Sexto ato contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo, que ocorreu ontem (18) em São Paulo |
Em entrevista professora da USP diz que revogação
do aumento da tarifa de ônibus não resolve problema a longo prazo.
Filósofa afirma que Haddad errou em demora para dialogar.
São Paulo – A filósofa e professora aposentada da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Marilena Chauí,
avalia que a eventual revogação do aumento da tarifa de ônibus, embora
importante, não resolverá o problema do transporte público de São Paulo.
“Enquanto o prefeito não quebrar o oligopólio dos
empresários de ônibus, vamos andar sempre mal das pernas, não vai
funcionar, mesmo que no curto prazo ele atenda às exigências do
movimento e revogue o aumento da tarifa. No longo prazo o problema não
estará resolvido”.
Chauí afirmou que as manifestações pela revogação do aumento das passagens são legítimas e justas |
Ela lembrou de quando era secretária municipal de
Cultura, na gestão da prefeita Luíza Erundina (1989-93), quando foi
elaborado o Projeto de Lei da Tarifa Zero, que pretendia custear o
transporte público através de uma reforma tributária muncipal. “Erundina
enfrentou a máfia dos ônibus, e uma reação em cadeia provocada pelos
grandes empresários da construção civil e dos lojistas. Movimentos
contrários dos chamados bairros nobres, como Cidade Jardim,
Higienópolis, Moema, pipocaram. Foi uma coisa medonha no nível da
sociedade civil, e os empresários de ônibus se mancomunaram com a Cãmara
Municipal para impedir a aprovação do projeto.”
Ontem o secretário municipal de Transportes, Jilmar
Tatto, admitiu que os empresários são um grupo difícil de enfrentar.
“São um setor atrasado, tanto que foram contra a criação do Bilhete
Único. É um setor cartelizado. Hoje é muito difícil retirar um operador
do sistema”, avalia.
Chauí afirmou que as manifestações pela revogação do
aumento das passagens são legítimas e têm de estar na pauta dos
movimentos sociais. “As manifestações não poderiam ser mais justas,
significa que a luta pela dignidade do cidadão na luta pela educação,
pela saúde, pelo trabalho, na moradia, tem de incluir aquilo que é
condição de mobilidade, que é o transporte.”
A professora, que é uma das conselheiras que esteve
presente na reunião de ontem (18) do Conselho das Cidades, afirmou que a
convocação do Movimento Passe Livre como participantes da reunião pelo
prefeito foi democrática, mas ressalta que o prefeito Fernando Haddad
(PT) demorou a agir.
“As reações do governador Geraldo Alckmin e do
prefeito foram diferentes, embora as duas demoradas. Alckmin reagiu
com a polícia e com prisão. E Haddad foi pego de surpresa, demorou na
resposta. Mas a atitude do prefeito foi de grandeza política porque ele
chamou os movimentos, todas as lideranças, o conselho, o secretariado,
para um debate transparente.”
A filósofa ressalta, porém, que o momento atual de
mobilização e protestos é importante para a democracia, mas não
configura um momento histórico. “Não é momento histórico, é um instante
politicamente importantíssimo, no qual a sociedade vem às ruas e
manifesta sua vontade e sua opinião. Mas a ação política é efêmera, não
tem força organizativa do ponto de vista social e política, não tem uma
força de permanência, caráter dos movimentos sociais organizados, de
presença organizada em todos os setores da vida democrática.”
Ouça entrevista aqui:
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