MÁRCIO PINHO, FÁBIO TAKAHASHI - Folha de S.Paulo - 12-09-09
A gestão Gilberto Kassab (DEM) admitiu ontem que o "turno da fome", como ficou conhecido o turno das 11h às 15h das escolas municipais de ensino fundamental de São Paulo, vai acabar só no início de 2010. Pelo menos 66 escolas vão manter o terceiro turno no início de 2009.
A informação constará de portaria que deve ser publicada hoje, no "Diário Oficial" da Cidade, com um cronograma de extinção do turno.
Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem |
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Alunos de escola municipal de São Paulo; gestão Kassab só vai conseguir acabar com o turno da fome em 2010 |
A nova previsão contraria o prazo que havia sido estabelecido pelo próprio prefeito e candidato à reeleição. Em entrevista à Folha em 2007, Kassab disse que o "turno da fome" seria extinto até o final da atual gestão, a não ser que houvesse "impedimentos financeiros".
Contudo, segundo o secretário da Educação, Alexandre Schneider, o motivo do atraso não foi financeiro, mas por dificuldades enfrentadas nas áreas para a construção de escolas.
"Nos locais onde a gente precisa construir, é difícil achar terreno. Ou, quando você acha, há dificuldades de construção. São áreas de proteção ambiental, onde a legislação é um pouco mais rígida, ou áreas onde a própria legislação do uso do solo também é rígida", diz.
O "turno da fome" é adotado onde há grande demanda e só os períodos da manhã e da tarde não são suficientes. Para contornar o problema, reduziu-se a carga nessas unidades de cinco horas para três horas e 40 minutos, abrindo espaço para um turno no almoço.
Das 147 escolas que funcionam hoje com o "turno da fome", 66 permanecerão com esse horário no início de 2009. Segundo Schneider, a redução é possível porque 44 unidades ficarão prontas até fevereiro, totalizando 476 escolas com apenas dois turnos, das 7h às 12h e das 13h às 18h.
O cronograma prevê ainda que o número de escolas com "turno da fome" passe para 47 no início do segundo semestre de 2009 e para zero no início do ano letivo de 2010.
O fim do terceiro turno é uma das bandeiras de Kassab, que incluiu a promessa em seu novo plano de governo.
Schneider diz, porém, que houve avanços. Desde 2005, segundo ele, apenas 137 escolas municipais trabalhavam com dois turnos. "Tínhamos 29% da rede em dois turnos e 71% em três turnos. No ano que vem, teremos 88% em dois e 12% em três."
Para ele, o terceiro turno não só prejudica os alunos mas também a organização das escolas, funcionários e professores, pois não há intervalos.
A visão é semelhante à de Maria Letícia Nascimento, pesquisadora da USP. Para ela, o turno ajudou a atender a uma demanda existente por causa de um número insuficiente de escolas, mas, com isso, "perdeu-se muito do pedagógico".
"Não sei se há causa e efeito entre o fato de a aula ser no que seria o horário do almoço e o que o aluno consegue aprender, mas é certo que alguns estudantes ficam preocupados mais em comer", diz.
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