De uma coisa ninguém pode ter dúvida: o advento do governo Lula revolucionou o jornalismo brasileiro, para o bem e para o mal. Nunca antes na história deste país o jornalismo foi tão questionado publicamente, porque nunca antes jornalistas se revoltaram contra os barões da mídia da forma como tem acontecido de 2003 para cá.
Mas foi a partir do escândalo do mensalão em 2005 e da subseqüente reeleição de Lula em 2006 que começou a ocorrer com maior intensidade a revolta de jornalistas de renome contra o jugo do patronato midiático. Naquele momento, a mídia começou a perder os limites
O jornalista Luis Nassif acho que foi o precursor desse movimento. Houve outros casos rumorosos, como o dos ex-globais Luiz Carlos Azenha, Rodrigo Vianna e Paulo Henrique Amorim, que, a exemplo de Nassif, ousaram dizer o que os barões da mídia nunca tinham ouvido, ou seja, a palavra não.
Ao menos de Azenha e Rodrigo eu ouvi, inclusive pessoalmente, por que demitiram a Globo: receberam determinação de mentir, enrolar, enganar, empulhar, falsear, sacanear, embromar, enfim, de fazer de bobo aquele a quem todo jornalista jura respeitar: o público.
Contudo, o caso de Luiz Nassif é único porque a posição que ele ocupou numa Folha de São Paulo, integrando seu Conselho Editorial, fez aflorarem as entranhas do sistema.
Os outros jornalistas mencionados receberam de seus ex-empregadores aquele desprezo como de quem diz “você não importa”, estratégia usada freqüentemente pela indústria da desinformação para pôr desafetos na “geladeira” e lhes fechar as portas do mercado de trabalho através das famigeradas associações de classe midiáticas.
Nesse aspecto, a TV Record, digam dela o que disserem, abriu a possibilidade de os proscritos pelo PIG não serem mais enviados à Sibéria profissional.
Confesso que me surpreendi com o que fizeram com Luis Nassif. Nunca imaginei ver jornalista atacando jornalista da forma como Reinaldo Azevedo fez com ele. Aliás, nunca vi um jornalista ou algum veículo de renome atacar alguém daquela forma.
Temos hoje, também, os maiores meios de comunicação acusados no Ministério Público por provocarem pânico em janeiro de 2008 ao difundirem que haveria uma epidemia de febre amarela urbana no país. Alguém se lembra de algo assim?
Agora, a guerra jornalística – ainda que os barões midiáticos estejam atuando em esfera bem distante do que se possa dizer jornalismo – chegou ao paroxismo. Cinco ações judiciais foram movidas contra Nassif pela Veja.
Soubemos, nesta semana, que ele sofreu condenação em primeira instância. Cem salários mínimos, coisa de quase 50 mil reais.
O jogo é pesado.
Num momento como este, todo aquele que quiser ter a mesma liberdade de expressão que a mídia exige para si, todo aquele que diz a sério que ações judiciais contra jornalistas são atentados à liberdade de imprensa, deve se solidarizar com o blogueiro.
Contudo, as propostas de campanha de arrecadação para ajudar Nassif a pagar a indenização a que foi condenado a pagar, são prematuras. Nassif foi condenado em primeira instância. Pode recorrer. E, nas instâncias mais altas do Judiciário, alguns evidentes vícios da primeira etapa do processo poderão não voltar a ocorrer.
Por Eduardo Guimarães - Cidadania.com - 15.10.09
Nenhum comentário:
Postar um comentário