Estamos vivendo, possivelmente, a era mais paradoxal da história da humanidade: enquanto avançam de um lado a velocidade tecnológica e o acesso à informação, amplia-se de outro a cantilena que mais se ouve ultimamente: "isso ou aquilo não está funcionando". Empresas que se apresentavam como verdadeiros baluartes da solidez capitalista implodem perante nossos olhos num efeito de hipnotizante dominó. Crenças, conceitos, ideologias, relacionamentos, instituições, métodos, ferramentas, CEOs, CFOs, COOs e Chairmen of Boards são, de repente, trocados e descartados como copinhos de plástico sob a alegação de que não funcionam. Na ânsia psicótica de acertar a qualquer preço, indivíduos, corporações e sistemas inteiros afundam como bambis capturados em areias movediças.
No cenário das comunicações, a roda é reinventada a cada esquina, sob novos nomes e vocabulário fashion. A pressão por resultados utópicos no curtíssimo prazo acaba estimulando cérebros brilhantes a deixar a reflexão de lado e partir para o jogo medíocre do me-engana-que-eu-gosto.
Como conseqüência, rareiam os resultados legítimos e precipitam-se diagnósticos que levam ao que muitas vezes se critica na medicina alopática: apego aos sintomas e distanciamento da única coisa que pode levar à cura, ou seja, a consciência sobre as causas, a clara visão do todo.
Basta recuperar por um instante a lucidez para perceber que o mundo dos negócios desembestou na direção oposta ao caminho dos indivíduos e dos anseios que há mais de duas décadas vêm emergindo nas diferentes sociedades, que processam neste momento uma mudança de consciência e descobrem novas fontes interiores de autoridade e poder.
Grande parte das empresas parece ignorar isso, como se os chamados mercados fossem algo além de gente, apenas gente. Essa visão de um mundo regido exclusivamente por economias e mercados não pode funcionar porque o ser humano do século XXI rejeita ser reduzido a algo tão desinteressante.
Na verdade, já não é o marketing, a comunicação, o CEO ou o marido que não funcionam: é Matrix que está sendo desmascarada num processo irreversível.
O ser humano não agüenta mais a superficialidade, a indiferença, a frieza, a hipocrisia e sobretudo a voracidade de grande parte das corporações e, por reflexo, de suas marcas. Em nome da competitividade cometem-se abusos que asfixiam as raízes e os sonhos de nações inteiras. Nunca se viu tanto presidente de empresa fazendo planos profissionais e pessoais para curto prazo, loucos para chutar o balde (antes que o balde os chute).
A realidade é que, em grande parte dos ambientes executivos, os bolsos recheados de bônus tentam inutilmente compensar corações esvaziados de sonhos. São inúmeros os filhos de big bosses que viram seus pais e mães desembocarem no estresse patológico, alcoolismo, raiva, frustração, desencanto pela vida. Assustados e sozinhos, esses jovens rejeitam as trajetórias de seus progenitores e, neste exato instante, buscam novas saídas, caminhos que eles ainda não conhecem, mas que deverão nortear suas existências para um ponto com o qual jamais tiveram contato em seus lares: o ponto do equilíbrio.
Em meio a esse cenário de pré-mutação planetária e inexorável, talvez o mais eficaz seja começarmos pelo começo. Precisamos tratar a alma das corporações. Trocar o culto carnavalesco à informação pela busca profunda de conhecimento. Semear a ética, os valores mais nobres, a compaixão, o espírito de co-criação, a auto-estima, a esperança, o respeito, a dignidade. Permitir que esse novo e crucial oxigênio purifique e expanda os pulmões das pessoas físicas e jurídicas. E fazer com que o marketing e suas ferramentas, inclusive as diferentes disciplinas da comunicação, expressem algo que valha a pena.
Para chegar lá, o desafio é desmontar Matrix e resgatar a essência de tudo. Ao fazê-lo descobriremos, para alívio geral, que as empresas, as marcas, as disciplinas da comunicação, os CEOs, os CFOs, os COOs e até mesmo os Chairmen of Boards voltarão a funcionar.
Christina Carvalho Pinto é sócia-presidente do Grupo Full Jazz de Comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário