Carlos Reichenbach |
Por Andre Barcinski
Sempre admirei Carlos Reichenbach à distância.
Não posso dizer que fui amigo dele, até porque só o encontrei pessoalmente umas cinco ou seis vezes. Mas foram todos encontros marcantes para mim.
Sempre admirei Carlos Reichenbach à distância.
Não posso dizer que fui amigo dele, até porque só o encontrei pessoalmente umas cinco ou seis vezes. Mas foram todos encontros marcantes para mim.
Os dois passaram um bom tempo falando de “The Intruder” (1962), um
drama racial com William Shatner que, segundo Corman, foi o único de
seus mais de 300 filmes como produtor ou diretor a dar prejuízo. Carlão
considerava o filme uma obra-prima. E era mesmo.
Nunca conheci alguém que amasse tanto o cinema e se esforçasse tanto
para divulgá-lo. Carlão estava sempre falando de algum obscuro diretor
dinamarquês ou de um filme alemão desconhecido que você não podia perder
de jeito nenhum.
Eu não o admirava apenas como cineasta, mas como “homem de cinema”.
Porque ele não foi só um diretor de filmes: escreveu sobre cinema como
poucos, exibiu filmes, discutia cinema 24 horas por dia, nunca recusava
um convite para falar de cinema. Seu blog, Olhos Livres, era uma das melhores coisas da Internet.
Carlão sempre simbolizou, para mim, um tipo de artista em extinção no
Brasil: o que vive à margem da cultura “oficial”, alguém que tinha
conquistado seu próprio espaço e não precisava fazer concessões.
Adorava vê-lo falar sobre a Boca do Lixo e os filmes rebeldes que
vieram de lá. Adorava ler seus textos sobre os subterrâneos do cinema no
Brasil e suas louvações a ídolos como Samuel Fuller e ao cinema
autoral, pessoal e único.
Quem diz que o Brasil nunca teve uma indústria de cinema não sabe o
que diz. Carlão e seus comparsas da Boca foram heróis de um cinema
off-Embrafilme. Para mim, o melhor e mais ousado cinema que se fez no
país.
Há pouco, ouvi a notícia: Carlão Reichenbach morreu, no dia em que
fazia 67 anos. Me deu um arrependimento danado de não tê-lo conhecido
melhor.
Para mim, Carlão será sempre um farol. Um artista único e uma figura
única. Um cara que batalhou pelo cinema não como a maioria, em abraços
coletivos e corporativos que escondem a mediocridade, mas sempre
defendendo a individualidade dos criadores e o cinema dos inconformados.
Um gigante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário