Está longe de ser tarefa fácil para um professor assumir que é homossexual no ambiente escolar. Mesmo alguns docentes ativistas que desfilarão na Parada Gay preferem trabalhar contra o preconceito sem se colocar no centro da questão. “Não falo abertamente com os meus alunos. Só digo ‘vocês são jovens e têm de começar a mudar a sociedade’. Chego neles e falo para não discriminar”, diz o professor de língua portuguesa Valmir Siqueira, de 39 anos.
Como dá aula para jovens de 15 a 17 anos do ensino médio em uma escola onde estudam muitos bolivianos, ele aproveita para falar de xenofobia (aversão a estrangeiros). “Sou negro e homossexual e sei o que é ser discriminado”, afirma. “Se eu defender a minha própria causa, acho que não vai ter efeito. Deixo dicas, acho que os adolescentes entendem.”
Siqueira já viveu situação parecida à do filme Entre os muros da escola, de Laurent Cantet, ganhador do Palma de Ouro em Cannes. O roteiro foi construído a partir da experiência de um professor de uma escola pública da França. Em uma das cenas, um dos alunos arruma uma forma de perguntar se o professor é gay.
“Eles perguntam se eu vou à Parada e digo que vou. Mas hoje, dependendo da sala, não afirmaria, porque acho que pode atrapalhar a forma de eu chegar nos alunos”, diz Siqueira, que é também um dos coordenadores do carro do sindicato dos professores (Apeoesp) na Parada Gay.
A discriminação, às vezes, parte dos próprios colegas, segundo os docentes. “É importante que se abra a escola para se discutir a diversidade. Alguns alunos homossexuais sofrem na mão de colegas e também viram piada”, afirma Carlos Alberto de Souza, de 46 anos, professor aposentado.
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