Maestro assume direção artística do Instituto Baccarelli; estreia será em abril, com a Sinfonia nº 2 de Mahler
O maestro Isaac Karabtchevsky foi confirmado oficialmente como novo diretor artístico do Instituto Baccarelli na tarde de quinta-feira. Sua estreia à frente da Sinfônica de Heliópolis, orquestra principal da entidade, será no dia 6 de abril, na Sala São Paulo, em concerto com a Sinfonia n.º 2, Ressurreição, de Mahler.
Orquestra Sinfônica de Heliópolis |
Localizado em Heliópolis, maior favela da cidade de São Paulo, com cerca de 120 mil habitantes, o instituto foi criado nos anos 90 pelo maestro Silvio Baccarelli e tem hoje 1.200 alunos, que se dividem por 17 grupos corais e quatro orquestras. À sua frente, desde 2005, estava o maestro Roberto Tibiriçá. “Grande parte do reconhecimento internacional que temos hoje se deve ao seu trabalho de excelência em conjunto com nossa equipe”, diz o diretor executivo Edilson Venturelli. “Mas o ponto a que chegamos nos leva a crer na possibilidade de buscar novos horizontes, dificultados pela agenda complicada do maestro.”
Os “novos horizontes” estão ligados em especial a alguns marcos recentes na história do instituto. A Sinfônica de Heliópolis fez em outubro sua primeira turnê internacional – e já tem convites para voltar à Europa em 2011; por aqui, o instituto firmou um contrato com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo; e deve inaugurar nas próximas semanas a segunda parte de sua nova sede, com novas salas de estudo e de ensaio.
“Tudo isso nos fez repensar a nossa atividade. Teremos mais ensaios, os ensaios de naipes serão realizados ao mesmo tempo, para promover maior integração entre os professores. Para isso, vamos aumentar a bolsa que damos aos músicos em cerca de 80%, com base nos méritos individuais de cada um. E essas mudanças estruturais nos fizeram pensar também na possibilidade de ampliar nosso repertório, cobrindo mais épocas e estilos. Por tudo isso, o maestro Karabtchevsky nos pareceu a pessoa mais indicada a nos ajudar nesse processo.”
Isaac Karabtchevsky na regência da orquestra Petrobrás Sinfonica |
Diretor da Petrobras Sinfônica, no Rio, Karabtchevsky se diz feliz por voltar a São Paulo, em especial nesse contexto. “Recentemente, deixei a Sinfônica de Porto Alegre, onde não consegui emplacar dois projetos que considerava fundamentais. Um deles era a construção de uma nova sala. O outro, a realização de um projeto social, que pudesse trabalhar a música em comunidades carentes. Tenho ido bastante à Venezuela, participando do projeto conhecido como El Sistema. E olhando a realidade dos barrios venezuelanos há muitas semelhanças com as nossas favelas. Portanto, não há porque não acreditar na possibilidade de realizar aqui um projeto tão importante quanto o deles, ainda mais levando em consideração a naturalidade com que a linguagem musical se desenvolve em nosso país”, diz. “Assim, quando recebi o convite do Instituto Baccarelli, fiquei muito feliz ao conhecer a estrutura de trabalho deles e perceber a possibilidade de dar um salto em direção à profissionalização da Sinfônica de Heliópolis.”
Orquestra Sinfônica da Venezuela regida por José Antonio Abreu |
Segundo Venturelli, rearranjos na agenda do maestro Karabtchevsky vão permitir que ele faça seis programas diferentes com a orquestra em 2011, número que deve crescer a partir de 2012, em especial quando a terceira parte do prédio do instituto, composta por um teatro idealizado pelos mesmos engenheiros acústicos dos teatros Alfa e Bradesco, ficar pronta. O diretor executivo ressalta, no entanto, que a atividade de Karabtchevsky não vai se limitar à regência. “O que propusemos a ele foi ir além do trabalho como regente que, claro, é fundamental. O maestro vai nos ajudar a estabelecer um diálogo mais próximo entre a parte artística e pedagógica, mantendo contato frequente com os professores e alunos na discussão de repertório, por exemplo.”
Karabtchevsky não descarta parcerias com o projeto venezuelano. E aposta no poder multiplicador do instituto. “Essa orquestra está viajando pelo interior, onde pode ajudar a criar estruturas de formação. Não há limites para os voos que podemos alçar.”
Por Luis Favre - Blog do Favre - 11.12.2010
Fonte: João Luis Sampaio - OESP
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