RIO - Seu filho já chegou do colégio com informações sobre sexo? Ou já fez perguntas sobre o assunto que a deixaram sem resposta? Nessas horas, a escola pode ser uma aliada e tanto. A educação sexual ajuda a diminuir a incidência de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce e comportamentos abusivos. É o que indica um estudo feito pela Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês), que concluiu que ensinar crianças e adolescentes sobre sexo não estimula a sexualidade precoce. Pelo contrário: ajuda a saciar a curiosidade natural da idade e contribui para que eles tenham informações adequadas para tomar decisões com mais responsabilidade.
Clique aqui e assista a uma aula de educação sexual para adolescentes
No Brasil, o projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, do Ministério da Saúde, existe desde 2003. Dados do próprio ministério indicam que a iniciativa de promover aulas sobre sexo tem dado certo. Segundo a última pesquisa sobre os hábitos sexuais dos brasileiros , divulgada em junho deste ano, os jovens são os que mais conhecem as utilidades do preservativo e os que mais se protegem nas relações sexuais. Em dez anos, o número de jovens que usou a camisinha na primeira relação aumentou 20 pontos percentuais, passando de 48% para 68%.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a orientação ou educação sexual faz parte dos chamados temas transversais, incluídos nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Esses temas são conteúdos trabalhados em diversas disciplinas como Ciência e Biologia. Como não há regras, as escolas podem fazê-lo conforme o projeto político-pedagógico de cada uma. Algumas escolas preferem diluí-la entre as disciplinas, enquanto outras fazem do tema uma matéria específica.
" Procuramos orientar os professores de modo que essas questões sejam trabalhadas com naturalidade, fazendo o aluno refletir (E. Almeida) "
No Rio, a Secretaria municipal de Educação prefere dissolver o tema em diversas disciplinas, pois não tem nenhum projeto específico. O Estado de São Paulo também adota medida semelhante e conta com o programa Prevenção Também Se Ensina, criado em 1996, que orienta os professores sobre como lidar com o tema em sala de aula. O programa atende alunos do ensino fundamental até o ensino médio.
Clique aqui e baixe o documento dos Parâmetros Curriculares Nacionais com sugestões de como abordar o tema nas escolas.
- Não estamos procurando estimular a sexualidade. Quando o aluno começar a ter uma vida sexual, já vai estar ciente dos métodos de prevenção e saberá respeitar o seu corpo e o do parceiro. Procuramos orientar os professores de modo que essas questões sejam trabalhadas com naturalidade, fazendo o aluno refletir - diz Edison de Almeida, diretor do departamento de educação preventiva da Fundação para o Desenvolvimento da Educação.
Para a psicoterapeuta Lydia Rey, do colégio Notre Dame de Ipanema, no Rio, o mais importante da aula é informar sem julgar ou banalizar as dúvidas dos alunos.
- As crianças fazem perguntas concretas, objetivas e sem medo. Tanto no ambiente escolar como em casa, os adultos devem tomar o cuidado para responder a dúvida de acordo com a faixa etária, fornecer embasamento teórico e não ir além do que os pequenos devem entender naquela idade. Também é preciso tomar cuidado para não informar de um jeito vulgar - explica.
Gravidez, DST e preservativos
A partir do primeiro ano de vida e até os 6 anos de idade, educadores costumam conversar sobre as diferenças entre meninos e meninas. A partir da segunda série do ensino fundamental, as crianças aprendem sobre o próprio corpo e, por volta dos 8 ou 9 anos, pais e professores devem estar prontos para responder sobre gravidez, beijo e namoro. Na sexta série do ensino fundamental, as escolas costumam introduzir temas como gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis e preservativos.
" As meninas podem saber como evitar uma gravidez, mas também querem ouvir da mãe ou do pai sobre ficar, namorar, se apaixonar (L. Rey) "
Mesmo os adolescentes com acesso a livros, revistas, televisão e internet sabem pouco sobre sexo, afirma a professora Maria do Carmo Porto, que ensina a disciplina para alunos do colégio Mopi, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Os adolescentes, segundo a professora, ainda têm aquela ideia de que os temas tratados na aula não vão acontecer com eles.
- O professor ainda tem um quê de enciclopédia. São poucos os alunos que nos abordam com problemas pessoais. Nada impede que o aluno que tenha aulas de educação sexual acabe com uma DST ou lidando com a gravidez precoce. Eles ainda têm dificuldade para aplicar o que aprendem na escola no dia a dia - acredita.
Para Lydia, os pais devem mostrar que estão abertos para falar do assunto, já que muitas vezes eles são a primeira fonte de informação das crianças. Além do factual, os adultos devem estar preparados para falar de sentimentos.
- As meninas podem saber como evitar uma gravidez, mas também querem ouvir da mãe ou do pai sobre ficar, namorar, se apaixonar. Querem saber se o menino gosta delas e até que ponto podem ir na relação com eles - garante.
YouTube vira ferramenta de educação
Quando o assunto é educação sexual, a internet pode ser uma grande aliada. Já está disponível no YouTube um vídeo de animação sobre o vírus do Papiloma Humano (HPV) e sua correlação com o câncer. Feito pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia, uma rede no Rio de Janeiro dedicada à pesquisa em câncer, o vídeo informa de forma divertida a importância da prevenção.
O projeto baseou-se numa pesquisa feita com alunos dos ensinos fundamental, médio e universitário da rede pública e privada do Rio de Janeiro para saber o que esses adolescentes sabem sobre o HPV. Os resultados mostraram a total falta de conhecimento dos jovens cariocas. Em relação à primeira pergunta (O que é o HPV?), 35% afirmaram não saber e apenas 21% acertaram a resposta. Em 2007, a UFRGS, em sua prova de vestibular, lançou a mesma pergunta - e dos 30 mil candidatos, 56% não souberam a resposta.
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