Terra - 15.07.09
Diego Salmen
Na eleição de 2002, a campanha do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) recebeu R$ 50 mil em doações da Petróleo Ipiranga. Naquele ano, a candidatura do ex-senador Antonio Carlos Magalhães - cuja cadeira hoje é ocupada pelo filho, ACM Júnior (DEM-BA) - obteve R$ 60 mil da Petróleo Ipiranga. Por sua vez, a Romero Jucá (PMDB-RR) foram destinados R$ 50 mil pela mesma Petróleo Ipiranga. Ex-presidente da República, o senador Fernando Collor possui R$ 14.875,20 em ações da Petrobras.
Além das doações e investimentos envolvendo empresas de petróleo, os congressistas têm em comum o fato de serem membros da CPI da Petrobras, instalada nesta terça-feira, 14, com o objetivo de investigar irregularidades e fraudes na estatal.
Leia também:
» Opine aqui sobre a CPI da Petrobras
» Jucá: CPI não será chapa branca, nem incendiária
» Lula pede a governistas em CPI para "cuidarem" da Petrobras
» CPI pode apurar contratos entre Petrobras e Fundação Sarney
Explicação necessária: a Petrobras concluiu a aquisição de parte dos ativos da Petróleo Ipiranga em 2007. Hoje, a estatal detém os ativos da Ipiranga referentes aos "negócios de distribuição de combustíveis e lubrificantes localizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste", além de uma participação de 40% nos ativos que a Ipiranga Petroquímica possui sobre a Copesul (Companhia Petroquímica do Sul).
A petrolífera nacional também compartilha, em igualdade com a Ultrapar e a Braskem, os ativos relacionados "às operações de refino de petróleo" detidos pela Ipiranga. Questionada por Terra Magazine, a assessoria da Petrobras não divulgou os valores envolvidos no negócio.
Apesar de ser uma iniciativa dos partidos de oposição, a CPI da Petrobras é controlada pela base do governo: dos 11 titulares da comissão, oito engrossam as fileiras governistas, ante apenas três da frente tucano-democrata.
Aos navegantes atentos, Terra Magazine oferece um levantamento do histórico de cada um dos membros da comissão. As informações abrangem desde laços de parentesco a doações eleitorais, passando por patrimônio declarado e processos na Justiça. Os dados foram coletados no Tribunal Superior Eleitoral, nos sites do Projeto Excelências e do Congresso em Foco , além de pesquisas em jornais.
Confira, a seguir, o perfil de cada um dos membros da CPI da Petrobras:
Álvaro Dias (PSDB-PR)
Informe aqui sobre o senador Álvaro Dias
Formado em História, é proprietário rural e irmão do também senador Osmar Dias (PDT-PR). Dele partiu o requerimento para a criação da CPI da Petrobras. Em novembro de 2008, uma sobrinha de Dias foi exonerada de seu gabinete pelo Senado, em cumprimento a uma norma do STF (Supremo Tribunal Federal) contra o nepotismo. Recebeu um total de R$ R$ 1.523.384,21 na campanha eleitoral de 2006 - cuja maior doação, no valor de R$ 400 mil, foi feita pela Unimed do Paraná.
De seu patrimônio, declarado em R$ 1.904.924,90, constam uma fazenda de 144 hectares no município de Porecatu (PR), avaliada em R$ 268.963,00, além de uma BMW 320 de R$ 120.000,00. De fevereiro de 2008 até fins de maio deste ano*, gastou R$ 151.147,11 em verba indenizatória.
ACM Júnior (DEM-BA)
Informe aqui sobre o senador ACM Júnior
Empresário, entrou na política depois de assumir uma cadeira de senador como suplente, após a morte do pai, Antonio Carlos Magalhães, em julho de 2007. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, foi um dos senadores beneficiados pela edição de atos secretos. É um dos donos da Rede Bahia de Comunicação - proprietária do jornal Correio da Bahia, além de concessões de rádio e TV.
Ao todo, a campanha de ACM pai recebeu R$ 717.111,29 em doações eleitorais. Principais doares: João Carlos DiGenio (R$ 100 mil), dono da rede Objetivo de ensino e da Universidade Paulista (Unip) e amigo pessoal de ACM; Cia de Seguros Alianças da Bahia (R$ 100 mil); Navegação Vale do Rio Doce (R$ 100 mil) e Cia Brasileira de Petróleo Ipiranga (R$ 60 mil). Gastou R$ 218.265,26 em verba indenizatória.
Fernando Collor (PTB-AL)
Informe aqui sobre o senador Fernando Collor
Velho conhecido dos brasileiros, o ex-presidente tem sob suas costas uma série de processos e acusações: a Ação Penal Nº451/200, por falta de recolhimento de imposto de renda, e Ação Penal Nº465/2008, por falsidade ideológica, peculato, corrupção passiva, tráfico de influência e corrupção ativa - ambas em tramitação no STF. Sofreu impeachment em 1992. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, foi um dos senadores beneficiados pela edição de atos secretos.
Possui 12 concessões de radiodifusão em Maceió (AL), além de um patrimônio declarado de R$ 4.806.389,13, que inclui a participação em diversas empresas, imóveis em Brasília, Maceió e São Paulo, uma BMW 745 de R$ 360.000,00, uma lancha de R$ 27.758,90 e 320 ações da Petrobras no valor de R$ 14.875,70. Collor poderia perder o mandato se o limite de 33,3% de faltas às sessões legislativas do Senado fosse respeitado; segundo o Congresso em Foco, Collor teve índice de 42,11% em 2007. Gastou R$ 133.860,76 com verba indenizatória, e recebeu um total de R$ 41.065,15 em doações à campanha eleitoral.
Ideli Salvatti (PT-SC)
Informe aqui sobre a senadora Ideli Salvatti
Professora de física e ex-sindicalista. Em 2005, foi investigada pelo Ministério Público Federal de Tubarão (SC) por suposto financiamento de outdoors como propaganda pessoal em Santa Catarina, o que mostraria vencimentos insuficientes para custear os anúncios - que são vedados pela Constituição. Recebeu R$ 222.425,00 de doação eleitoral em 2002, e gastou R$ 248.985,12 em verba indenizatória.
Jefferson Praia (PDT-AM)
Informe aqui sobre o senador Jefferson Praia
Professor universitário, assumiu a cadeira de senador após a morte de Jefferson Peres (PDT), em 2008. Em sua campanha eleitoral, em 2002, Peres recebeu um total de R$ 148.700,00 em doações, dentre os quais R$ 66.100,00 do empresário e governador de Amazonas, Carlos Eduardo Braga, além de R$ 60 mil da Recofarma e R$ 20.900,00 da Philips do Brasil.
João Pedro (PT-AM)
Informe aqui sobre o senador João Pedro
Presidente da comissão. Ex-superintende do Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária), em 2003, tomou posse como suplente de Alfredo Nascimento (PR), nomeado para o Ministério dos Esportes. Terá de ressarcir o erário por ter ocupado apartamento funcional do Senado enquanto recebia auxílio-moradia. Possui bens declarados no valor de R$ 594.723,00.
A campanha de Nascimento angariou R$ 1.286.500,00 em doações em 2006, e os principais doadores foram a Koleta Ambiental, com R$ 200 mil, seguida pelas empresas Home Serviços, EAH Empresa Amazonense de Hotelaria, MCD Carvalho e Marfel Indústria de Plásticos, com R$ 100 mil cada. Gastou R$ 150.299,04 em verbas indenizatórias.
Marcelo Crivella (PRB-RJ)
Informe aqui sobre o senador Marcelo Crivella
Vice-presidente da comissão. Engenheiro, é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, foi um dos senadores beneficiados pela edição de atos secretos. É proprietário de concessão de radiodifusão em Franca (SP), e foi diretor de planejamento da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop). Candidatou-se duas vezes à prefeitura carioca: em 2004, pelo PL, e em 2008 e pelo PRB. Tem bens declarados no valor de R$ 180.900,00, e recebeu R$ 418.669,62 em doações para a campanha que o elegeu ao Senado em 2002; a maior contribuição, no valor de R$ 60 mil, foi feita pela Trasncosul Construção Ltda. Gastou R$ 209.673,95 com verba indenizatória.
Paulo Duque (PMDB-RJ)
Informe aqui sobre o senador Paulo Duque
Deputado estadual no Rio de Janeiro entre 1963 e 1987 e entre 1991 e 1999, assumiu a cadeira de senador após a ida de Regis Fichtner para o Gabinete Civil flumimense - este, por sua vez, havia assumido como suplente do hoje governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
Em 2002, a campanha de Cabral havia arrecadado R$ 1.306.141,95, com as maiores doações vindas da União de Lojas Leader (R$ 210 mil) e da Docas Investimentos (R$ 100 mil), além de uma doação de R$ 20 mil da Cia Brasileira de Petróleo Ipiranga. Com verba indenizatória, Duque já gastou R$ 217.769,25.
Romero Jucá (PMDB-RR)
Informe aqui sobre o senador Romero Jucá
Relator da CPI. Economista, é senador desde 1995 e já foi governador do então território de Roraima (1988 a 1992). Tem patrimônio declarado de R$ 512.301,03. É proprietário de concessão de radiodifusão em Bezerros (PE). Também é alvo de dois inquéritos no STF: o de Nº2663/2007, por captação ilícita de votos e corrupção eleitoral; e o de Nº2116/2004, por desvio de verbas públicas praticado por prefeito.
Na campanha eleitoral de 2002, recebeu um total de R$ 413.184,86 em doações eleitorais, com destaque para a OPP Química (R$ 200 mil) e para a Cia Brasileira de Petróleo Ipiranga (R$ 50 mil). Gastou R$ 179.498,35 em verba indenizatória.
Sérgio Guerra (PSDB-PE)
Informe aqui sobre o senador Sérgio Guerra
Presidente nacional do PSDB, tem contra si uma ação de Ipugnação de Mandato Eletivo (Nº1/2002) no TRE-PB, sob sigilo de justiça. É um dos congressistas que poderiam perder o mandato se o limite de 33,3% de faltas às sessões legislativas do Senado fosse respeitado; segundo o site Congresso em Foco, Guerra teve índice de ausência de 35,2% em 2007.
Recebeu R$ 734.060,22 na campanha eleitoral em 2002, com destaque para as contribuições da CSN (R$ 248.080,00) e da Vicunha Têxtil (R$ 138.703,05), além da Navegação Vale do Rio Doce e da Cia Brasileira de Petróleo Ipiranga (R$ 50 mil doados por cada). Gastou R$ 211.550,84 em verba indenizatória.
Valdir Raupp (PMDB-RO)
Informe aqui sobre o senador Valdir Raupp
Administrador de empresas, foi governador de Rondônia pelo PMDB entre 1995 e 1999. Tem contra si duas ações penais (nº 383 e 384) no STF (Supremo Tribunal Federal), por gestão fraudulenta de instituição financeira e crime contra a administração pública e peculato, além de três inquéritos (nº 2442, 2027 e 1990) em andamento no tribunal por desvio de verbas em obras, crime contra o sistema financeiro nacional e crime eleitoral.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, foi um dos senadores beneficiados pela edição de atos secretos. Na campanha que o elegeu, em 2002, declarou ter recebido R$ 293.700,00 em doações eleitorais - a maior parte vinda do próprio bolso. Destaque para uma contribuição de R$ 20 da Rondônia Rural Agropecuária Ltda. Gastou R$ 236.287,64 com verba indenizatória.
* Todos os gastos com verba indenizatória foram contabilizados do mês de fevereiro de 2008 até maio deste ano.
Terra Magazine
Nenhum comentário:
Postar um comentário