Leandro Fortes* escreve:
Paulo Henrique Amorim, assim como eu e muitos blogueiros e
jornalistas brasileiros, nos empenhamos há muito tempo numa guerra sem
trégua a combater o racismo, a homofobia e a injustiça social no Brasil.
Fazemos isso com as poderosas armas que nos couberam, a internet, a
blogosfera, as redes sociais. Foi por meio de pessoas como PHA, lá no
início desse processo de abertura da internet, que o brasileiro
descobriu que poderia, finalmente, quebrar o monopólio da informação
mantido, por décadas a fio, pelos poderosos grupos de comunicação que
ainda tanto fazem políticos e autoridades do governo se urinar nas
calças. PHA consolidou o termo PIG (Partido da Imprensa Golpista) e
muitos outros com humor, inteligência e sarcasmo, características cada
vez mais raras entre os jornalistas brasileiros. Tem sido ele que,
diuturnamente, denuncia essa farsa que é a democracia racial no Brasil,
farsa burlesca exposta em obras como o livro “Não somos racistas”, do
jornalista Ali Kamel, da TV Globo.
Por isso, classificar Paulo Henrique Amorim de racista vai além de
qualquer piada de mau gosto. É, por assim dizer, a inversão absoluta de
valores e opiniões que tem como base a interpretação rasa de um acordo
judicial, e não uma condenação. Como se fosse possível condenar PHA por
racismo a partir de outra acusação, esta, feita por ele, e coberta de
fel: a de que Heraldo Pereira, repórter da TV Globo, é um “negro de alma
branca”.
O termo é pejorativo, disso não há dúvida. Mas nada tem a ver com
racismo. A expressão “negro de alma branca”, por mais cruel que possa
ser, é a expressão, justamente, do anti-racismo, é a expressão
angustiada de muitos que militam nos movimentos negros contra aqueles
pares que, ao longo dos séculos, têm abaixado a cabeça aos desmandos das
elites brancas que os espancaram, violentaram e humilharam. O “negro de
alma branca” é o negro que renega sua cor, sua raça, em nome dessa
falsa democracia racial tão cara a quem dela usufrui. É o negro que se
finge de branco para branco ser, mas que nunca será, não neste Brasil de
agora, não nesta nação ainda dominada por essa elite abominável,
iletrada e predatória – e branca. O “negro de alma branca” é o negro que
foge de si mesmo na esperança de ser aceito onde jamais será. Quem
finge não saber disso, finge também que não há racismo no Brasil.
Recentemente, fui chamado de racista por um idiota do PCdoB, partido
do qual sou, eventualmente, eleitor, e onde tenho muitos amigos. Meu
crime foi lembrar ao mundo que o vereador Netinho de Paula, pagodeiro
recentemente convertido ao marxismo, havia espancado a esposa, em tempos
recentes. E que havia dado um soco na cara do repórter Vesgo, do Pânico
na TV. Assim como PHA agora, fui vítima de uma tentativa primária de
psicologia reversa cujo objetivo era o de anular a questão essencial da
discussão: a de que Netinho de Paula era um espancador, não um negro,
informação esta que sequer citei no meu texto, por absolutamente
irrelevante. Da mesma forma, Paulo Henrique Amorim se referiu a Heraldo
Pereira como negro não para desmerecer-lhe a cor e a raça, mas para
opinar sobre aquilo que lhe pareceu um defeito: o de que o repórter da
TV Globo tinha “a alma branca”, ou seja, vivia alheio às necessidades e
lutas dos demais negros do país, como se da elite branca fosse.
Não concordo com a expressão usada por PHA. Mas não posso deixar de
me posicionar nesse momento em que um jornalista militante contra o
racismo é acusado, levianamente, de ser racista, apenas porque se viu na
obrigação de fazer um acordo judicial ruim. Não houve crime, sequer
insinuação, de racismo nessa pendenga. Porque se pode falar muita coisa
sobre Paulo Henrique Amorim, menos, definitivamente, que ele é racista.
Qualquer outra interpretação é falsa ou movida por ma fé e vingança
pessoal de quem passou a ser obrigado, desde o surgimento do blog
“Conversa Afiada”, a conviver com a crítica e os textos adoravelmente
sacanas desse grande jornalista brasileiro.
Leandro Fortes é jornalista, escritor, professor, blogueiro sujo e baiano
Por sorte nos valemos das redes sociais da internet para transmitir democraticamente as nossas ideias e muitas vezes denuncias. É como vc diz: "o brasileiro descobriu que poderia, finalmente, quebrar o monopólio da informação mantido, por décadas a fio, pelos poderosos grupos de comunicação..." Aqui em Natal, RN, graças a internet pude levar ao conhecimento publico muitas irregularidades na educação e na gestão do nosso municipio. Um abraço.
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