O
Ministério Público Eleitoral de São Paulo (MPE-SP) decidiu pedir a
impugnação do registro da candidatura do vereador eleito Adriano Lopes
Lucinda Telhada, o Coronel Telhada (PSDB), ex-comandante Rota, que se
elegeu domingo pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com
89.053 votos. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São
Paulo foi uma das entidades que solicitou providências das autoridades
que determinaram o pedido de impugnação.
Entre
os motivos para pedir providências contra o vereador aos órgãos do
Judiciário e da Segurança Pública estava o fato de Telhada ter utilizado
sua página da internet, com cerca de 70 mil seguidores, para intimidar o
repórter do jornal Folha de S.Paulo, André Camarante, que não somente
se transformou em uma onda de ameaças, como também culminou com sua
saída do país junto com toda a família, com o objetivo de lhe dar
proteção.
Durante
a Campanha Salarial, em uma das rodadas de negociações de Jornais e
Revistas da Capital, a direção do SJSP solicitou diretamente ao
representante da Folha que proporcionasse todo apoio a seu repórter, o
que de fato acabou acontecendo, quando as ameaças chegaram a níveis
insuportáveis.
Tudo
começou por causa de uma reportagem de Caramante intitulada “Ex-chefe
da Rota vira político e prega a violência no Facebook”. No texto, o
jornalista denunciava que Telhada usava sua página no Facebook para
“veicular relatos de supostos confrontos com civis”, e que chamava de
“vagabundos” os supostos praticantes de crimes. Telhada não gostou da
matéria. A partir daquele momento, as ameaças se sucediam através das
redes sociais, blogs e o site da Folha, desde chamá-lo de “péssimo
repórter” até defender a sua execução, com frases como “bala nele”. No
início de setembro, diante das ameaças, ele teve que deixar o país.
Em entrevista à repórter Eliane Brum, da revista Época, Caramante relata a nova condição de jornalista que não está mais fisicamente presente na redação, apesar de continuar no exercício da profissão. Veja alguns trechos da entrevista:
Em entrevista à repórter Eliane Brum, da revista Época, Caramante relata a nova condição de jornalista que não está mais fisicamente presente na redação, apesar de continuar no exercício da profissão. Veja alguns trechos da entrevista:
Quando você deixou de trabalhar na redação?
Caramante
– Desde o início de setembro. Os advogados do jornal encaminharam às
autoridades uma solicitação de investigação sobre as ameaças. Alterei
completamente minha rotina e minha localização.
Foi difícil?
Caramante
– Sou trabalhador desde os 11 anos e não tenho dúvidas quanto à
profissão que escolhi. A decisão de estar fisicamente ausente da redação
não foi nada fácil. Particularmente, via este passo como um sinal de
recuo, um erro do ponto de vista do meu ideal e mesmo de estratégia em
relação a quem tenta enfraquecer o trabalho da imprensa. O que fizemos,
então, foi arquitetar uma ausência que fosse apenas física, com uma
operação que permitisse que seguíssemos em frente. Existem inúmeras
maneiras de fazer reportagem.
Qual foi a reação da sua família e como eles estão vivendo esse momento?
Caramante
– Estão todos cientes e bastante atentos. Não é fácil estar ausente,
mas não creio que seria muito melhor estar presente e vivendo com
sombras. Meus filhos percebem a situação incomum que vivem atualmente,
mas ignoram essa história toda. Felizmente, eles sentem-se seguros onde
pai e mãe estão – não importa onde. Minha rede familiar está permeada
pelo estresse, mas ela é muito forte. Sempre foi, desde muito antes de
toda essa situação. Além disso, a corrente formada por colegas de
profissão e entidades daqui e de fora também deixou claro que este não é
um problema só meu. Entidades como Repórteres Sem Fronteiras, Knight
Center of Journalism (vinculado à Universidade do Texas), Sindicato dos
Jornalistas do Estado de São Paulo, Instituto Sou da Paz, movimento
independente Mães de Maio, entre outros, se manifestaram publicamente em
apoio à minha atuação e ao direito de informar”.
Ouvido pelo Portal Terra,
o ex-chefe da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) afirmou que
"desconhece totalmente" a informação do MPE. "Acabei de pesquisar o site
do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e não há nada sobre isso. Não sei
de onde estão tirando essa informação. Isso é mentiroso e tendencioso,
porque a notícia é falsa", defendeu-se. "Como vou me manifestar a
respeito de uma coisa que não existe", acrescentou.
Telhada
é estreante em candidaturas nas eleições deste ano. Ele obteve vaga à
vereança paulistana com o slogan de campanha "Uma nova ROTA na política
de São Paulo". Segundo definiu no início da corrida eleitoral, sua
candidatura é “um voto de lealdade a José Serra (PSDB)”, candidato a
prefeito, que o nomeou comandante da Rota quando era governador do
Estado.
A
direção do Sindicato repudia a atitude do ex-comandante e continua
exigindo providências do governador Geraldo Alckmin e do secretário de
Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto e colocando-se à disposição do
jornalista para qualquer ação civil ou penal.
Na
oportunidade, o Sindicato anunciou que “atitudes como a do coronel
Telhada, que foi comandante da Rota, não fortalecem a democracia no
país, além de intimidar aqueles que estão a serviço da informação. A
atitude do coronel bem lembra um passado recente em que os jornalistas
eram acuados por emitirem suas opiniões”.
Esta é a íntegra do documento encaminhado às autoridades pela direção do Sindicato:
“O
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo tem,
reiteradamente, encaminhado a Vossa Excelência e a outras autoridades
públicas denúncias e encaminhamentos no sentido de resguardar a
liberdade de imprensa e a integridade física dos profissionais da área
jornalística.
Consideramos
extremamente grave a atitude do ex-comandante da Rota, coronel Paulo
Telhada, candidato a vereador pelo PSDB, de incitar a violência física e
moral contra o repórter André Caramante, do jornal Folha de S. Paulo,
através das redes sociais.
O
jornalista, em matéria veiculada na edição de sábado, 14 de julho de
2012, apenas registrou, em nota para o caderno Cotidiano, fatos
explanados pelo próprio coronel em sua rede social (facebook) tendo,
inclusive, o cuidado de procurar o candidato que, conforme registra o
texto, não atendeu as ligações feitas para seu celular.
O
texto, em momento algum, foi ofensivo ou atacou a honra ou denegriu a
imagem do candidato, não cabendo de forma alguma resposta tão violenta e
absurda por sua parte. Desta forma, esta entidade sindical pede
especial atenção de Vossa Excelência no sentido de acompanhar o
desdobramento do episódio, resguardando a integridade e o direito a
liberdade de imprensa e de expressão do jornalista.
Solicitamos
ainda que a atitude do candidato seja repreendida por não se coadunar
com os princípios da democracia e das instituições políticas a qual
pretende integrar na qualidade de representante do povo”.
Do Sindicato dos Jornalistas
Do Sindicato dos Jornalistas
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