3 de dez. de 2011

Crescimento do capitalismo brasileiro cria 19 milionários por dia

Imagem: 1747 - W.25th St Cleveland o USA
Reportagem publicada no site da revista atribui ao crescimento da economia a multiplicação dos milionários, que desde 2007 se expandem à razão de 19 por dia. Isso acontece graças ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e das taxas de consumo, diz o texto.

Riqueza concentrada
A estatística dos 19 milionários novos por dia foi medida considerando toda a riqueza individual, incluindo investimentos, propriedade, poupança e outros patrimônios, além de dinheiro, a reportagem explica. “70% da riqueza do país estão concentrados em São Paulo e no Rio de Janeiro”, diz.
A revista deixa, claro, entretanto, que são milionários nos termos da economia brasileira, o que equivale a pessoas com patrimônio equivalente a cerca de US$ 540 mil. “Indivíduos com patrimônio entre US$ 539 mil e US$ 2,7 milhões (R$ 1 milhão e R$ 5 milhões) formam o grupo de novos milionários”, diz a Forbes. O critério para países mais desenvolvidos, como os EUA, é outro.

Novos ricos
Mas não é o crescimento por si só, senão o crescimento subordinado às relações de produção capitalista, que tem enriquecido uma parcela da população. Não se trata de trabalhadores, destituídos de propriedade, mas basicamente do aumento da fortuna de empresários. Segundo a publicação, entre os setores de destaque estão: varejo, saúde, imóveis, construção e indústrias de base.
Outro fator apontado pela Forbes são os altos salários pagos principalmente no setor financeiro. Prêmios de até R$ 1 milhão por ano chegam a ser “comuns” no Brasil, segundo a publicação.

Ninguém fica rico trabalhando
Embora também sejam beneficiados pelo crescimento, com a redução do desemprego e a elevação dos salários, a começar pelo mínimo, trabalhadores e trabalhadoras não se transformam em milionários ou bilionários. A riqueza social é, toda ela, produzida pelo trabalho, mas a apropriação do que é produzido não se dá pelo trabalho, mas pela posse do capital. Em outras palavras, não é trabalhando que se vira milionário nas condições do capitalismo. O trabalhador percebe apenas uma parte do que produz, a outra fica para o proprietário, ou seja, o capitalista.
Isto fica mais claro em recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), onde se conclui que a redução da pobreza e da desigualdade no Brasil ainda se assenta sobre bases frágeis, já que foi puxada pela oferta de empregos de baixa remuneração no setor de serviços e comércio. A forte valorização do salário mínimo salvou a lavoura, promovendo a ascensão das camadas mais pobres da população. Em geral, quem ganha salário mais alto (mas não é milionário) não teve a mesma sorte.

Até 1,5 mínimo
Segundo o estudo do órgão federal, dos 2,1 milhões de novos postos de trabalho criados por ano na década de 2000, 95% pagavam até 1,5 salário mínimo (R$ 817,5). Enquanto isso, a cada ano foram eliminadas 397 mil vagas com salário de três mínimos ou mais. O fenômeno está ligado à mudança na estrutura da produção, segundo o presidente do instituto, Marcio Pochmann. “Não é mais a indústria que comanda, são os setores de serviços.”
Na década, esses setores (basicamente comércio e serviços em geral) geraram 2,3 empregos para cada vaga na indústria – a relação era de 1,3 nos anos 1970. Serviços e comércio respondem agora por 57,6% da ocupação, contra 42,6% nos anos 1980. A proporção da indústria e da construção civil (24%) não mudou. “A sustentação dos êxitos recentes não depende só da qualificação da mão de obra. Para o longo prazo, é preciso ampliar a oferta de empregos que sejam de maior remuneração”, diz Pochmann. O estudo destaca que, em boa parte devido a aumentos reais do mínimo, o crescimento do emprego concentrado na base salarial contribuiu para reduzir a fatia de pobres na população ativa, de 37,2% em 1995 para 7,2% em 2009.

Nem pobre nem classe média
Na classificação do instituto, a maior parte do contingente de novos assalariados foi engrossar o “nível inferior” da população ativa: “Não é mais pobre, mas tampouco de classe média”. Enquanto isso, a parcela que o Ipea classifica como de “nível médio” (combinando renda a fatores como escolaridade, consumo e moradia) se manteve em 32,2%. Os que vivem de “rendas da propriedade” (lucro, juros, terras e aluguéis) passaram de 3,9% para 14,3%. O Ipea vê uma “polarização” entre as “duas pontas” com maior crescimento relativo na pirâmide social: “os trabalhadores na base e os detentores de renda derivada da propriedade”.

Sob certos aspectos, a situação da classe trabalhadora piorou em função da mudança no perfil da oferta de emprego pelos diferentes setores da economia e também pela permanência de uma perversa distribuição funcional (entre capital e trabalho) da renda. Hoje, só 16,4% dos brasileiros empregados ganham três mínimos ou mais, contra 28,7% em 2000 e 25,9% em 1990. Para Pochmann, a estagnação do “nível médio” explica parte da redução no grau de desigualdade da distribuição da renda do trabalho, que foi de 10,4% entre 2004 e 2010 – índice inédito desde os anos 1960. “A questão é como sustentar esse padrão. Se o mínimo não mantiver trajetória de crescimento, podemos ter postos com remuneração muito baixa e com isso não termos capacidade de reduzir mais a desigualdade.”

Se adotamos um ponto de vista classista para perceber a realidade, é forçoso concluir que os novos milionários não provém da classe trabalhadora, não refletem a ascensão social a partir do trabalho, mas o engrandecimento daquilo que pode ser classificado como burguesia brasileira.


(*) matéria reproduzida do sítio www.vermelho.org

Nenhum comentário:

Postar um comentário