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21 de set. de 2012

Na XVI Pan-Amazônica do Livro são aguardados cerca de 450 mil pessoas


Feira de Livros. Foto: Hangar
A programação reunirá 218 estandes e contará com apresentações culturais

A 16a edição da Feira Pan-Amazônica do Livro, que acontece entre os dias 21 e 30 de setembro, em Belém, terá a presença de diversos expositores de vários cantos do país. A cada ano, o evento literário de maior dimensão da Região Norte surpreende pelos números, tanto de público quanto de vendas. São esperados cerca de 450 mil visitantes. Sediada no Hangar  Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, a programação reunirá 218 estandes e contará com apresentações teatrais, homenagens, gincanas, seminários e debates.

16 de jun. de 2012

Flip 2012 já vendeu 15 mil ingressos

O escritor Jonathan Franzen, um dos convidados da Flip 2012
Já foram vendidos 15 mil ingressos para a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), segundo informações dos organizadores. Ainda há ingressos para assistir a todas as mesas da Tenda do Telão (em que um telão transmite a mesa ao vivo).

15 de mar. de 2012

"Os homens passam, os livros ficam." José Mindlin


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 papo_cabecaJosé Mindlin *

Não é exagero: este homem foi uma biblioteca. Mas não apenas por ser um leitor voraz, capaz de ler 100 livros por ano, e sim porque sua biblioteca de livros "ciumentos" é sua grande obra. A ela devotou a vida. E agora a entrega ao mundo. Foi secretário de cultura, combatendo o regime militar dentro do governo. Acreditou numa tecnologia brasileira, e na empresa que fundou, num tempo em que mal havia patrocínio cultural, viabilizou obras artísticas fundamentais. Mais do que um homem notável, José Mindlin foi uma figura encantadora. Na despedida, nos vem com essa: ” Não entendo por que todos que vêm aqui me visitar são tão simpáticos…”

20 de fev. de 2011

A PISADA NA BOLA DO ZIRALDO.

Carta Aberta ao Ziraldo
                             por Ana Maria Gonçalves



Caro Ziraldo,
Olho a triste figura de Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca "Que merda é essa?" e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos, e por breves momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista Monteiro Lobatoque, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: "(...)Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!..." (em "A barca de Gleyre". São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).
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Ironia das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho acima é inspirado em um quadro do pintor suíço Charles Gleyre (1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que aconteceu. Porque lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim o endossa : "Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista". A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza absoluta da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje. Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre (nem todas estão publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as censurou, claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que sabia que a escrita "é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente".
Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não vêem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro "O presidente negro ou O choque das raças" que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele povo que odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil. Primeiro em capítulos no jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era colaborador, e logo em seguida em edição da Editora Companhia Nacional, pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência trocada pelos dois: “Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha".
Impossibilitado de colher os frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel: "Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois de tantos séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros." Tempos depois, voltou a se animar: "Um escândalo literário equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor (...) Esse ovo de escândalo foi recusado por cinco editores conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas acaba de encher de entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais matéria de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um capítulo no qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados Unidos do México e toda essa infecção spanish da América Central. O meu judeu acha que com isso até uma proibição policial obteremos - o que vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai na Inglaterra e entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos". Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais, ser mais claro em suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo, não importando a quem atingiria e nem por quanto tempo perduraria, e nem o quão fundo se instalaria na sociedade brasileira. Importava o dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares, ele pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu, reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura.
Você sabe que isso dá dinheiro, Ziraldo, mesmo que o investimento tenha sido a longo prazo, como ironiza Ivan Lessa: "Ziraldo, o guerrilheiro do traço, está de parabéns. Finalmente o governo brasileiro tomou vergonha na cara e acabou de pagar o que devia pelo passe de Jeremias, o Bom, imortal personagem criado por aquele que também é conhecido como “o Lamarca do nanquim”. Depois do imenso sucesso do calunguinha nas páginas de diversas publicações, assim como também na venda de diversos produtos farmacêuticos, principalmente doenças da tireóide, nos idos de 70, Ziraldo, cognominado ainda nos meios esclarecidos como “o subversivo da caneta Pilot”, houve por bem (como Brutus, Ziraldo é um homem de bem; são todos uns homens de bem – e de bens também) vender a imagem de Jeremias para a loteca, ou seja, para a Caixa Econômica Federal (federal como em República Federativa do Brasil) durante o governo Médici ou Geisel (os déspotas esclarecidos em muito se assemelham, sendo por isso mesmo intercambiáveis)".
No tempo em que linchavam negros, disse Lobato, como se o linchamento ainda não fosse desse nosso tempo. Lincham-se negros nas ruas, nas portas dos shoppings e bancos, nas escolas de todos os níveis de ensino, inclusive o superior. O que é até irônico, porque Lobato nunca poderia imaginar que chegariam lá. Lincham-se negros, sem violência física, é claro, sem ódio, nos livros, nos artigos de jornais e revistas, nos cartoons e nas redes sociais, há muitos e muitos carnavais. Racismo não nasce do ódio ou amor, Ziraldo, sendo talvez a causa e não a consequência da presença daquele ou da ausência desse. Racismo nasce da relação de poder. De poder ter influência ou gerência sobre as vidas de quem é considerado inferior. "Em que estado voltaremos, Rangel," se pergunta Lobato, ao se lembrar do quadro para justificar a escolha do nome do livro de cartas trocadas, "desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca – e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de velas novas e arrogantes, atadas ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões". Ah, Ziraldo, quanta ilusão (ou seria petulância? arrogância; talvez? sensação de poder?) achar que impor à mulata a presença de Lobato nessa festa tipicamente negra, vá acabar com a polêmica e todos poderemos soltar as ancas e cada um que sambe como sabe e pode. Sem censura. Ou com censura, como querem os quemerdenses. Mesmo que nesse do Caçadas de Pedrinho a palavra censura não corresponda à verdade, servindo como mero pretexto para manifestação de discordância política, sem se importar com a carnavalização de um tema tão dolorido e tão caro a milhares de brasileiros. E o que torna tudo ainda mais apelativo é que o bloco aponta censura onde não existe e se submete, calado, ao pedido da prefeitura para que não use o próprio nome no desfile. Não foi assim? Você não teve que escrever "M*" porque a palavra "merda" foi censurada? Como é que se explica isso, Ziraldo? Mente-se e cala-se quando convém? Coerência é umaquestão de caráter.
ziraldo_direitos_humanos.jpgO que o MEC solicita não é censura. É respeito aos Direitos Humanos. Ao direito de uma criança negra em uma sala de aula do ensino básico e público, não se ver representada (sim, porque os processos indiretos, como Lobato nos ensinou, "work" muito mais eficientemente) em personagens chamados de macacos, fedidos, burros, feios e outras indiretas mais. Você conhece os direitos humanos, inclusive foi o artista escolhido para ilustrar aCartilha de Direitos Humanosencomendada pela Presidência da República, pelas secretarias Especial de Direitos Humanos e de Promoção dos Direitos Humanos, pela ONU, a UNESCO, pelo MEC e por vários outros órgãos. Muitos dos quais você agora desrespeita ao querer, com a sua ilustração, acabar de vez com a polêmica causada por gente que estudou e trabalhou com seriedade as questões de educação e desigualdade racial no Brasil. A adoção do Caçadas de Pedrinho vai contra a lei de Igualdade Racial e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que você conhece e ilustrou tão bem. Na página 25 da sua Cartilha de Direitos Humanos, está escrito: "O único jeito de uma sociedade melhorar é caprichar nas suas crianças. Por isso, crianças e adolescentes têm prioridade em tudo que a sociedade faz para garantir os direitos humanos. Devem ser colocados a salvo de tudo que é violência e abuso. É como se os direitos humanos formassem um ninho para as crianças crescerem." Está lá, Ziraldo, leia de novo: "crianças e adolescentes têm prioridade". Em tudo. Principalmente em situações nas quais são desrespeitadas, como na leitura de um livro com passagens racistas, escrito por um escritor racista com finalidades racistas. Mas você não vê racismo e chama de patrulhamento do politicamente correto e censura. Você está pensando nas crianças, Ziraldo? Ou com medo de que, se a moda pega, a "censura" chegue ao seu direito de continuar brincando com o assunto? "Acho injusto fazer isso com uma figura da grandeza de Lobato", você disse em uma reportagem. E com as crianças, o público-alvo que você divide com Lobato, você acha justo? Sim, vocês dividem o mesmo público e, inclusive, alguns personagens, como uma boneca e pano e o Saci, da sua Turma do Pererê. Medo de censura, Ziraldo, talvez aos deslizes, chamemos assim, que podem ser cometidos apenas porque se acostuma a eles, a ponto de pensar que não são, de novo chamemos assim, deslizes.
A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu menino marrom se acostumou com as sandálias de dedo: "O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele" (ZIRALDO, 1986,p. 06, em O Menino Marrom). O menino marrom, embora seja a figura simpática e esperta e bonita que você descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em comparação ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque "(...) um já está quase formado e o outro não estuda mais (...). Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo (...), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois (...). Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na contramão (...). Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? – se amarra é num pagode. (...) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom" (ZIRALDO, 1986, p.31). O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você nos mostra aqui: "(...) o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria professora tinha ensinado para ele a diferença e a (não) mistura das cores. Então ele pensou que "Ficar sozinho, às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas. Nessa de saber de cor e de luz (...) o menino marrom começou a entender porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!" (ZIRALDO, 1986, p.29), e que deveria se conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao ser ensinado que, daquela beleza, pureza e alegria que havia na cor branca, ele não tinha nada. O seu texto nos ensina que é assim, sem ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu lugar, com docilidade e resignação: "Meu querido amigo: Eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco" (ZIRALDO, 1986, p.30).
Olha que interessante, Ziraldo: nós que sabemos do racismo confesso de Lobato e conseguimos vê-lo em sua obra, somos acusados por você de "macaquear" (olha o termo aí) os Estados Unidos, vendo racismo em tudo. "Macaqueando" um pouco mais, será que eu poderia também acusá-lo de estar "macaqueando" Lobato, em trechos como os citados acima? Sem saber, é claro, mas como fruto da introjeção de um "processo" que ele provou que "work" com grande eficiência e ao qual podemos estar todos sujeitos, depois de sermos submetidos a ele na infância e crescermos em uma sociedade na qual não é combatido. Afinal, há quem diga que não somos racistas. Que quem vê o racismo, na maioria os negros, que o sofrem, estão apenas "macaqueando". Deveriam ficar calados e deixar dessa bobagem. Deveriam se inspirar no menino marrom e se resignarem. Como não fazem muitos meninos e meninas pretos e marrons, aqueles que são a ausência do branco, que se chateiam, que se ofendem, que sofrem preconceito nas ruas e nas escolas e ficam doídos, pensando nisso o tempo inteiro, pensando tanto nisso que perdem a vontade de ir à escola,começam a tirar notas baixas porque ficam matutando, ressentindo, a atenção guardadinha lá debaixo da dor. E como chegam à conclusão de que aquilo não vai mudar, que não vão dar em nada mesmo, que serão sempre pés-de-chinelo, saem por aí especializando-se na arte de esperar pelo atropelamento de velhinhas.
Racismo é um dos principais fatores responsáveis pela limitada participação do negro no sistema escolar, Ziraldo, porque desvia o foco, porque baixa a auto-estima, porque desvia o foco das atividades, porque a criança fica o tempo todo tendo que pensar em como não sofrer mais humilhações, e o material didático, em muitos casos, não facilita nada a vida delas. E quando alguma dessas crianças encontra um jeito de fugir a esse destino, mesmo que não tenha sido através da educação, fica insuportável e merece o linchamento público e exemplar, como o sofrido por Wilson Simonal. Como exemplo, temos a sua opinião sobre ele: "Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido, insuportável". Sabe, Ziraldo, é por causa da perpetuação de estereótipos como esses que às vezes a gente nem percebe que eles estão ali, reproduzidos a partir de preconceitos adquiridos na infância, que a SEPPIR pediu que o MEC reavaliasse a adoção de Caçadas de Pedrinho. Não a censura, mas a reavaliação. Uma nota, talvez, para ser colocada junto com as outras notas que já estão lá para proteger os direitos das onças de não serem caçadas e o da ortografia, de evoluir. Já estão lá no livro essas duas notas e a SEPPIR pede mais uma apenas, para que as crianças e os adolescentes sejam "colocados a salvo de tudo que é violência e abuso", como está na cartilha que você ilustrou. Isso é um direito delas, como seres humanos. É por isso que tem gente lutando, como você também já lutou por direitos humanos e por reparação. É isso que a SEPPIR pede: reparação pelos danos causados pela escravidão e pelo racismo.
Assim você se defendeu de quem o atacou na época em que conseguiu fazer valer os seus direitos: "(…) Espero apenas que os leitores (que o criticam) não tenham sua casa invadida e, diante de seus filhos, sejam seqüestrados por componentes do exército brasileiro pelo fato de exercerem o direito de emitir sua corajosa opinião a meu respeito, eu, uma figura tão poderosa”. Ziraldo, você tem noção do que aconteceu com os, citando Lobato, "negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão", e do que acontece todos os dias com seus descendentes em um país que naturalizou e, paradoxalmente, nega o seu racismo? De quantos já morreram e ainda morrem todos os dias porque tem gente que não os leva a sério? Por causa do racismo é bem difícil que essa gente fadada a ser pé-de-chinelo a vida inteira, essas pessoas dos subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal, - porque nelas está a ausência do branco, esse povo todo representado pela mulata dócil que você faz sorrir nos braços de um dos escritores mais racistas e perversos e interesseiros que o Brasil já teve, aquele que soube como ninguém que um país (racista) também de faz de homens e livros (racistas), por causa disso tudo, Ziraldo, é que eu ia dizendo ser quase impossível para essa gente marrom, herdeira dessa gente de cor que simboliza a angústia, a solidão, a tristeza, gerar pessoas tão importantes quanto você, dignas da reparação (que nem é financeira, no caso) que o Brasil também lhes deve: respeito. Respeito que precisou ser ancorado em lei para que tivesse validade, e cuja aplicação você chama de censura.menino-lendo.jpg
Junto com outros grandes nomes da literatura infantil brasileira, como Ana Maria Machado eRuth Rocha, você assinou uma carta que, em defesa de Lobato e contra a censura inventada pela imprensa, diz: "Suas criações têm formado, ao longo dos anos, gerações e gerações dos melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas obras, viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu modo, a repetir seu destino. (...) A maravilhosa obra de Monteiro Lobato faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças. Nenhum de nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros de Lobato nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar esperança em seu futuro. Ela inaugura, nos albores do século passado, nossa confiança nos destinos do Brasil e é um dos pilares das nossas melhores conquistas culturais e sociais." É isso. Nos livros de Lobato está o racismo do racista, que ninguém vê, que vocês acham que não é problema, que é alicerce, que é necessário à formação das nossas futuras gerações, do nosso futuro. E é exatamente isso. Alicerce de uma sociedade que traz o racismo tão arraigado em sua formação que não consegue manter a necessária distância do foco, a necessário distância para enxergá-lo. Perpetuar isso parece ser patriótico, esse racismo que "faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças." Sabe o que Lobato disse em carta ao seu amigo Poti, nos albores do século passado, em 1905? Ele chamava de patriota o brasileiro que se casasse com uma italiana ou alemã, para apurar esse povo, para acabar com essa raça degenerada que você, em sua ilustração, lhe entrega de braços abertos e sorridente. Perpetuar isso parece alimentar posições de pessoas que, mesmo não sendo ou mesmo não se achando racistas, não se percebem cometendo a atitude racista que você ilustrou tão bem: entregar essas crianças negras nos braços de quem nem queria que elas nascessem. Cada um a seu modo, a repetir seu destino. Quem é poderoso, que cobre, muito bem cobrado, seus direitos; quem não é, que sorria, entre na roda e aprenda a sambar.
Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter algum. E, sem ódio, espero que você não queira que eu morra por te criticar. Como faziam os racistas nos tempos em quem ainda linchavam negros. Esses abusados que não mais se calam e apelam para a lei ao serem chamados de "macaco", "carvão", "fedorento", "ladrão", "vagabundo", "coisa", "burro", e que agora querem ser tratados como gente, no concerto dos povos. Esses que, ao denunciarem e quererem se livrar do que lhes dói, tantos problemas criam aqui, nesse país do futuro. Em uma matéria do Correio Braziliense você disse que "Os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização como a Ku Klux Klan. No Brasil, onde branco rico entra, preto rico também entra. Pelé nunca foi alvo de uma manifestação de ódio racial. O racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos”. Se dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido sua Ku-Klux-Klan, Ziraldo. Leia só o que ele disse em carta ao amigo Arthur Neiva, enviada de Nova Iorque em 1928, querendo macaquear os brancos norte-americanos: "Diversos amigos me dizem: Por que não escreve suas impressões? E eu respondo: Porque é inútil e seria cair no ridículo. Escrever é aparecer no tablado de um circo muito mambembe, chamado imprensa, e exibir-se diante de uma assistência de moleques feeble-minded e despidos da menos noção de seriedade. Mulatada, em suma. País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para altos destinos. André Siegfred resume numa frase as duas atitudes. "Nós defendemos o front da raça branca - diz o sul - e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo Brasil". Um dia se fará justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca - mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva." Fosse feita a vontade de Lobato, Ziraldo, talvez não tivéssemos a imprensa carioca, talvez não tivéssemos você. Mas temos, porque, como você também diz, "o racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos." Como, para acabar com a polêmica, você nos ilustra com o desenho para o bloco quemerdense. Olho para o rosto sorridente da mulata nos braços de Monteiro Lobato e quase posso ouvi-la dizer: "Só dói quando eu rio".
Com pesar, e em retribuição ao seu afeto,
Ana Maria Gonçalves
Negra, escritora, autora de Um defeito de cor.
 
ana_maria_goncalves1.jpgA mineira Ana Maria Gonçalves abandonou em 2002 a agência de publicidade em que trabalhava em São Paulo e isolou-se na Ilha de Itaparica, na Bahia, onde passou seis meses escrevendo seu primeiro romance, Ao lado e à margem do que sentes por mim, marcado pelo registro intimista. O livro foi publicado de forma independente e vendido pela própria autora pela internet.


Totalmente sugado do Blog Biscoito Fino

OCUPAÇÃO HAROLDO DE CAMPOS H LÁXIA

De 17 de fevereiro a 10 de abril de 2011, a nona edição do projeto criado pelo Itaú Cultural, Ocupação homenageia o poeta, ensaísta e tradutor Haroldo de Campos. A exposição trata do processo criativo do escritor e apresenta instalações - conhecidas e também inéditas - baseadas em sua obra, além de registrar seu percurso intelectual e artístico. O evento também conta com um ciclo de debates e acontece na sede do Itaú Cultural e na Casa das Rosas, parceira da atividade, em São Paulo.

A mostra se divide em vários núcleos. No instituto, a instalação H LÁXIA, de Livio Tragtenberg, permite a imersão na obra de Haroldo, com a participação ativa do público, que pode gravar seus depoimentos. Já na "bibliocasa" de Haroldo, marginálias, edições especiais de seus livros, fotos, manuscritos, datiloscritos e edições anotadas e com dedicatórias.

Viagem Poética

A Casa das Rosas exibe o percurso poético do autor de Galáxias. A sala "O Â Mago do Ô Mega" abriga a série de cartazes da histórica Exposição Nacional de Arte Concreta (MAM/SP). No mesmo ambiente, o visitante ouve uma composição musical com poemas declamados por Haroldo. Na sala "Percurso Poético", o foco é o cotidiano do autor: com base nos livros A Educação dos Cinco Sentidos e Crisantempo: no Espaço Curvo Nasce Um, sua relação com a esposa e com a poesia, entre outros.

Duas outras salas destacam alguns dos livros do poeta. "A Máquina do Mundo Repensada" é baseada no livro de mesmo nome e faz dialogarem Dante, Camões, Drummond e a física contemporânea. "Do Céu ao Chão" explora Signantia Quasi Coelum / Signância Quase Céu e percorre caminho inverso ao de Dante em A Divina Comédia: segue do paraíso ao inferno. Por fim, no espaço externo, uma instalação apresenta o poema "Servidão de Passagem".

Além das mostras físicas, o projeto prepara um site especial, com parte do material exposto e atrativos exclusivos.

A Ocupação Haroldo de Campos é uma parceria entre o Itaú Cultural, a Casa das Rosas e o Governo do Estado de São Paulo.


OCUPAÇÃO HAROLDO DE CAMPOS - H LÁXIA

ABERTURA
Quarta, 16 de fevereiro, 20h.
Leitura de poemas de Haroldo de Campos por Arnaldo Antunes, Frederico Barbosa e Livio Tragtenberg.

Entrada franca.

Espetáculos, palestras, mesas-redondas e debates complementam a mostra, a partir de quinta, 17 de fevereiro a domingo, 10 de abril.

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ITAÚ CULTURAL
Terça a sexta, das 9h às 20h
Sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h.
Av. Paulista, 149
Fone: (11) 2168-1777
www.itaucultural.org.br
twitter.com/itaucultural

Programação - Itaú Cultural
quarta 16 fevereiro
20h Abertura - Leitura de poemas de Haroldo de Campos. | com Arnaldo Antunes, Frederico Barbosa e Livio Tragtenberg

sábado 12 domingo 13 março
20h Multitudo - Recital multimídia tece um panorama da obra poética de Haroldo de Campos. | por Coletivo Mallarmídia Lab  | com Frederico Barbosa, Marcelo Ferretti e Susanna Busato

sábado 9 domingo 10 abril
10h PARALÁXIA - Oficina de criação multidisciplinar. Os participantes desenvolverão criações textuais, musicais, videográficas e performáticas. | por Livio Tragtenberg

20h Ga-Galáxias - Show musical e visual concebido e dirigido por Livio Tragtenberg, com base em fragmentos de Galáxias.| por Livio Tragtenberg, José da Harpa Paraguaia, Peneira & Sonhador e banda

CASA DAS ROSAS
Terça a sábado, das 10h às 22h.
Domingo e feriado, das 10 às 18h.
Av. Paulista, 37
Fone: (11) 3285-6986
www.casadasrosas-sp.org.br
twitter.com/casadasrosas

Programação - Casa das Rosas
domingo 20 fevereiro
17h mesa-redonda Ocupação Haroldo de Campos - H LAXIA - debate sobre a concepção do evento, o processo de criação de Haroldo, seu percurso poético, suas relações | com Frederico Barbosa, Gênese Andrade, Livio Tragtenberg e Marcelo Tápia | mediação Claudiney Ferreira

domingo 27 fevereiro
17h palestra Convívio de Poetas: Ernesto de Melo e Castro e Haroldo de Campos - a relação pessoal do poeta português com Haroldo, seu olhar como leitor e crítico e a recepção de sua própria obra pelo escritor | por Ernesto de Melo e Castro |apresentação Gênese Andrade

domingo 13 março
17h mesa-redonda Haroldo de Campos, Poesia e Música - Os músicos falam da experiência de trabalhar com Haroldo e da convivência com o poeta | por Cid Campos e Péricles Cavalcanti | apresentação Livio Tragtenberg

domingo 20 março
17h palestra Haroldo de Campos e o Cinema - Abordagem sobre a relação da obra de Haroldo com o cinema, especialmente o trabalho realizado por Julio Bressane | por Donny Correia  | apresentação Marcelo Tápia

domingo 27 março
17h mesa-redonda Literatura em Exposição: Mostras sobre Escritores em Museus e Espaços Culturais - Discussão sobre o papel de instituições que têm se dedicado a fazer exposições relacionadas à literatura | por Antonio Carlos de Moraes Sartini e Claudiney Ferreira | mediação Frederico Barbosa

domingo 3 abril
17h mesa-redonda Editar Haroldo de Campos - Dois editores que acompanharam a publicação da obra de Haroldo falam sobre essa convivência no âmbito profissional e pessoal | por Jacó Guinsburg e Plínio Martins Filho | mediação Marcelo Tápia

domingo 10 abril
17h bate-papo Fotografar Haroldo de Campos - Juan Esteves, que fez importantes registros fotográficos de Haroldo de Campos, conversa sobre seus encontros com o poeta | por Juan Esteves | mediação Gênese Andrade


Data da temporada: De 17/02/11 a 10/04/11
Preço: R$ Grátis
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Conheça também:

Casa das Rosas
Espaço Haroldo de Campos
de Poesia e Literatura


Av. Paulista, 37 - Bela Vista
CEP.: 01311-902 - São Paulo - Brasil
(11) 3285.6986 / 3288.9447
contato.cr@poiesis.org.br


3 de dez. de 2010

Utopia e barbárie



Por Roberto Saturnino Braga -  Fundação Perseu Abramo - 02.12.2010


UTOPIA E BARBÁRIE é um filme de cultura, não é um filme de entretenimento; é um filme de História e de Política; é um filme de Filosofia. Devia ser passado nas escolas de nível médio de todo o País. Sim, porque, se é realmente importante ter computador para os alunos nas escolas, é importante também passar filmes de cultura seguidos de comentários e debates sobre o conteúdo, enriquecer a consciência crítica dos jovens.

Acho que essa é uma função de responsabilidade da ANCINE no capítulo da formação cultural de platéias. Acho que é também uma responsabilidade do Ministério da Cultura no capítulo da formação cultural da nossa juventude.

UTOPIA E BARBÁRIE, este excelente documentário de Silvio Tendler, foi passado recentemente na ASA, uma associação cultural e recreativa de judeus esquerdistas que fica na rua São Clemente; foi aplaudido de pé por um auditório cheio e seguido de um debate de quase duas horas que teve de ser interrompido pelo horário da sala, porque a platéia queria mais. O próprio diretor, Silvio Tendler, participava do debate.

Meu sentimento aponta para uma carência profunda em nossa sociedade, que imagino seja de outras também do mundo de hoje. É a carência de filosofia, de pensamento e discussão em profundidade sobre a vida, o modo de vida atual, a ética e o ser do homem de hoje.

Penso que o próprio conceito corrente de cultura (e de política cultural, por conseguinte) está quase exclusivamente ligado ao conjunto das artes, música, cinema, teatro, artes plásticas, literatura. Ninguém argüirá nada contra as artes, evidentemente, pelo que elas têm de essencial na constituição do ser humano.

Mas acho que é necessário, urgentemente necessário, dentro deste conceito de cultura, abrir um espaço próprio para a Filosofia, a História, a Cultura Política. A propósito, esta é a característica principal do projeto do Instituto Cultural Casa Grande, que um grupo de pessoas ligadas à tradição daquele grande teatro está procurando desenvolver, até agora sem nenhuma compreensão ou interesse dos poderes públicos.

A Utopia é necessária, imprescindível mesmo à Humanidade, como farol iluminador de objetivos de longo prazo, e nunca foi desprezada ao longo da História, senão nas últimas décadas, quando o realismo exigente no dia a dia das sociedades contemporâneas dissolveu não só o espírito religioso do passado mas os sonhos utópicos do futuro.

 A meu juízo, é indispensável recompor a idéia e a formulação de utopias, como algo constituinte da própria humanidade do ser humano. E esta recomposição da utopia não virá da Ciência, cujo desenvolvimento, e cujo culto, constituem talvez as causa maior deste realismo radical das sociedades atuais. 

Só poderá vir da Filosofia esta recomposição; da Filosofia iluminada pela História e trabalhada pela razão comunicativa proposta por Habermas.

Fonte: Correio Saturnino 141

4 de jul. de 2010

Prêmio Cultura Hip-Hop últimos dias para inscrição


Do Blog do Ferrez


Prêmio Cultura Hip Hop
135 iniciativas serão premiadas com recursos investidos de R$ 1,7 milhão

O Prêmio Cultura Hip Hop 2010 – Edição Preto Ghóez é uma realização das Secretarias da Identidade e da Diversidade Cultural (SID) e de Cidadania Cultural (SCC) – do Ministério
da Cultura -, em parceria com o Instituto Empreender e a Ação Educativa. O objetivo é selecionar ações e experiências de fortalecimento da Cultura Hip Hop em todo o Brasil.
Nesta primeira edição, o concurso presta homenagem póstuma ao músico maranhense Márcio Vicente Góes (1971-2004), o rapper Preto Ghóez, um dos líderes do Movimento Hip-Hop Organizado do Brasil (MOHHB).
A premiação conta com recursos de cerca de R$ 1,7 milhão e contemplará 135 iniciativas de pessoas físicas, instituições e grupos informais nas seguintes categorias: Reconhecimento, Escola de Rua, Correria, Conhecimento (5º elemento) e Conexões.
Oficina de Capacitação
Uma série de Oficinas de Capacitação serão realizadas em diversos estados brasileiros, e têm, como foco principal, dar esclarecimentos e orientações sobre o Edital. As oficinas serão ministradas por técnicos da SID/MinC, do Instituto Empreender e da Ação Educativa.
Inscrições
As inscrições são gratuitas e estarão abertas até o dia 12 de julho. Os interessados poderão encaminhar suas propostas pelos Correios, ou preencher os formulários eletrônicos por meio das inscrições online no endereço (http://sistemas.cultura.gov.br/propostaweb/) já disponíveis na internet. Os critérios, procedimentos e formulários de inscrição, necessários para a participação, estarão nas seguintes páginas eletrônicas:
www.premiohiphop.org.br;
www.cultura.gov.br/diversidade;
www.institutoempreeender.org
Conheça as Categorias
Reconhecimento: destinada a honrar personalidades ou coletivos importantes para o desenvolvimento da cultura Hip Hop no país, ao longo do tempo.
- 10 prêmios, sendo dois para cada macrorregião do país.
Escola de Rua: voltada para iniciativas que, por meio dos elementos do Hip Hop, desenvolvam ações sócio-educativas, seja a partir de pedagogias tradicionais ou inovadoras.
- 27 prêmios, um para cada Estado da Federação.
Correria: iniciativas que incidem sobre a geração de renda ou que criem oportunidades de trabalho para os envolvidos, tais como a criação de eventos e a confecção de produtos, dentre outras.
- 27 prêmios, um para cada Estado da Federação.
Conhecimento: iniciativas que fomentem a realização de encontros, seminários e debates, ou a produção de estratégias para a difusão do Hip Hop.
- 35 prêmios, sete para cada macrorregião do país.
Conexões: iniciativas que promovam o intercâmbio com outras formas artísticas afins à cultura Hip Hop, em particular as expressões culturais afrodescendentes, criando novas associações, incorporações estéticas e políticas, para além dos quatro elementos consagrados (Break, MC, DJ e Graffiti).
- 35 prêmios, sete para cada macrorregião do país.
O movimento Hip Hop é uma expressão da cultura urbana, com desdobramentos em diversas manifestações artísticas, tais como a dança, a música e as artes plásticas.
No Brasil, o movimento surgiu em meados da década de 80, nos tradicionais encontros que aconteciam na Rua 24 de Maio, região central da cidade de São Paulo. Grupos como os Racionais MC’s, representantes da segunda geração, tornaram o movimento conhecido e respeitado em todo o país.
Serviço
Período das inscrições: de 16 de abril a 12 de julho.
Endereço para envio das inscrições:
Instituto Empreender
SCS QD 01 Bloco nº 28 Edifício JK Sala 23
CEP 70 306-900
Brasília – DF
Telefone do Instituto Empreender: (61) 3225-2780
Contemplados: Iniciativas individuais, de grupos informais e instituições.
Valor do prêmio: R$ 13 mil para cada iniciativa.
Site: www.premiohiphop.org.br
Endereço eletrônico: premiohiphop@acaoeducativa.org
Twitter: @premiohiphop
Assessoria de Imprensa: Alexandre De Maio
Tel.:(11) 64077784
Endereço eletrônico: alexandre.de.maio@hotmail.com

28 de abr. de 2010

FEDERICO GARCIA LORCA – Leonard Cohen


Take this waltz – Leonard Cohen


Romance sonâmbulo

Federico Garcia Lorca

(A Gloria Giner e a
Fernando de los Rios)


Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.

Mas quem virá? E por onde?…
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
— Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
— Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.

Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tranças,
aqui na verde varanda!

Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta, golpeando,
guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.


Federico Garcia Lorca nasceu na região de Granada, na Espanha, em 05 de junho de 1898, e faleceu nos arredores de Granada no dia 19 de agosto de 1936, assassinado pelos “Nacionalistas”. Nessa ocasião o general Franco dava início à guerra civil espanhola. Apesar de nunca ter sido comunista – apenas um socialista convicto que havia tomado posição a favor da República – Lorca, então com 38 anos, foi preso por um deputado católico direitista que justificou sua prisão sob a alegação de que ele era “mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver.” Avesso à violência, o poeta, como homossexual que era, sabia muito bem o quanto era doloroso sentir-se ameaçado e perseguido. Nessa época, suas peças teatrais “A casa de Bernarda Alba”, “Yerma”, “Bodas de sangue”, “Dona Rosita, a solteira” e outras, eram encenadas com sucesso. Sua execução, com um tiro na nuca, teve repercussão mundial.

A poesia acima foi extraída de sua “Antologia Poética”, Editora Leitura S. A. – Rio de Janeiro, 1966, pág. 53, tradução e seleção de Afonso Felix de Sousa.

26 de abr. de 2010

Literatura Marginal ou Periférica?

Jéssica Balbino - Cultura Marginal - 25.04.2010


Acontece amanhã (27) no Flipoços a palestra master com o escritor Ferréz com o tema "Literatura Marginal ou Periférica?".
O escritor vem pela turnê Selo do Povo, que faz um passeo poético pelas quebradas do mundo !
Fui convidada pela organização - GSC Eventos - para participar com ele do debate !
Ó o tamanho da honra e responsa !
Então fica assim, a gente se encontra, poeticamente, amanhã às 19h30 na Urca.
Vale lembrar que o ingresso é um livro usado e em bom estado.

Mais informações podem ser obtidas no site http://www.feiradolivropocosdecaldas.com.br/



E no sábado, ás 17h30, tem palestra com o Sérgio Vaz ! Também estarei lá ...
feliz por ver a literatura marginal invadindo Poços !

28 de fev. de 2010

Morre, aos 95 anos, José Mindlin, da Academia Brasileira de Letras

Um dos maiores colecionadores de livros do Brasil, foi eleito para a ABL em 2006

Do R7 - 28.02.2010

O acadêmico da ABL (Academia Brasileira de Letras) José Mindlin morreu neste domingo no hospital Albert Einstein, em São Paulo, aos 95 anos.

Um dos maiores colecionadores de livros do Brasil, Mindlin foi eleito para a ABL em 2006. Seu corpo está sendo velado no hospital, e o enterro está marcado para as 15h deste domingo no Cemitério Israelita de São Paulo, na Vila Mariana.

A bandeira da Academia foi colocada a meio pau nesta manhã.

Mindlin nasceu em São Paulo em 8 de setembro de 1914. Formou-se em Direito em 1936, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi redator do jornal O Estado de S. Paulo de 1930 a 1934. Exerceu a advocacia até 1950, quando foi um dos fundadores e presidente da empresa Metal Leve, que se tornou uma das maiores empresas de autopeças do país.

Juntamente com sua mulher, Guita, que morreu em 2006, Mindlin formou uma das mais importantes bibliotecas privadas do país. O empresário disse que começou a reunir os livros aos 13 anos e montou uma coleção de 38 mil títulos.

Em maio de 2006, o casal fez a doação de cerca de 15 mil obras para a Universidade de São Paulo (Brasiliana), entre raridades como as primeiras impressões que padres jesuítas tiveram do Brasil, jornais anteriores à Independência e manuscritos de grandes obras, como Sagarana, de Guimarães Rosa e Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Mindlin recebeu o Prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano de 1998, além de numerosos prêmios e condecorações, no Brasil e no exterior, destacando-se em 2003 o Prêmio Unesco na categoria Cultura e a Medalha do Conhecimento concedida pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com apoio do CNI e Sebrae Nacional, além do Prêmio João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras.

Ele é autor de Uma Vida entre Livros – Reencontros com o tempo e Memórias Esparsas de uma Biblioteca e lançou em 1998 o CD O Prazer da Poesia.

Em 1999, ele foi eleito para a Academia Paulista de Letras.

Leia mais

José Mindlin, o inovador.

23 de set. de 2009

Teatro na Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato

Fonte Catraca Livre - 21.09.09

Em comemoração do Ano da França no Brasil, a Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato apresenta programação especial que tem como tema a literatura infantil francesa: Charles Perrault e La Fontaine em Monteiro Lobato. De 21 a 25 de setembro, com entrada Catraca Livre.

Programação Teatral

Fabulinhas (Dias 22 e 24, às 15h)

Intervenções teatrais das fábulas de La Fontaine adaptadas por Lobato. Grupo Timol.

As fábulas e a infância: Educação e cultura (Dia 23, às 14h)

Com as professoras Azilde Andreotti e Ana Lúcia Brandão. Mediação: Nelson Somma Jr.

Mesa-redonda sobre a influência das fábulas na literatura infantil e na educação. Haverá apresentação da peça Fabulinhas, do Grupo Timol, durante os intervalos.

Narração de histórias de Charles Perrault

Contos de fadas recontados por Charles Perrault na França do século 17. As narrações ocorrem em sala da ambientada com mapas e fotos da França.

É necessário fazer agendamento pelo telefone: 3256-4438.

A Gata Borralheira (Dia 21, às 10h)

Com Maria Haila de Oliveira.

Rquette Topetudo (Dia 22, às 14h)

Com Maria Cecília Coscia Graner.

Os Presentes das Fadas (Dias 23, às 10h)

Com Aparecida Uliani.

O Gato de Botas (Dia 24, às 14h)

Com Irany de Lourdes Ferreira.

Serviço:

O Que: Teatro na Biblioteca Monteiro Lobato
Quando: Seg 21/09 às 10:00 (Mais datas)
Quanto: Catraca Livre
Onde: Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato
Endereço: R. General Jardim, 485, Vila Buarque. Telefone: (11) 3256-4438.

As informações acima são de responsabilidade do estabelecimento e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

20 de jul. de 2009

Hoje: vida e obra de Paulo Leminski no De Lá Pra Cá da TV Brasil

Homenagem ao escritor e poeta

Intelectual inquieto e fundador de um novo e único momento na poesia brasileira, a contracultura dos anos 60/70, Leminski morreu jovem e no auge de sua capacidade criadora, há 20 anos.

Para falar da vida e obra desse artista de múltiplas faces, o programa ouviu o jornalista e escritor Toninho Vaz, biógrafo de Leminski e de Torquato Neto, e que escreveu Paulo Leminski, o bandido que sabia latim.

O De Lá Pra Cá ainda conta com participações dos cineastas Paulo Munõz e Berenice Mendes (última esposa do poeta); do escritor e amigo, Wilson Bueno; da crítica literária Cassiana Lacerda e de outro biógrafo, o jornalista Fabrício Marques, autor de Aço em flor, a poesia de Paulo Leminski.

Os músicos Dadi Carvalho, fundador do grupo A Cor do Som, e Ivo Rodrigues, do grupo Blindagem, vão contar casos da época de parceria.

Dadi, que era muito jovem quando conheceu Leminski, logo se apaixonou pelo poeta e manteve uma parceria de quase 20 anos. A música de Leminski, intitulada Mudança de Estação, deu nome ao LP do grupo em 1981 e será relembrada no programa.

Ivo Rodrigues foi parceiro e conviveu com Leminski.

De Lá Pra Cá vai ao ar na segunda-feira (20), às 22h, na TV Brasil.

Fonte: TV BRasil - 20.07.09

18 de jul. de 2009

Livro e Vídeo: Balzac e a Costureirinha Chinesa

Sucesso literário na França, romance ambientado durante a Revolução Cultural chinesa. A história de BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA, do autor Dai Sijie, se passa no fim da década de 60, quando o líder chinês Mao Tse-Tung lança uma campanha que mudaria radicalmente a vida do país: a Revolução Cultural. Entre outras medidas drásticas, o governo expurga das bibliotecas obras consideradas como símbolo da decadência ocidental. Mas, mesmo sob a opressão do Exército Vermelho, uma outra revolução explode na vida de três adolescentes chineses quando, ao abrirem uma velha e empoeirada mala, eles têm as suas vidas invadidas por Balzac, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Rousseau, Dostoievski, Dickens... Os proibidos!

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA é uma crônica da vida na China durante a revolução de 68. Um romance sobre a felicidade da descoberta da literatura, a liberdade adquirida através dos livros e a fome insaciável pela leitura, numa época em que as universidades foram fechadas e os jovens intelectuais mandados ao campo para serem "reeducados por camponeses pobres".

Entre os que tiveram de abandonar as cidades está o narrador de BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA e seu melhor amigo, Luo. O destino deles é uma aldeia escondida no topo de uma montanha. A vida não é fácil para a dupla, mas com muita coragem, senso de humor, uma forte imaginação e a companhia da Costureirinha — a menina mais bela da região — o tempo vai passando. Até que descobrem a mala repleta de livros banidos pela Revolução Cultural. As obras, sobretudo Ursule Mirouët, de Balzac, revelam aos adolescentes uma realidade que nunca haviam imaginado. E é por intermédio desse mudo novo além das fronteiras chinesas, e dos grandes mestres da literatura que o narrador, Luo e a Costureirinha compreendem que suas vidas pertencem a algo muito maior.

DAI SIJIE dirigiu três filmes de longametragem, dentre os quais Chine ma Douleur, e o BALZAC E A COSTUREIRINHA.

Fonte: Editora Objetiva

16 de jul. de 2009

O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky e a manipulação da mídia

Por razão de o renomado intelectual Noam Chomsky defender, desde a década de 1970, os princípios do socialismo libertário, achamos por bem escrever esse artigo, cujo objetivo está na análise da relação de seu pensamento – uma constante busca de transformação social – com o anarquismo. A tentativa de trazer as tradicionais lições dos clássicos anarquistas do final do século XIX e início do século XX para os dias de hoje, colocando-as como possíveis soluções para os problemas do mundo em que vivemos, é, em grande medida, o que nos motiva a estudar o autor e debater uma série de questões que é levantada por ele.

Chomsky ficou conhecido, principalmente, pelos seus escritos contra a política externa norte-americana e suas análises da política e da economia do mundo, o que podemos encontrar em seus Novas e Velhas Ordens Mundiais, Contendo a Democracia, O Império Americano e Ano 501: a conquista continua. Além disso, apresentou instigantes análises da forma como as corporações vêm dominando o mundo, da economia global e do movimento de resistência, em O Lucro ou as Pessoas. Fez notáveis análises dos atentados terroristas em 11 de Setembro, interessantes observações em seus escritos sobre mídia, tais como Controle da Mídia: os espetaculares feitos da propaganda e A Manipulação do Público, entre tantas outras publicações. Chomsky ficou também conhecido por razão de seus importantes livros sobre lingüística tais como Estruturas Sintáticas, Aspectos da Teoria da Sintaxe, e Lingüística Cartesiana.[1] Isso geralmente é de conhecimento daqueles que admiram e conhecem um pouco da vasta obra do autor. Muitos, no entanto, não sabem dessa defesa explícita dos princípios do socialismo libertário. Por esse motivo, achamos por bem mostrar esse “outro” Chomsky. Dizemos um outro Chomsky, e assim fizemos questão de mencionar por diversas vezes na apresentação de seu livro Notas sobre o Anarquismo[2] – cuja organização e tradução também foi fruto de nosso trabalho –, pois seus escritos sobre lingüística, política externa dos EUA, etc. são facialmente encontrados e muito conhecidos. Ao contrário, seus textos discutindo anarquismo, são pouco conhecidos e até por isso, surgiu a proposta do livro, que seria mostrar esse “novo” Chomsky. Trazer à tona textos que estavam “perdidos” em antigos periódicos anarquistas, em livros nunca traduzidos ao português e mostrar a atualidade do pensamento libertário presente em Chomsky.

Há um fator de muita importância na forma com que Chomsky apresenta seu pensamento. Sua concepção do papel dos intelectuais, muito bem exposta em seu artigo The Responsibility of Intellectuals [A Responsabilidade dos Intelectuais] de 1967, coloca sobre estes o dever de “denunciar as mentiras dos governos, analisar as ações de acordo com suas causas, seus motivos e as suas intenções, que são freqüentemente escondidas”. Para ele, o mundo ocidental daria aos intelectuais esse poder, fruto de sua liberdade política, de seu acesso à informação e de sua liberdade de expressão. Mais ainda: por constituírem uma pequena e privilegiada minoria, os intelectuais acabariam sendo beneficiados pois “a democracia ocidental proporciona o tempo disponível, as habilidades e a instrução para a busca da verdade que está escondida atrás da máscara da distorção e da falsidade, da ideologia e do interesse de classe”, fatores esses, que acabam por influenciar os fatos que chegam até nós. Chomsky constrói seu pensamento do anarquismo sobre estes mesmos alicerces. Em momento algum, coloca-se como um explorado ou um simples proletário. Seria inclusive cínico de sua parte caso o fizesse. Ele acaba por colocar-se como um intelectual privilegiado, que mora num país que proporciona a seus cidadãos condições privilegiadas e cujo conhecimento e respeito que tem, terminam por propiciar-lhe maiores liberdades. É nesse sentido que Chomsky buscará transformar as realidades do mundo, utilizando como vantagens, as condições em que está imerso.

Algo que nos admira é que, apesar de um grande e erudito intelectual com quase 50 anos de academia, Chomsky consegue fazer-se entender por exemplos simples e um palavreado altamente acessível para qualquer um que queira compreender seu pensamento. Em grande medida, pode-se atribuir também a esse motivo, a relação que tentamos estabelecer entre o pensamento de Chomsky e de Errico Malatesta, anarquista italiano cujos textos tinham, apesar de um conteúdo de grande relevância, uma forma simples, de fácil compreensão. Apesar de Malatesta nunca ser citado nos textos e entrevistas de Chomsky, parece-nos inevitável que existam alguns pontos de convergência entre os dois, tanto na forma quanto no conteúdo de seus escritos. Por ora, entretanto, cabe-nos ressaltar apenas essa similaridade – dos escritos de forma simples e com grande conteúdo –, algo que acabamos por considerar uma qualidade.

Nosso intento, ao escrever sobre o pensamento de Noam Chomsky, reflete, como já dito, um esforço na atualização das idéias anarquistas, e Chomsky, apesar de polêmico – veremos o porquê durante o texto – tem a base de suas idéias construída sobre os clássicos anarquistas. Propõe, do nosso ponto de vista, uma interessante tentativa em trazer a discussão do anarquismo para os dias de hoje. Identificamos, por isso, para a compreensão de seu pensamento e das suas relações com os princípios libertários, dez aspectos que tentarão dar conta deste assunto. No entanto, para uma compreensão mais aprofundada, sugerimos a leitura do material selecionado por nós em Notas sobre o Anarquismo. Tentaremos também, relacionar alguns autores com esses dez conceitos chomskyanos do anarquismo e do pensamento libertário.

Por Felipe Corrêa - 15.06.09
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Veja também:

Zeitgeist

Alan Watt

15 de jul. de 2009

Não mais “tempo de homens partidos”

Patrus Ananias - 14.07.09 - DEBATE ABERTO - Durante muito tempo vivemos a separação: ou o desenvolvimento econômico ou políticas de inclusão e justiça social. Como se o desenvolvimento econômico fosse incompatível com as políticas de distribuição de renda. Assim, o país cresceu muito no século 20, mas não garantiu a sustentabilidade social e ambiental desse crescimento.

Alceu Amoroso Lima, sempre uma inspiração para o trabalho e compromisso com os pobres, dizia que devíamos substituir a disjuntiva “ou” pela conjuntiva “e”. A disjuntiva separa: ou isto ou aquilo, como se as coisas fossem sempre opostas. O “e” une, na perspectiva da cooperação, da integração, da complementação. A experiência histórica do Brasil comprova a importância desse ensinamento do mestre Alceu. Durante muito tempo vivemos a separação: ou o desenvolvimento econômico ou políticas de inclusão e justiça social. Como se o desenvolvimento econômico fosse incompatível com as políticas de distribuição de renda e de melhoria efetiva das condições de vida das populações mais empobrecidas. Por muito tempo vivemos esse mito desagregador. Assim, o país cresceu muito no século 20, mas não garantiu a sustentabilidade social e ambiental desse crescimento exatamente porque não integrou os pobres nesse desenvolvimento, não garantiu, portanto, a inclusão dos pobres. Hoje estamos vendo que é exatamente o contrário. É preciso crescer, sim, para distribuir. O crescimento econômico é condição básica para distribuição de renda, porém não suficiente. É preciso, para distribuir renda, adotar, como estamos fazendo, vigorosas políticas sociais que devem ser cada vez mais institucionalizadas, colocadas no campo das políticas de estado, de direitos e deveres. Estamos vendo, com a experiência concreta da rede nacional de proteção e promoção social, que estamos consolidando no Brasil, especialmente por meio de políticas públicas de transferência de renda de grande alcance, como o programa Bolsa Família, que as políticas sociais têm amplos alcances. Além da dimensão ética, humanitária,de assegurar direitos e integrar pessoas, famílias e comunidades mais pobres no projeto nacional, as políticas sociais têm ainda uma dimensão prática, econômica. Os pobres estão recuperando a cidadania e também se tornando consumidores e isso aquece economias locais. O comércio vende mais e, vendendo mais, o comércio também estimula a indústria. Isso gera mais possibilidade de trabalho, emprego e renda. Estamos vendo hoje que as políticas de transferência de renda estão tendo grande impacto anti-crise no Brasil. Como disse o presidente Lula, os pobres não guardam o dinheiro. O dinheiro que eles recebem do Bolsa Família, do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e dos programas de apoio à agricultura familiar por exemplo, são imediatamente colocados no mercado. Outra dicotomia que está sendo posta por terra é a que opõe o desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental. Vemos hoje que em muitas regiões do Brasil o desenvolvimento econômico e, vinculado a ele, o desenvolvimento social pressupõem o desenvolvimento ambiental. Isso porque o desenvolvimento, numa concepção mais integral e integrada, requer a promoção de todas as potencialidades de uma determinada região organizada em torno de suas características comuns do ponto de vista geográfico, econômico, histórico, cultural. O desenvolvimento dessas regiões passa sempre pela recuperação de rios e bacias hidrográficas e de ecossistemas que caracterizam essas regiões. Os estudos vão mostrando que a revitalização de rios e bacias não é questão meramente de preservação das águas, por mais sagradas que elas sejam. É também fator fundamental para indução do desenvolvimento. São importantes para viabilizar programas de irrigação racional da agricultura, para o desenvolvimento da agroindústria, da indústria, além, é claro, de outras possibilidades no campo da cultura, do turismo, e da qualidade de vida. O crescimento econômico hoje tem de ter o olhar voltado para o futuro para que a gente possa honrar nosso compromisso com as novas gerações. Temos de crescer, mas preservando a vida e os recursos fundamentais para que as pessoas possam continuar, de maneira adequada, a grande aventura humana na face da terra. Portanto, a exploração necessária dos recursos naturais pressupõe racionalidade, integração de políticas e também desenvolvimento de tecnologias que preservem esses bens para nossos filhos e netos. A implantação da rede de políticas sociais no Brasil enfrentou mesmos preconceitos do “ou”, “ou”. O principal exemplo é dado pela máxima “dar o peixe ou ensinar a pescar”. Geralmente essa é uma questão colocada por pessoas que nunca deram o peixe e nunca ensinaram a pescar. Porque as pessoas que vivem uma presença maior nas comunidades pobres sabem que as duas coisas são indissociáveis. Uma pessoa que não tenha comido bem o peixe antes não terá condições de pescar. Portanto a alimentação, que muitos veem como “dar o peixe”, não é uma questão assistencialista. É um direito, pressuposto básico da dignidade humana, do direito à vida, do desenvolvimento das potencialidades dos talentos pessoais, familiares e coletivos, comunitários. Temos cada vez mais de colocar a questão da alimentação, assim como a questão da família e da assistência social no campo dos direitos e das políticas públicas como estamos fazendo no Brasil e como já fizeram no passado os países socialmente mais desenvolvidos e equânimes. Para que uma pessoa possa pescar, e isso é um objetivo que temos também, claro, é necessário que ela tenha resguardadas as condições para isso. Da mesma forma, estamos superando a oposição entre políticas sociais e acomodamento. Essa falsa dicotomia se apresenta como se garantir alimentação, garantir condições básicas de vida, uma renda familiar básica acomodasse as pessoas. Nesse raciocínio, há um preconceito forte contra os pobres, como se eles não tivessem desejo, como se os pais pobres não quisessem futuro para seus filhos, como se não quisessem progredir na vida. O desenvolvimento pressupõe atendimento de necessidades básicas. O que acomoda as pessoas é a fome, a desnutrição e as doenças e enfermidades que daí decorrem. A história ensina que direitos respeitados com políticas sociais devidamente implementados implicam novos direitos, e também novos deveres e responsabilidade em face da coletividade. Essas reflexões me ocorrem no momento em que estamos vivendo no Brasil a integração de políticas, uma opção que vem sendo debatida internacionalmente. Estive recentemente na Organização Internacional do Trabalho (OIT) e fiquei muito feliz porque estava sendo discutida exatamente a integração, com o exemplo e referência da experiência brasileira, das políticas sociais com o mundo do trabalho. Isso aponta para superação de mais uma dicotomia, a que opõe o mundo do trabalho às políticas de assistência social. Na OIT, os estudiosos do assunto partem da constatação de que não há pleno emprego. No dia que houver pleno emprego o sistema capitalista mudará seus pressupostos. E observam que além disso, as mudanças tecnológicas aumentaram mais ainda o fosso do desemprego e as políticas sociais são um vigoroso suporte para impedir que os trabalhadores resvalem para indigência e permaneçam excluídos. Estamos integrando desenvolvimento econômico com desenvolvimento social e enfrentando o desafio cada vez maior de integrar o desenvolvimento econômico e social com o desenvolvimento ambiental. Defendemos a integração das políticas sociais, atendendo aqui e a agora as pessoas nas suas necessidades mais urgentes, que são também direitos, e articulando com direitos de médio e longo prazo. Temos o compromisso de ampliar nossas políticas emancipatórias que apontam também para benefícios futuros em relação aos filhos, netos dessas pessoas e famílias que estão sendo atendidas hoje. A lição do mestre Alceu nos indica a superação de tempos difíceis, como diz Drummond, “(...) tempo de divisas, / tempo de gente cortada. / De mãos viajando sem braços, / obscenos gestos avulsos”. Sabemos que o desafio é grande e o caminho, árduo. Mas estamos vencendo, porque, lembra o poeta, “a escuridão estende-se mas não elimina / o sucedâneo da estrela nas mãos.”

Patrus Ananias -
é ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

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