5 Estados prorrogaram férias escolares para tentar conter pandemia; próprio ministério havia transferido aos Estados decisão de adiar ou não aulas
Foto: Caio Guatelli
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA 04/08/09
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ontem considerar um "disparate" alunos sadios terem o início das aulas adiado por conta da gripe suína. Segundo ele, a recomendação do ministério é que devem ficar em casa apenas as crianças e funcionários com sintomas como febre e tosse.
"Quem não tem sintoma não tem que ficar em casa. Seria um disparate total", disse ontem em evento no Rio. Os governos de São Paulo, Rio, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas prorrogaram as férias escolares.
A decisão foi tomada após o próprio ministério divulgar nota, na semana passada, em que transferia aos Estados a decisão de adiar ou não o início das aulas como estratégia para conter a disseminação do vírus.
Em vários Estados, as aulas foram adiadas para o dia 17. O secretário da Saúde de SP, Luiz Roberto Barradas Barata, argumentou que, a partir desta data, a temperatura estará mais amena e já terá passado o prazo que costuma durar uma epidemia de gripe (cerca de oito semanas). Ele não comentou a declaração do ministro.
O secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra, afirmou que as aulas foram adiadas com base na opinião de um comitê de especialistas. Já o governador Aécio Neves (Minas) diz que "foi uma medida preventiva" e que o Estado está "atento, mas não alarmado".
Exagero
Além da rede pública, várias escolas particulares e universidades também prorrogaram as férias. Eitan Berezin, presidente do departamento científico de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, acha que houve um certo exagero. "Até os adolescentes do ensino médio poderiam ter aulas", diz.
Berezin, porém, diz que a recomendação em relação às crianças é válida. "É uma medida importante para creches e escolas com crianças menores, porque elas se beijam e abraçam mais, têm mais contato."
O infectologista David Uip, diretor do Instituto Emílio Ribas, participou da reunião em SP que definiu pelo adiamento das aulas. Segundo ele, a decisão foi acertada, já que dados recentes mostram que a transmissão do vírus por crianças é o dobro da por adultos.
Esper Kallas, infectologista da USP, diz que o efeito da medida será pequeno, já que existem outras formas de aglomeração, como cinema e shopping, que não são evitadas.
Mas, em São Paulo, algumas das escolas que decidiram não suspender as aulas enfrentaram a resistência de pais.
Na Agostiniano Mendel (zona leste de SP), pais foram à diretoria pedir a suspensão das atividades, que recomeçaram ontem. Os alunos foram informados que, nesta semana, haverá revisão de conteúdo, com presença obrigatória. Procurada, a escola não se manifestou.
No Liceu Pasteur (zona sul), os alunos afirmam que metade dos estudantes faltou, já que a presença não é obrigatória. "Liguei para a escola para saber se vão se responsabilizar se algum aluno ficar doente", diz a acupunturista Leila de Castro, 39, mãe de Giovanna, 15.
Temporão criticou previsões de expansão da doença. "Existem os futurólogos do caos que escrevem um monte de besteira. Saiu na imprensa que nós teríamos milhões de casos, [projeção] em cima do modelo matemático feito para um vírus diferente de uma doença que não existiu. Chega a ser patético."
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