Um livro digital, com as melhores receitas: bolo de cenoura,
pé-de-moleque, pudim de sorvete, bolinho de chuva, milk shake, sonho,
pastelão de mandioca, biscoito integral de goiaba. Ele foi escrito por
crianças do quarto ao sexto ano da Escola Municipal de Ensino
Fundamental 25 de Julho, no município gaúcho de Picada Café.
Em 2012, os alunos descobriram que uma cozinha improvisada na escola
pode ser uma sala de aula rica em conhecimento e iguarias. Eles
aprenderam que o mundo das receitas contém ingredientes para várias
disciplinas. O projeto Aprendendo na Cozinha, desenvolvido ao longo de
todo o ano letivo, conquistou alunos, professores, pais e comunidade.
Acabou premiado pelo Ministério da Educação na sexta edição do Prêmio
Professores do Brasil.
A oficina de culinária é uma opção entre todas as oferecidas pela
escola, que há seis anos trabalha com a educação integral. Os alunos que
se inscreveram são apaixonados pela atividade de cozinhar. Outros
preferiram judô, capoeira, balé, teatro, patinação e ginástica.
Para as aulas práticas, foi montada uma cozinha na sala de artes.
“Não poderíamos ter acesso à cozinha da escola porque é usada o dia
inteiro pelas merendeiras”, explica a professora Silvania Linck, 49
anos, coordenadora do projeto, que não se restringiu ao cozinhar, mas se
tornou um laboratório de aprendizagem de assuntos em diferentes áreas
do conhecimento.
Em matemática, por exemplo, as crianças visitaram o supermercado,
anotaram preços de ingredientes, fizeram cálculos e aprenderam medidas
de peso e capacidade, como gramas e mililitros. Em língua portuguesa,
descobriram que as receitas são um tipo de texto. Daí, publicaram o
livro digital, com as receitas, que ainda foram vertidas para o inglês e
o alemão, idiomas oferecidos na grade curricular da escola.
“Também trabalhamos com história e geografia, através da origem,
cultura e região de onde é originária a receita”, diz Silvania. “Falamos
ainda de imigração, pois temos uma colonização alemã forte na nossa
região. Muitas receitas são típicas da Alemanha.”
Evolução — Os estudantes fizeram pesquisas na
internet, no laboratório de informática e montaram uma maquete para
representar o progresso da cozinha, desde o homem das cavernas. “Assim,
puderam aprender sobre a evolução da humanidade”, afirma a professora.
As receitas foram obtidas pelos alunos em casa ou na internet. Um dos
critérios para a seleção foi o resgate de receitas antigas, de família.
Nessa atividade, eles descobriram a importância dos nutrientes, da
alimentação saudável e da higiene — usaram luvas e toucas. Aprenderam
ainda sobre a profissão dos chefes de cozinha, a formação superior em
gastronomia e sobre pessoas que partem da cozinha da própria casa para
abrir restaurantes.
Os estudantes também deixaram a sala de aula para plantar hortaliças,
aproveitadas como ingredientes, e conhecer mais sobre sustentabilidade
ambiental. “Nossa escola não tinha horta, mas fizemos uma por causa do
projeto” conta Silvania. “Plantamos temperinhos verdes, agrião e alface,
tudo sem agrotóxico.”
As aulas foram enriquecidas com palestras de especialistas. As
famílias, também envolvidas, produziram receitas em casa, com as
crianças. “Os alunos foram trazendo receitas e ideias”, lembra a
professora. “Essa participação desperta o interesse.”
A oficina Aprendendo na Cozinha era realizada duas vezes por semana,
às terças e quintas-feiras, no turno da tarde. “Valeu muito a pena. A
cozinha foi um espaço de aprendizagem e de socialização, amizade e
afetividade entre todos”, comemora a professora. Em 2013, o projeto terá
continuidade.
Rovênia Amorim, MEC
Saiba mais no Jornal do Professor
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