12 de jul. de 2009

A conquista do mundo - Prêmio e elogios dão a Lula vantagem para vislumbrar carreira internacional

Claudio Dantas Sequeira - Isto é - 11.07.09
FOTOS: BERTRAND GUAY/AFP; MICHEL EULER/AP
CARISMA Lula, sob aplausos: de olho no Nobel da Paz

Vários presidentes sonham com uma carreira internacional ao final de seus mandatos. No Brasil, nenhum deles conseguiu realizar a façanha. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nunca manifestou interesse em seguir este caminho e repete sempre que pretende voltar para São Bernardo do Campo, tem tudo para conquistar o mundo. Na terça-feira 7, ele recebeu da Unesco o prêmio Félix Houphouët-Boigny por sua gestão a favor da paz e da justiça social. Durante a cerimônia de premiação, em Paris, ganhava força nas rodas de conversas a indicação de Lula ao Nobel da Paz. Embora a candidatura já tenha sido cogitada em outras ocasiões, é a primeira vez que o nome do presidente surge acompanhado de uma estatística: cerca de um terço dos homenageados com o "Félix" levou para casa meses depois o Nobel, como ocorreu com Nelson Mandela, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat. Mas esta não é a única indicação da possibilidade de uma carreira no Exterior para Lula. Junto com a medalha e os US$ 150 mil do prêmio, o presidente colheu também elogios dos homens que realmente decidem quem ocupa os cargos importantes nos organismos internacionais.

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FUTEBOL No Exterior, Lula sabe explorar os trunfos do País

"A crise econômica abriu uma agen da internacional que não estava nos planos do presidente", disse um ministro brasileiro à ISTOÉ. "Agora a decisão dele é aproveitar esse espaço porque ele projeta o Brasil lá fora e traz retorno político e econômico." Depois de ser chamado de "o cara" pelo presidente americano Barack Obama e do apoio explícito do francês Nicolas Sarkozy, vários outros líderes e chefes de Estado passaram a elogiar Lula. Presente à cerimônia da Unesco, o primeiroministro português, José Sócrates, al çou Lula ao rol dos estadistas. "Uma das personalidades mais admiradas e respeitadas do mundo", disse. Para Só crates, o brasileiro se destaca por uma "obra concreta", e citou os programas Fome Zero e Bolsa Família.

Antigos rivais também se transformaram em aliados. O americano Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, resolveu apoiar a ideia de Lula de fortalecer a instituição dando mais poder aos países emergentes. Logo Zoellick, que, numa reunião da OMC em 2003, pediu aos países pobres que não fizessem discursos longos. Lula aproveita o assédio para emplacar o debate sobre a reforma das organizações internacionais e do sistema financeiro. Um aliado de primeira hora nessa empreitada é Sarkozy. Os dois se reuniram na quartafeira 8, em Paris. Conversaram sobre a parceria estratégica na área de defesa e acertaram uma posição comum para o encontro do G-8, no dia seguinte, em L' Áquila, na Itália.

Na discussão entre os presidentes, Lula disse que o G-8 já não tem legitimidade e que é preciso ampliá-lo. Ao que Obama respondeu com um tom conservador, alegando ser difícil convencer os demais países desenvolvidos a ceder espaço aos emergentes. Sarkozy então pediu a palavra: "Caro Obama, entendo perfeitamente que tenhamos dificuldade para mudar, pois não sabemos ainda o melhor formato. Mas acredito que seja bom começar com a inclusão de 2,5 bilhões de pessoas." O presidente francês se referia ao total da população do G-5, formado por China, Índia, Brasil, México e África do Sul.

Recentemente, durante a reunião da OEA, que decidiu pela reintegração de Cuba, Obama ligou para Lula para se aconselhar. Na quinta-feira 9, Lula presenteou Obama com uma camisa da Seleção Brasileira e falou sobre a partida em que o Brasil venceu os EUA por 3x2. Disse que, diante do risco de derrota, repetiu várias vezes o slogan da campanha de Obama: "Sim, nós podemos." E o jogo acabou virando. "Vamos dar o troco", rebateu o americano.

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Lula também mantém uma relação amistosa com o premiê britânico, Gordon Brown. Dentre os emergentes, tem grande simpatia pelo indiano Manmohan Singh e pelo chinês Hu Jintao. "Quando está com Hu, Lula o pega pelo braço e o trata como se fosse um velho amigo", diz um assessor. Para Alcidez Costa Vaz, professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB, a popularidade de Lula é resultado de uma agenda ajustada à nova dinâmica internacional, além do carisma e de uma diplomacia presidencial ativa.

"Quando deixar a Presidência, Lula deve levar consigo boa parte desse crédito", afirma Vaz.

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