrativos, fundada por Lawrence Lessig na Califórnia, cujo objetivo é promover o compartilhamento. O autor, de livre e espontânea vontade, abre mão de seus direitos com o objetivo de compartilhar sua obra e determina as normas pelas quais isso será feito.Foi uma forma de permitir aos autores, nos Estados Unidos — não se esqueçam,  é a terra dos advogados — que abrissem mão do direito sobre suas obras para que elas se tornassem de domínio público de forma juridicamente clara e segura para todos. Ou seja, que pudessem ser copiadas, reproduzidas e mesmo modificadas pelos usuários livremente (existem licenças distintas e a escolha é sempre do autor da obra).

É essa ideia, de compartilhamento, que deu origem, por exemplo, ao Wikimedia Commons e à própria Wikipédia. Notem quantas vezes o verbo compartilhar aparece, acima. Gente, esses caras querem compartilhar tanto que até parecem… comunistas. Chamem o DEOPS!

Acordo TRIPs (trade-related aspects of intellectual property rights, ou aspectos relacionados ao comércio dos direitos de propriedade intelectual), fechado na rodada do Uruguai da Organização Mundial do Comércio, impôs ao mundo regras de proteção do direito intelectual defendidas pelos Estados Unidos, União Europeia e Japão.

International Intellectual Property Alliance (IIPA) é o lobby dos conglomerados em defesa da propriedade intelectual.

Firefox, um navegador da internet muito popular, em software livre, criação da Mozilla Foundation, dos Estados Unidos. É gratuito.  Compete com o Internet Explorer, da Microsoft, que vem no pacote quando você compra o Windows.

ECAD, Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, cuida de receber e repassar os direitos autorais aos músicos brasileiros.

P2P, peer-to-peer, par-a-par, conceito de interconexão entre computadores que permite o compartilhamento de conteúdos em rede (você baixa as músicas contidas nos arquivos de seus pares e permite que eles baixem as suas, por exemplo), que rendeu batalhas jurídicas homéricas nos Estados Unidos, movidas pela indústria fonográfica.
Malgaxe, nascido em Madagascar.

Wordpress, um sistema de gerenciamento de conteúdo na rede, gratuito, que é escrito em software livre. É usado, com adaptações, pelo Viomundo, pelo Ministério da Cultura e por uma infinidade de sites e blogs em todo o mundo. O Wordpress é produto de uma ONG gringa.

Trezentos é o nome de um dos blogs dos quais o Sergio Amadeu participa.

Fiquem, pois, com a primeira parte da entrevista com o Sergio Amadeu:

Na segunda parte, Amadeu fala sobre os desenvolvedores brasileiros do Linux, do Apache, do BR Office, da necessidade de criar uma esfera pública internacional para defender o livre fluxo de informações e que apoiaria a ideia de criar uma licença brasileira equivalente ao Creative Commons. Menciona a Rede Mocambos. Fala sobre o clone do blog do Planalto. Responde à leitora Luciana. E diz acreditar que a ação da ministra Ana de Hollanda foi apenas o primeiro passo.

No trecho final da entrevista, Amadeu responde a internautas e explica os motivos pelos quais acredita que estamos a caminho de um grande retrocesso no MinC.

Do Vi o Mundo - 27.01.2011

27 de jan. de 2011

Pedro Ayres: Romper com Creative Commons é autonomia

por Pedro Ayres, do Crônicas e Críticas da América Latina, em comentário neste blog

Antes de mais nada uma coisa tem que ficar clara. Romper com o CC foi um ato soberano e de profunda autonomia ante o servilismo do colonizado de alguns, principalmente porque em nada afeta a liberdade de criação dos autores brasileiros. É bem sintomático que gente como o Renato Lemos e o Carlos Afonso da FGV, por exemplo,em todos os textos publicados e divulgados na mídia nacional quanto a essa questão, tenham como base aquilo que o CC publicou em seu site. Por sinal no último parágrafo deste CC documento, há a confissão dos motivos da gritaria:

“E as políticas relacionadas a software livre continuam fortes, no governo federal. No mesmo dia em que o CC foi retirado do site do MinC, o Ministério do Planejamento publicou no Diário Oficial sua política para fortalecer o Software Público Brasileiro, promovendo software livre e licenças flexíveis.”

Há muito aprendi, profissional e politicamente, que quando há certa unidade entre a mídia e empresas estadounidenses, desinteresse e desejo de apoiar o Brasil é o que não existe. Além do fato que desde o assalto dos microeconometristas à FGV, que esta fundação está a serviço daquilo que pode ser chamado de interesses antinacionalistas. É evidente que haverá sempre quem se diga apenas preocupado com a possibilidade de que essa decisão ministerial possa vir a afetar a “democratização” do acesso cultural, o que é, como diz o povão, “menas verdade”.

Como a legislação brasileira permite, caberá ao autor da obra cultural — musical, plástica, dramática, acadêmica ou jornalística — decidir como liberar o acesso ao que produz. O que não é possível é se negar o direito do autor, simplesmente porque tais ou quais empresas ou “agentes culturais” desejam liberar o seu uso e conteúdo, sem que ao autor lhe seja garantido qualquer tipo de compensação por isso. E para não haver nenhuma dúvida sugiro a leitura do que está exposto no sítio http://www.creativecommons.org.br/

Só mesmo um ridículo pequeno-burguês pode ver ameaça onde apenas existe o resguardo dos legítimos direitos dos autores nacionais. Com mais um pouco de esforço, logo falarão em “forte ameaça à liberdade de expressão”, que é o bordão atualmente mais usado pelo império para destruir quem essencialmente o combate.

Do Vi o Mundo - 26.01.2011

Sergio Amadeu: Um ataque à política de Lula

Sergio Amadeu: “Ana de Holanda e ECAD atacam política de Lula”

O movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma. O artigo é de Sergio Amadeu da Silveira.

Sergio Amadeu da Silveira (*), na Carta Maior

Os defensores da indústria de intermediação e advogados do ECAD lançam um ataque a política de compartilhamento de conhecimento e bens culturais lançada pelo presidente Lula. Na sua jornada contra a criatividade e em defesa dos velhos esquemas de controle da cultura, chegam aos absurdos da desinformação ou da mentira.

Primeiro é preciso esclarecer que as licenças Creative Commons surgiram a partir do exemplo bem sucedido do movimento do software livre e das licenças GPL (General Public Licence). O software livre também inspirou uma das maiores obras intelectuais do século XXI, a enciclopédia livre chamada Wikipedia. Lamentavelmente, os lobistas do ECAD chegam a dizer que a Microsoft apóia o software livre e o movimento de compartilhamento do conhecimento.

Segundo, o argumento do ECAD de que defender o Cretaive Commons é defender grandes corporações internacionais é completamente falso. As grandes corporações de intermediação da cultura se organizam e apóiam a INTERNATIONAL INTELLECTUAL PROPERTY ALLIANCE® (IIPA, Associação internacional de Propriedade Internacional) e que é um grande combatente do software livre e do Creative Commons. O Relatório da IIPA de fevereiro de 2010 ataca o Brasil, a Malásia e outros países que usam licenças mais flexíveis e propõem que o governo norte-americano promova retaliações a estes países.
 
Terceiro, a turma do ECAD desconsidera a política histórica da diplomacia brasileira de luta pela flexibilização dos acordos de propriedade intelectual que visam simplesmente bloquear o caminho do desenvolvimento de países como o Brasil. Os argumentos contra as licenças Creative Commons são tão rídiculos como afirmar que a Internet e a Wikipedia é uma conspiração contra as enciclopédias proprietárias, como a Encarta da Microsoft ou a Enciclopédia Britânica.

Quarto, o texto do maestro Marco Venicio Andrade é falso até quando parabeniza a presidente Dilma por ter “restabelecido a soberania de nossa gestão cultural, anulando as medidas subservientes tomadas pelos que, embora parecendo modernos e libertários, só queriam mesmo é dobrar a espinha aos interesses das grandes corporações que buscam monopolizar a cultura”. O blog do Planalto lançado pelo presidente Lula e mantido pela presidente Dilma continua com as licenças Creative Commons. Desse modo, os ataques que o defensor do ECAD fez a política dos commons lançada por Gilberto Gil, no MINC, também valem para a Presidência da República.

Quinto, o movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma.

(*) Sergio Amadeu da Silveira é professor da UFABC. Sociólogo e doutor em Ciência Política. Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e primeiro coordenador do Comitê Técnico de Implementação do Software Livre na gestão do presidente Lula.



Do Vi o Mundo - 26.01.2011

26 de jan. de 2011

Renato Rovai: “MinC rasga compromisso de campanha da candidata Dilma Rousseff”

21 de janeiro de 2011 às 13:23

por Renato Rovai, em seu blog

A ministra da Cultura Ana de Holanda lançou uma ofensiva contra a liberdade do conhecimento. Na quarta-feira pediu a retirada da licença Creative Commons do site do Ministério da Cultura (MinC), que na gestão de Gilberto Gil foi pioneiro em sua adoção no Brasil.

O exemplo do MinC foi àquela época fundamental para que outros sites governamentais seguissem a mesma diretriz e também publicassem seus conteúdos sob essa licença, como o da Agência Brasil e o Blog do Planalto.

A decisão da ministra é pavorosa porque, entre outras coisas, rasga um compromisso de campanha da candidata Dilma Rousseff. O site de sua campanha foi publicado em Creative Commons o que denotava compromisso com esse formato.

Além desse ato simbólico, que demonstra falta de compromisso com o livre conhecimento, a ministra pediu o retorno ao Ministério da Cultura do Projeto de Lei de Revisão dos Direitos Autorais, que depois de passar por um debate de sete anos e uma consulta pública democrática no governo Lula, estava na Casa Civil para apreciação final e encaminhamento ao Congresso Nacional.

O que se comenta é que a intenção da ministra é revisar o projeto a partir das observações do ECAD, um órgão cartorial e que cumpre um papel danoso para a difusão da cultura no Brasil.

Para quem não conhece, o ECAD é aquele órgão que entre outras coisas contrata gente para fiscalizar bares e impedir, por exemplo, que um músico toque a música do outro. É uma excrescência da nossa sociedade cartorial.

Este blog também apurou que Ana de Holanda pretende nomear para a Diretoria de Direitos Intelectuais da Secretaria de Políticas Culturais o advogado Hildebrando Pontes, que mantém um escritório de Propriedade Intelectual em Belo Horizonte e que é aliado das entidades arrecadadoras.

Como símbolo de todo esse movimento foi publicado ontem no site do Ministério da Cultura, na página de Direitos Autorais, um texto intitulado “Direitos Autorais e Direitos Intelectuais”, que esclarece a “nova visão” do ministério sobre o tema. Vale a leitura do texto na íntegra , mas segue um trecho que já esclarece o novo ponto de vista:

“Os Direitos Autorais estão sempre presentes no cotidiano de cada um de nós, pois eles regem as relações de criação, produção, distribuição, consumo e fruição dos bens culturais. Entramos em contato com obras protegidas pelos Direitos Autorais quando lemos jornais, revistas ou um livro, quando assistimos a filmes, ou simplesmente quando acessamos a internet.”

Essa ofensiva de Ana de Holanda tem várias inconsistências e enseja algumas perguntas:

A principal, o governo como um todo está a par desse movimento e concorda com ele?

Afinal a presidenta Dilma Rousseff se comprometeu, como Ministra da Casa Civil e candidata à presidente da República, a manter o processo de revisão dos direitos autorais e promover a liberdade do conhecimento. E um desses compromissos foi firmado na Campus Party do ano passado, em encontro com o criador das licenças Creative Commons, Lawrence Lessig.

O atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, quando candidato ao governo de São Paulo, também se comprometeu com esta luta, inclusive numa reunião que contou com a presença deste blogueiro, na Vila Madalena, em São Paulo.

O que a atual presidenta e o ministro Mercadante pensam desta inflexão?

E o pessoal do PT ligado à Cultura, o que pensa disso?

Muitos dos militantes petistas da área comemoraram a indicação de Ana de Holanda.
Alguns entraram em contato com este blog para dizer que os compromissos anteriores não seriam rasgados.

E agora, o que eles pensam dessas decisões da ministra?

Dilma Rousseff foi eleita também para dar continuidade ao governo Lula. Se havia interesse em revisar certas diretrizes  na área da Cultura e que vinham sendo implementadas com enorme sucesso e repercussão nacional e internacional, isso deveria ter ficado claro. Isso deveria ter sido dito nos diversos encontros que a candidata e gente do seu partido tiveram com esses setores.

Essas primeiras ações do MinC não são nada alentadoras. Demonstram um sinal trocado na política do ministério exatamente no que de melhor ele construiu nos anos de governo Lula.

Não há como definir de outra forma essa mudança rota: é traição com o movimento pela democratização da cultura e da comunicação.

A ministra precisa refletir antes de declarar guerra a esse movimento social.

E o PT precisa assumir uma posição antes que seja tarde.

Porque na hora H, não é  com o povo do ECAD e com o da indústria cultural que ele conta.

PS: Conversei com um amigo que entende de conteúdos licenciados em Creative Commons e ele me disse que a decisão da ministra de mudar o licenciamento do site vale exatamente nada no que diz respeito ao que foi produzido na gestão anterior.

Aquele conteúdo foi ofertado em Creative Commons e o Ministério não pode simplesmente revogar a licença de uso.

Se isso for feito, o Ministério infringe a licença Creative Commons e se torna um infrator de direitos.

Do Vi o Mundo - 25.01.2011