20 de dez. de 2010

Discussão sobre feminismo: a esquerda e suas divergências


Por Cristina P. Rodrigues - Somos Andando - 20.12.2010

A blogosfera – ou parte dela – está em crise. Discutindo o relacionamento. Não, não é o fim, é só um tempo, talvez. Fim de ano, bom momento para balanço.
O que deflagrou a crise foi um episódio em si pequeno, mas que trouxe à tona ressentimentos e dúvidas antigos, junto com alguns esclarecimentos. Confesso que não me envolvi na história porque não tive muito tempo nem vontade de ler todo o vai e vem, mas chegou a um ponto em que me obriguei a correr atrás.
Resumindo para quem ainda não está a par (quem já cansou de ler a respeito, pula esse parágrafo): o blog do Nassif publicou como post um comentário de um cidadão machista, que usava o termo “feminazi” para se referir às feministas, com o pretexto de que servia ao debate. Não acho que servia, acho que Nassif errou, mas prossigamos. Ele sofreu diversas críticas de feministas e de outras pessoas, algumas bastante legítimas, outras que pegaram carona na história. Nassif não se desculpou e ainda debochou de muitas daquelas pessoas. Errou mais uma vez.
O feminismo e o termo “feminazi” não são temas pequenos, antes que alguém possa me questionar a respeito, mas o episódio em si não justifica tal repercussão. A blogosfera (e a tuitera?) se dividiu, passou a se atacar, inclusive com ataques pessoais além das críticas gerais ou específicas, mas que fossem críticas, não ataques.

O sentido do feminismo
As mulheres, assim como os negros, os homossexuais e outros, têm um histórico de preconceito sobre elas. E o feminismo faz sentido ainda hoje, em contraposição ao machismo opressor, assim como é libertador utilizar uma camiseta escrito “100% negro” e uma com a inscrição “100% branco” pareceria preconceituoso. É o histórico de opressão que justifica essas diferenças. Por que se afirmar como homem ou como branco se o homem branco sempre teve espaço garantido?
O feminismo deve, pois, ser respeitado, mas as feministas também devem compreender as diferenças de pensamento, desde que respeitando determinados limites, é claro. Nassif ultrapassou alguns limites ao publicar um post tão preconceituoso, mas a blogosfera inteira não precisa ir para a fogueira e ele não deve se tornar o inimigo a ser eliminado por um erro crasso, mas pontual.
Alguns posts personalizaram a discussão, que não envolveu só a figura x ou a figura y, que está se caracterizando por uma ampla discussão do papel dos blogs. Alguns problemas surgiram. O episódio, tão específico, serviu de pretexto para se criticar o Encontro de Blogueiros Progressistas, acontecido em agosto. As críticas tiveram duas frentes: as que questionavam o termo “progressista” e as que questionavam o motivo do encontro. A crítica, então, ultrapassou a blogosfera e atingiu a esquerda.

Do feminismo à esquerda
A briga já está em um ponto em que um diz que a esquerda tem que se unir e outro diz que tem que manter a capacidade de crítica, sem aceitar qualquer coisa de olhos fechados.
Bem bem… Passamos do ponto. E sim, esse é um problema da esquerda, mas é um problema originado por uma causa bem específica, que o justifica. A esquerda se divide porque sua movimentação é motivada por ideias, não por interesses pessoais, que fazem com que a união seja uma estratégia pensada visando um retorno no médio prazo. E ideias divergem.
Então, o que fazer? Passar por cima das divergências e se unir de forma acrítica? Ou assumir as críticas e brigar e brigar, esquecer o entendimento e renunciar às lutas por falta de força, já que cada um lutando sozinho não chega muito longe?
Conversar, não discutir
Nem oito nem 80. Falta um tantinho de tolerância e de vontade de entendimento. Seria simples. A gente discute ideias, sem partir para o pessoal, concorda às vezes, diverge, mas se respeita e se une pelos pontos em que há identificação. Entende que às vezes a gente erra, mesmo que tentando acertar. Que a pessoa do outro lado é tão falível e tão humana quanto a deste lado e que às vezes diz uma besteira monstro. Percebe que há momentos em que o outro fulano pensa diferente mesmo, e isso faz parte. Afinal, quem pode dizer quem está certo?
Como em qualquer relacionamento, na política – e a blogosfera é política, e o feminismo é um movimento social e também político – a gente tem que ceder, tem que tolerar, tem que passar por cima de algumas coisas. Senão ninguém se entende.
Prova disso é encontrada ao reunir os diferentes posts produzidos sobre o assunto. Com cada um, tenho concordâncias e divergências. Algumas partes eu assinaria embaixo e outras eu jogaria no lixo. Ou seja, todos acertamos e erramos. E provavelmente o leitor também discordará de boa parte do que escrevi aqui, e outro leitor discordará de parte diferente. Ou seja, somos diferentes.
Mas temos um ponto de união. Queremos um mundo melhor, queremos melhorar o Brasil, queremos uma visão mais abrangente de sociedade, que não exclua pessoas por conta de sua renda ou do lugar onde mora. Prendamo-nos, pois, aos nossos pontos comuns. Façamos críticas, com o devido respeito e sem a arrogância de se achar dono da razão. Ouçamos as críticas. Aprendamos com elas. Mas não nos desarticulemos. Isso se chama diálogo.
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A seguir, alguns links que ajudam a compreender melhor a dimensão que a coisa tomou. Com alguns concordo mais, com outros menos. Não há nenhum tipo de ordenamento nesse sentido. A cada link, a ordem é o nome do post, nome do blog e autor do texto.

Elas mataram Orfeu – Gonzum – Miguel do Rosário
Sobre o debate Nassif, feminazis, Idelber e blogs progressistas – Conexão Brasília-Maranhão – Rogério Tomaz Jr.
Nassif pede desculpas às feministas de bom nível – Escreva Lola Escreva – Lola Aronovich
Feminismo não é partido! – O inferno de Dandi – Danilo R. Marques
Blogosfera progressista, feminismo e polêmicas – Conceição Oliveira – Vi o mundo
Como falar bobagens e ser publicado num blog famoso – Escreva Lola Escreva – Lola Aronovich
A agressividade como ferramenta de auto-afirmação – Escreva Lola Escreva – Lola Aronovich 


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