11 de dez. de 2010

Karabtchevsky em Heliópolis

Maestro assume direção artística do Instituto Baccarelli; estreia será em abril, com a Sinfonia nº 2 de Mahler


  
O maestro Isaac Karabtchevsky foi confirmado oficialmente como novo diretor artístico do Instituto Baccarelli na tarde de quinta-feira. Sua estreia à frente da Sinfônica de Heliópolis, orquestra principal da entidade, será no dia 6 de abril, na Sala São Paulo, em concerto com a Sinfonia n.º 2, Ressurreição, de Mahler.
 
Orquestra Sinfônica de Heliópolis



Localizado em Heliópolis, maior favela da cidade de São Paulo, com cerca de 120 mil habitantes, o instituto foi criado nos anos 90 pelo maestro Silvio Baccarelli e tem hoje 1.200 alunos, que se dividem por 17 grupos corais e quatro orquestras. À sua frente, desde 2005, estava o maestro Roberto Tibiriçá. “Grande parte do reconhecimento internacional que temos hoje se deve ao seu trabalho de excelência em conjunto com nossa equipe”, diz o diretor executivo Edilson Venturelli. “Mas o ponto a que chegamos nos leva a crer na possibilidade de buscar novos horizontes, dificultados pela agenda complicada do maestro.”
Os “novos horizontes” estão ligados em especial a alguns marcos recentes na história do instituto. A Sinfônica de Heliópolis fez em outubro sua primeira turnê internacional – e já tem convites para voltar à Europa em 2011; por aqui, o instituto firmou um contrato com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo; e deve inaugurar nas próximas semanas a segunda parte de sua nova sede, com novas salas de estudo e de ensaio.
“Tudo isso nos fez repensar a nossa atividade. Teremos mais ensaios, os ensaios de naipes serão realizados ao mesmo tempo, para promover maior integração entre os professores. Para isso, vamos aumentar a bolsa que damos aos músicos em cerca de 80%, com base nos méritos individuais de cada um. E essas mudanças estruturais nos fizeram pensar também na possibilidade de ampliar nosso repertório, cobrindo mais épocas e estilos. Por tudo isso, o maestro Karabtchevsky nos pareceu a pessoa mais indicada a nos ajudar nesse processo.”


Isaac Karabtchevsky na regência da orquestra Petrobrás Sinfonica

Diretor da Petrobras Sinfônica, no Rio, Karabtchevsky se diz feliz por voltar a São Paulo, em especial nesse contexto. “Recentemente, deixei a Sinfônica de Porto Alegre, onde não consegui emplacar dois projetos que considerava fundamentais. Um deles era a construção de uma nova sala. O outro, a realização de um projeto social, que pudesse trabalhar a música em comunidades carentes. Tenho ido bastante à Venezuela, participando do projeto conhecido como El Sistema. E olhando a realidade dos barrios venezuelanos há muitas semelhanças com as nossas favelas. Portanto, não há porque não acreditar na possibilidade de realizar aqui um projeto tão importante quanto o deles, ainda mais levando em consideração a naturalidade com que a linguagem musical se desenvolve em nosso país”, diz. “Assim, quando recebi o convite do Instituto Baccarelli, fiquei muito feliz ao conhecer a estrutura de trabalho deles e perceber a possibilidade de dar um salto em direção à profissionalização da Sinfônica de Heliópolis.”

Orquestra Sinfônica da Venezuela regida por José Antonio Abreu

Segundo Venturelli, rearranjos na agenda do maestro Karabtchevsky vão permitir que ele faça seis programas diferentes com a orquestra em 2011, número que deve crescer a partir de 2012, em especial quando a terceira parte do prédio do instituto, composta por um teatro idealizado pelos mesmos engenheiros acústicos dos teatros Alfa e Bradesco, ficar pronta. O diretor executivo ressalta, no entanto, que a atividade de Karabtchevsky não vai se limitar à regência. “O que propusemos a ele foi ir além do trabalho como regente que, claro, é fundamental. O maestro vai nos ajudar a estabelecer um diálogo mais próximo entre a parte artística e pedagógica, mantendo contato frequente com os professores e alunos na discussão de repertório, por exemplo.”
Karabtchevsky não descarta parcerias com o projeto venezuelano. E aposta no poder multiplicador do instituto. “Essa orquestra está viajando pelo interior, onde pode ajudar a criar estruturas de formação. Não há limites para os voos que podemos alçar.”

Por Luis Favre - Blog do Favre - 11.12.2010

Fonte: João Luis Sampaio - OESP 

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