por Convergência de Comunicação da Cúpula dos Povos – MST
A Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Partido dos Trabalhadores
(PT), realizou debates sobre a questão agrária brasileira nesta
sexta-feira (15), como parte da Cúpula dos Povos. Participaram do painel
O Agrário Brasileiro e a erradicação da pobreza com sustentabilidade ambiental o
deputado Padre João; Renato Maluf, presidente do Conselho Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (Consea); Guilherme Cabral, secretário
de extrativismo e desenvolvimento rural sustentável; e Leonardo Veloso,
secretário de agricultura e membro do grupo de estudos em
agrobiodiversidade.
Os debatedores discutiram a crise alimentar sob diferentes
perspectivas. Para Renato Maluf, a crise dos alimentos é sistêmica e
está articulada à crise econômica, ambiental e energética. “A pobreza
rural e a fome no campo só podem existir numa sociedade desigual e
injusta, pois não ter comida para o camponês, que produz alimentos para a
sociedade, é cruel”.
Já Guilherme Cabral disse haver vontade e interesse do governo em
realizar a reforma agrária, mas não se consegue fortalecer a pauta. Ele
apontou que o Instituto Nascional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) reconhece a agroecologia como forma de resolver a pobreza nos
assentamentos, mas que “a mudança não acontece só por vontade do
governo; as organizações do campo devem levar a questão da agroecologia
para os assentamentos e formar a base”.
Leornado Veloso acredita que a erradicação da pobreza no campo se dá
por meio de políticas do governo, mas que este tem interesses diversos e
contraditórios. “Por exemplo, a produção de arroz orgânico nos
assentamentos do Rio Grande do Sul está sendo ameaçada agora pela
liberação do arroz transgênico”.
Por fim, Padre João defendeu que, para alterar o estado das coisas, é
necessário também haver educação no campo. “As universidades públicas
colocaram o saber do campo nas mãos das multinacionais. É preciso
criarmos um modelo educacional diferenciado para o campo”. O deputado
afirmou que a educação no campo não avançou muito e que as maiores
expressões de educação são iniciativa das próprias entidades e
movimentos.
Opiniões sobre a reforma agrária
Quando indagados sobre a real intenção do governo em realizar a reforma agrária – já que continua não apenas investindo maciçamente no agronegócio, mas também perdoando as dívidas dos grandes latifundiários – os palestrantes deram as seguintes respostas:
Quando indagados sobre a real intenção do governo em realizar a reforma agrária – já que continua não apenas investindo maciçamente no agronegócio, mas também perdoando as dívidas dos grandes latifundiários – os palestrantes deram as seguintes respostas:
Renato Maluf: ”A Reforma Agrária é um tema que deve ser reafirmado a
todo momento, pois o governo não se apropria dele com facilidade. É um
ponto forte, que gera conflitos, por isso é preciso ficar pressionando o
governo para que a questão seja abordada.”
Guilherme Cabral: “A reforma agrária é um tema
complexo e o governo não é monolítico. O PT precisa avançar nessa
questão com os movimentos sociais, é um tema que precisamos debater mais
no próprio partido, com o intuito de pressionar o governo e fortalecer o
Incra e o MDA.”
Padre João: “A principal característica da Agricultura Familiar não é
o tamanho da propriedade, é o uso da semente crioula, o não-uso de
agrotóxicos. E está comprovado que, onde há incentivo do governo, há
produção muito maior. No entanto, a reforma agrária não é prioridade do
núcleo do governo. Nós deputados temos que disputar e pautar o tema.
Também tenho angústias em relação ao cumprimento da reforma agrária, mas
gostaria de reafirmar meu compromisso com essa luta e também pela
soberania alimentar.
Da Cúpuladospovos.org
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