Por Celso Lungaretti - Naufrago da Utopia - 23.04.2010Tão logo Cesare Battisti foi preso no Brasil, o consagrado jornalista Rui Martins iniciou a reação, escrevendo seus artigos vibrantes, para despertar solidariedade no Brasil e na Europa.
Depois, quando vi que não se concretizava minha expectativa de uma rápida solução via Conare e entrei com armas e bagagens na luta, o Rui avaliou que, como nós dois tínhamos basicamente os mesmos talentos e eu estava no palco da ação (e ele na Berna distante), poderia deixar o principal da batalha de opinião pública a meu cargo.
Pois havia uma luta que ele considera prioritária e à qual não estava podendo dedicar-se como gostaria: a defesa dos imigrantes ilegais na Europa.
Passou a escrever sobre o Cesare apenas esporadicamente, nos momentos mais agudos. E continuou sendo de imensa valia para nossa causa.
Quero prestar-lhe meu tributo, pela extrema dedicação na primeira metade dessa luta, quando tudo era muito mais difícil, já que poucos sabiam o que realmente estava em jogo nessa cruzada; e pela firmeza de caráter que demonstrou, não se preocupando minimamente com os louros da vitória, já que seus esforços eram mais necessários em outra trincheira.
Recomendo a todos a leitura do artigo que, espera o Rui, será o último das suas dezenas de textos dedicados ao companheiro italiano: Lula e a libertação de Battisti.
A minha avaliação é a mesma.
E o papel do Rui terá de ser sempre reconhecido e louvado, quando se falar nesta que será a maior vitória da esquerda revolucionária brasileira de um bom tempo para cá.
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Publicamos aqui o primeiro artigo contra a  extradição para a Itália do antigo militante do PAC, zelador-escritor em  Paris, Cesare Battisti. Coincidentemente, foi também o primeiro texto,  no Brasil, em favor de Battisti que, felizmente, durante estes três anos  de injusta e ilegal prisão mas caucionada pelo STF, conseguiu reunir um  grande grupo de defensores.
Fazia apenas alguns dias da prisão  de Battisti, no Rio de Janeiro, a pedido do então candidato à  presidência da França, Nicolas Sarkozy, em cumprimento a uma sentença de  prisão perpétua pronunciada, muitos anos antes, na Itália. Tinhamos  acompanhado a trajetória do Battisti foragido pela imprensa e  imaginávamos que, depois da decisão do presidente Mitterrand de lhe  conceder asilo, Cesare Battisti poderia viver tranquilo em Paris. 
Enganei-me,  Battisti tinha sido novamente alvo de um processo de extradição pelo  presidente francês Jacques Chirac, mas conseguira fugir a tempo. Não  pensava que Battisti escolhesse o Brasil para se refugiar  clandestinamente, só fiquei sabendo ao ler sua prisão no Rio.
No  começo, foi difícil convencer nossos próprios  amigos de esquerda, pois a  revista Carta Capital, considerada por muitos como de centro-esquerda,  publicou uma reportagem caucionando a condenação italiana e argumentando  em favor da extradição. 
Essa pressão da revista foi se  acentuando, com o passar do tempo, e quando o ministro da Justiça, Tarso  Genro, hoje não mais no cargo e candidato ao governo do Rio Grande do  Sul, decidiu dar o refúgio a Battisti, foi o próprio editor da revista,  Mino Carta, quem assumiu a campanha pela extradição do italiano.
Tivemos,  a seguir, o episódio de um STF interferindo numa decisão do ministro da  Justiça e impedindo a libertação de Cesare Battisti, numa tentativa,  que denunciamos, para provocar uma crise institucional.
Enfim, a  tardia publicação do acórdão do STF em favor da extradição mas  reconhecendo caber ao presidente a decisão final, embora querendo  sujeitar Lula a um acordo bilateral com a Itália, nos leva aos dias ou  semanas que antecedem a libertação tão esperada de Battisti.
Sim,  porque não podemos imaginar que o presidente Lula entregue Battisti ao  atual governo fascisante italiano, do corrupto Berlusconi. Mas ficamos  surpresos ao saber que o candidato à presidência José Serra é favorável à  extradição de Battisti. Ou seja, fosse ele o presidente, teríamos um  novo caso Olga Benário a macular nossa história.
Na campanha em  favor de Battisti, que esperamos conhecer pessoalmente numa de nossas  próximas viagens ao Brasil, tivemos a  oportunidade de conhecer por  e-mail e telefone a batalhadora escritora Fred Vargas e dois grandes  defensores de Battisti – o ex-preso político no Brasil Celso Lungaretti e  o representante da Anistia  Internacional, Carlos  Lungarzo. 
Aprendemos muita coisa com eles, inclusive que  Battisti não participou dos assassinatos que lhe atribuem, mas que a  grande imprensa brasileira, irresponsável e cúmplice de Berlusconi,  insiste em lhe atribuir. Uma exceção é o jornalista Carlos Brickmann,  ex-Estadão agora no Diário do Grande ABC, que adotou uma posição correta  em relação a Battisti.
De minha parte, espero ser este meu  último pedido em favor de Cesare Battisti, que sua libertação ocorra em  breve, senão nos próximos dias. Seja bem-vindo, Battisti, como  homem livre, nestas terras  brasileiras.
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