16 de jul. de 2009

O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky e a manipulação da mídia

Por razão de o renomado intelectual Noam Chomsky defender, desde a década de 1970, os princípios do socialismo libertário, achamos por bem escrever esse artigo, cujo objetivo está na análise da relação de seu pensamento – uma constante busca de transformação social – com o anarquismo. A tentativa de trazer as tradicionais lições dos clássicos anarquistas do final do século XIX e início do século XX para os dias de hoje, colocando-as como possíveis soluções para os problemas do mundo em que vivemos, é, em grande medida, o que nos motiva a estudar o autor e debater uma série de questões que é levantada por ele.

Chomsky ficou conhecido, principalmente, pelos seus escritos contra a política externa norte-americana e suas análises da política e da economia do mundo, o que podemos encontrar em seus Novas e Velhas Ordens Mundiais, Contendo a Democracia, O Império Americano e Ano 501: a conquista continua. Além disso, apresentou instigantes análises da forma como as corporações vêm dominando o mundo, da economia global e do movimento de resistência, em O Lucro ou as Pessoas. Fez notáveis análises dos atentados terroristas em 11 de Setembro, interessantes observações em seus escritos sobre mídia, tais como Controle da Mídia: os espetaculares feitos da propaganda e A Manipulação do Público, entre tantas outras publicações. Chomsky ficou também conhecido por razão de seus importantes livros sobre lingüística tais como Estruturas Sintáticas, Aspectos da Teoria da Sintaxe, e Lingüística Cartesiana.[1] Isso geralmente é de conhecimento daqueles que admiram e conhecem um pouco da vasta obra do autor. Muitos, no entanto, não sabem dessa defesa explícita dos princípios do socialismo libertário. Por esse motivo, achamos por bem mostrar esse “outro” Chomsky. Dizemos um outro Chomsky, e assim fizemos questão de mencionar por diversas vezes na apresentação de seu livro Notas sobre o Anarquismo[2] – cuja organização e tradução também foi fruto de nosso trabalho –, pois seus escritos sobre lingüística, política externa dos EUA, etc. são facialmente encontrados e muito conhecidos. Ao contrário, seus textos discutindo anarquismo, são pouco conhecidos e até por isso, surgiu a proposta do livro, que seria mostrar esse “novo” Chomsky. Trazer à tona textos que estavam “perdidos” em antigos periódicos anarquistas, em livros nunca traduzidos ao português e mostrar a atualidade do pensamento libertário presente em Chomsky.

Há um fator de muita importância na forma com que Chomsky apresenta seu pensamento. Sua concepção do papel dos intelectuais, muito bem exposta em seu artigo The Responsibility of Intellectuals [A Responsabilidade dos Intelectuais] de 1967, coloca sobre estes o dever de “denunciar as mentiras dos governos, analisar as ações de acordo com suas causas, seus motivos e as suas intenções, que são freqüentemente escondidas”. Para ele, o mundo ocidental daria aos intelectuais esse poder, fruto de sua liberdade política, de seu acesso à informação e de sua liberdade de expressão. Mais ainda: por constituírem uma pequena e privilegiada minoria, os intelectuais acabariam sendo beneficiados pois “a democracia ocidental proporciona o tempo disponível, as habilidades e a instrução para a busca da verdade que está escondida atrás da máscara da distorção e da falsidade, da ideologia e do interesse de classe”, fatores esses, que acabam por influenciar os fatos que chegam até nós. Chomsky constrói seu pensamento do anarquismo sobre estes mesmos alicerces. Em momento algum, coloca-se como um explorado ou um simples proletário. Seria inclusive cínico de sua parte caso o fizesse. Ele acaba por colocar-se como um intelectual privilegiado, que mora num país que proporciona a seus cidadãos condições privilegiadas e cujo conhecimento e respeito que tem, terminam por propiciar-lhe maiores liberdades. É nesse sentido que Chomsky buscará transformar as realidades do mundo, utilizando como vantagens, as condições em que está imerso.

Algo que nos admira é que, apesar de um grande e erudito intelectual com quase 50 anos de academia, Chomsky consegue fazer-se entender por exemplos simples e um palavreado altamente acessível para qualquer um que queira compreender seu pensamento. Em grande medida, pode-se atribuir também a esse motivo, a relação que tentamos estabelecer entre o pensamento de Chomsky e de Errico Malatesta, anarquista italiano cujos textos tinham, apesar de um conteúdo de grande relevância, uma forma simples, de fácil compreensão. Apesar de Malatesta nunca ser citado nos textos e entrevistas de Chomsky, parece-nos inevitável que existam alguns pontos de convergência entre os dois, tanto na forma quanto no conteúdo de seus escritos. Por ora, entretanto, cabe-nos ressaltar apenas essa similaridade – dos escritos de forma simples e com grande conteúdo –, algo que acabamos por considerar uma qualidade.

Nosso intento, ao escrever sobre o pensamento de Noam Chomsky, reflete, como já dito, um esforço na atualização das idéias anarquistas, e Chomsky, apesar de polêmico – veremos o porquê durante o texto – tem a base de suas idéias construída sobre os clássicos anarquistas. Propõe, do nosso ponto de vista, uma interessante tentativa em trazer a discussão do anarquismo para os dias de hoje. Identificamos, por isso, para a compreensão de seu pensamento e das suas relações com os princípios libertários, dez aspectos que tentarão dar conta deste assunto. No entanto, para uma compreensão mais aprofundada, sugerimos a leitura do material selecionado por nós em Notas sobre o Anarquismo. Tentaremos também, relacionar alguns autores com esses dez conceitos chomskyanos do anarquismo e do pensamento libertário.

Por Felipe Corrêa - 15.06.09
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