Há carros demais circulando e a cada dia somam-se a eles cerca de mil novos veículos. Pra melhorar o trânsito, só com menos carros nas ruas. E para que isso seja possível, só investindo em formas alternativas de locomoção: trens, metrô, bicicletas, ônibus de linha e ônibus fretados.
Ampliar as avenidas, fazer novas pontes e túneis e aumentar o espaço destinado aos carros de forma geral só incentiva seu uso. O efeito é contrário ao esperado e os congestionamentos aumentam em progressão geométrica. Basta ver os jornais alardeando a cada pouco que houve novo recorde de congestionamento: há dois anos, 220 km era o “recorde do ano”; recentemente, chegamos quase aos 300.
Isso tem acontecido há décadas mas pouca gente percebe, por dois motivos principais. Primeiramente, por ser um crescimento exponencial, os congestionamentos foram aparecendo devagar e as obras para abrir mais espaço foram conseguindo manter um nível aceitável por muito tempo. Mas o crescimento agora é tão rápido e o espaço tão exíguo, que não há mais como adiar o problema criando mais vias.
O segundo e mais preocupante motivo é porque o uso carro está enraizado em nossa cultura. Nascemos em famílias que aspiravam ter um carro ou, se o tinham, sempre quiseram trocá-lo por outro melhor, algumas chegando ao absurdo de trocar de carro todo ano. O carro passou a fazer parte da vida e das aspirações das pessoas, que tiveram seus sonhos construídos por marketing e ambiente familiar ao longo da infância, de modo que o ritual de passagem para a vida adulta passou a ser a conquista da carteira de habilitação.
É por isso que, quando alguém diz precisamos quebrar a dependência do automóvel com formas de transporte alternativos, ocorrem tantas reações viscerais. À maioria das pessoas pode parecer realmente um absurdo, mas é preciso reflexão.
E nem é preciso estudar a fundo o assunto. Basta fazer um exercício de imaginação para pensar em como será a cidade daqui dez anos, se continuarmos no mesmo caminho, valorizando o direito de cada um de ter um carro e a circular com ele quando bem entender, todos saindo com eles nas ruas ao mesmo tempo e nos mesmos horários, com o limite de espaço físico que a cidade tem. E não precisa nem levar em conta o crescimento populacional, nem pensar na qualidade do ar, nos acidentes de trânsito, na perda de espaços públicos de convivência como os parques para avenidas e viadutos: pense apenas nos congestionamentos.
Sugestão de Pedalante
Por Willyam Cruz - Vá de Byke - 23.07.09
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