Karl Heinrich Marx
(1818-1883)
Música: Imagine, de John Lennon
"Uma das mais estranhas ironias da História é não haver limites para os erros de interpretação e as deturpações das teorias, mesmo numa época de acesso irrestrito às fontes; não há exemplo mais drástico desse fenômeno do que o acontecido com a teoria de Karl Marx nos últimos decênios. São constantes as referências a Marx e ao marxismo na imprensa, nos discursos de políticos, em livros e artigos escritos por 'respeitáveis' cientistas sociais e filósofos; no entanto, com poucas excessões, parece que os jornalistas e políticos (especialmente no Brasil) sequer viram de relance uma única linha que seja escrita por Marx (...). Aparentemente sentem-se a salvo em seu papel de peritos no assunto, visto como ninguém com poder e status no campo da pesquisa social contesta suas afirmações ignaras."
Erich Fromm, Psicanalista.
"Marx não é (...) o filósofo da tecnologia. Também não é, como pensam muitos, o filósofo (do estudo) da alienação. Antes de mais nada, Marx é o sociólogo e o economista do regime capitalista. Marx tinha uma teoria sobre este regime, sobre a influência que este exerce sobre os homens e sobre o seu vir-a-ser. Sociólogo e economista do que chamava de capitalismo e das suas transformações, não tinha (e não podia realemente ter) uma idéia precisa do que seria o regime socialista, e (antecipando seu tempo de ciência mecanicista-determinsta) não se cansava de respetir que o homem não podia conhecer o futuro antecipadamente. Não tem fundamento, portanto, perguntar se Marx foi leninista, stalinista, trotzkista, partidário de Gorbatchev ou de Mao. Karl Marx teve a sorte, ou a infelicidade, de ter vivido a mais de um século. Não deu respostas às questões desse tipo, que formulamos hoje. Podemos até fazer estas questões e procurar respondê-las por ele, mas as respostas serão sempre nossas, não dele. (...). Perguntar o que teria pensado Marx significa querer saber, realmente, o que um outro Marx, um Marx do século XX, talvez, teria pensado no lugar do verdadeiro Karl Marx. A resposta contudo, apesar de ser possível, é aleatória e de pouco interesse."
Raymond Aron, Cientista Social.
"A mudança do eixo econômico do Atlântico para o Pacífico, a tendência crescente do monopólio (em nítido contraste com a pregação de que o capitalismo precisa mesmo é de competição), a desigualdade mundial, o declínio da alta cultura (agora simplificada e de domínio global), a formação de um mercado sem fronteiras, toda essa realidade já se prenunciava nos escritos de Marx."
Carlos Haag, Analista econômico do periódico Valor Econômico
"(...) Sem medo de erro, pode-se afirmar de imediato que, depois de Marx, é impossível o retorno à ciência social pré-marxista. Marx deu à humanidade olhos novos para que ela pudesse ver de modo diferente o mundo e a história dos homens. A influência do fator econômico sobre os fatos humanos não é invenção de sonhador."
Giovanne Reale e Dario Antiseri, Filósofos e Historiadores.
Como fica claro nos pensamentos, acima transcritos, de alguns dentre tantos famosos pensadores de nosso século que compreenderam o impacto da obra de Karl Marx, a filosofia e a ciência deste alemão universal, ao mesmo tempo que representa um dos mais agudos gritos contra o processo de coisificação, mecanização e alienação do homem pelo homem, contra sua perda de humanidade e sua transformação em objeto explorado, foi igualmente submetida a distorções, vilipêndios e manipulações - intencionais ou não - por parte dos pró-marxistas e dos não-marxistas, cada um tentando utilizar-se de Marx de acordo com sua própria e mesquinha visão de mundo. Talvez somente uns poucos, como o gênio Charlie Chaplin em seu filme Tempos Modernos, tenham tido um melhor insight sobre a mensagem de Marx do que muitos dos auto-intitulados marxistas militantes ou dos antimarxistas.
Esta página, é claro, não tem a prentensão de expor Marx tal qual ele é... Para isso seriam necessários muitos megabytes de informação e um conhecimento tão ou muito mais enciclopédico e imparcial do que teria tido o próprio Karl Marx. Nem pretende demonstrar nada. Visa apenas apresentar resumidamente o homem Marx, a originalidade e o humanismo de sua obra e o seu inconteste impacto em todo o século XX, em acordo com autores mundialmente reconhecidos como estudiosos íntegros do pensamento marxiano, como Erich Fromm, por exemplo. Porém, mais do que tudo, esta página representa a minha leitura de Karl Marx a partir do próprio Karl Marx, especialmente o jovem Marx dos Manuscritos Econômicos-Filosóficos de 1844.
Karl Heinrich Marx nasceu na Alemanha, em 15 de maio de 1818, na pequena cidade de Treves, filho de um advogado de origem judáica, Heinrich Marx, e de uma dona-de -casa, Henriette Pressburg.
O jovem Karl, sob o incentivo intelectual do pai, realizou os seus estudos básicos em Treves seguindo, posteriormente, para Bonn, cidade natal do grande compositor Ludwig van Beethoven, para estudar Direito. Karl, como a maioria dos jovens de todos os tempos, preferiu mergulhar no clima boêmio da cidade, imersa nos ideais do romantismo idealista de Schelling, Goethe e outros, que a se dedicar seriamente aos estudos das Leis. Por isso seu pai o transferiu para uma universidade mais disciplinada em Berlim, em 1836.
Ainda neste ano, o romântico Marx se apaixona e noiva secretamente com uma das mais belas mulheres de Treves, e tão jovem e idealista quanto ele: Jenny von Westphalen, cujo irmão, Ferdnand, seria ministro do Interior da Prússsia posteriormente. Marx casou-se com ela, finalmente, em 1843.
Em Berlim, Karl seguiu com destaque os cursos disciplinares e frequentou o "Doktor-Club", círculo de jovens e brilhantes intelectuais hegelianos. Lá eles discutiam a filosofia de Hegel e outros filósofos românticos. Em 1841, Karl laureou-se em filosofia.
Depois de formado, Karl tentou seguir a carreira acadêmica na universidade de Bonn com a ajuda de seu amigo, o teólogo Bruno Bauer. Mas este era considerado um teólogo progressista e ousado demais, e foi logo afastado da universidade, frustrando os anseios de Marx. Sem poder seguir seu sonho, Marx se dedica ao jornalismo, sendo o redator da "Gazeta Renana", órgão de concentração dos intelectuais da região. Logo Marx seria promovido a redator-chefe. Porém, como quase sempre ocorre, a força intelectual do jornal acabou por incomodar muitos 'poderosos' (o jornal não era governista nem mercantilista como boa parte da mídia popularesca do Brasil) e, após inflamar os ânimos da burguesia latifundiária tradicionalista de parte da Prússia, foi oficialmente interditado em janeiro de 1843.
Nesse mesmo período, a imensa produção intelectual de Marx estava em pleno vapor, mesmo que, no global de sua obra, estivesse ainda em seu início. Estudioso de Feuerbach, Marx escreve em 1843 a Crítica do direito público de Hegel, da qual a introdução foi publicada em Paris no ano sguinte por Ruge, nos "Anais Franco-Alemães", do qual Marx seria, a convite de Ruge, co-diretor. Na cidade Luz, Marx entrou em contato e foi bem recebido por vários grandes intelectuais como Proudhon, Blanc, Heine, Denizard Rivail, George Sand, Bakunin e, sobretudo, o seu grande amigo e colaborador de toda a vida, Friedrich Engels. Porém, mais uma vez, a ousadia e o impacto dos "Anais" acabaram por decretar o seu próprio fim, tendo sido publicado apenas um volume.
Marx, porém, com a ajuda de amigos da cidade alemã de Colônia, prosseguiu sua incansável pesquisa em filosofia e economia política. Foi nesta época que ele escreveu talvez a sua obra mais importantes antes de O Capital e, em muitos pontos, mais transparente e acessível ao pensamento de Marx que sua obra irmã posterior: Os Manuscritos Econômico-Filosóficos. Karl também contribuia com artigos políticos para o jornal dos artesães alemães, o Vorwärts. Como este jornal tinha uma linha crítica-socialista e os artigos de Marx eram muito brilhantes, e como o jornal era lido por várias outras pessoas além dos artesãos a quem se dirigia, especialmente estudantes, a colaboração de Marx acabou por inflamar mais uma vez os ânimos farisáicos do poderosos de todos os tempos, e Karl foi expulso da França em janeiro de 1845.
Passando a residir na Bélgica, Karl e Engels passam a aprofundar ainda mais seus estudos, com o apoio terno de Jenny. Em janeiro de 1848, Marx e Engels redigem o famoso e ainda altamente atual - em sua visão crítica do capitalismo - Manifesto Comunista, a pedido dos membros da "Liga Comunista" de Bruxelas. Com os movimentos sociais de 1848 na França, Marx volta a Colônia, na Alemanhã, onde tentar novamente o jornalismo. Posteriormente, depois de lhe ser negada permanência em Paris, Marx vai para Londres, em 1849, onde permancerá até sua morte.
Na capital do Reino Unido, Marx passa por toda sorte de dificuldades, mas com a ajuda de Engels e de seus artigos para vários jornais, Karl consegue se dedicar e aprofundar-se nos estudos de economia política, sociologia e história de tal modo que seu conhecimento e argumentação impressionam a todos os que o conhecem. Desta são as sementes que mais tarde iriam eclodir em O Capital, cujo primeiro volume, redigido por Marx, veio à luz em 1867, sendo os outros dois compilados por Engels a partir das notas originais e publicados após a morte de Karl, em 1883.
Dedicado quase que obsessivamente na atividade de organização política do movimento operário, Marx funda em Londres, em 1864, a "Associação Internacional dos Trabalhadores".
No período posterior, Marx se dedica febrilmente ao trabalho. Em 1881 morreu sua terna e doce companheira e grande incentivadora, Jenny. Semi-solitário, mas muito ativo, Marx finalmente expira em 14 de março de 1883.
Que Karl Marx foi um gênio quer da Filosofia, quer da Sociologia, quer da Crítica da Economia Política, isso poucos ousam questionar, embora muitos - em especial os críticos que nunca o estudaram - costumem apontar "falácias"; aparentes em sua obra.
O grande problema, porém, surge quando o seu legado passa a ser 'apropriado' por seus seguidores e admiradores, ou mesmo - e principalmente - pelos seus inimigos (muitos e poderosos). Mas este é exatamente o mesmo problema que ocorre no legado de outros grandes homens, como Sócrates ou Cristo, muito em especial quando tentam institucionalizar e dogmatizar sua herança. Cristalizar e dogmatrizar a obra de Marx em catecismos rígidos é violentar e demonstrar alta ignorância da própria essência do mestre. Ao contrário da tradição filosófica alemã, eminentemente idealista e sistêmica, Marx não construiu nem pensava em uma nova filosofia de sistema que pretendesse ser uma representação acabada do mundo. Como bem aponta Denis Collin, em Marx, a filosofia é uma atividade essencialmente crítica. Crítica mesmo da inversão dos elementos da filosofia que costumam substituir o homem vivo por representações descarnadas ou racionalizadas dele mesmo e, em especial, crítica da Economia Política, das teorias clássicas da Economia que pretendem explicar como naturais e permanentes as conflitantes relações de produção do capitalismo que, de fato, são apenas frutos das relações de trabalho entre os homens vivos, algns que detêm os meios (terras, máquinas, capital) e outros que vendem sua capacidade de trabalho (a imensa maioria), homens que lutam pela sua existência e que, além da luta pelo básico, querem amar, ter filhos e criá-los diante de determinado período da História. Esta crítica é a fonte da atualidade de Marx e permanece uma ação sempre viva de rejeição de um mundo de consumismo exacerbado que personifica as coisas, endeusa o mercado e reifica/coisifica os homens. Compreender Marx não é, portanto, tentar retomar este movimento crítico, este questionar sobre um tipo de ação e pensamento que transforma o mundo em um lugar estranho ao homem e à vida, em geral.
Também o chamado “materialismo” de Marx é um ponto pouco entendido – mais freqüentemente, imensamente mal entendido. O materialismo de Marx é, em sua crítica filosófica e social, um anti-idealismo que, nos sistemas filosóficos e econômicos, tomam o genérico e o mercado como sujeito e as pessoas, como meros predicados destes pretensos universais. Não se trata de um materialismo ao modo vulgar ou no estilo do atomismo de Demócrito, mas da desconstrução das generalidades algo vazias dos conceitos da filosofia política. Assim, o Estado não é um ente, uma Idéia platônica a existir a priori, mas é, sim, um estrutura complexa que, na verdade, reflete o trabalho e a ação de homens vivos. Assim, o materialismo em Marx consiste em que ele rejeita a transformação e conceitos abstratos como “Estado”, o “Homem genérico”, a “mão invisível do mercado” como sendo realidades existentes por elas mesmas. Assim, a “matéria” do dito “materialismo” de Marx é constituída pela ATIVIDADE prática de pessoas vivas. Não há algo como uma demonstração do primado da matéria sobre o espírito – isso é uma interpretação vulgar e falsa do marxismo -, mas a do primado, ou seja, do destaque de que as pessoas valem por si e são muito mais que as representações racionais ou conceituais que se fazem sobre elas.
Isso nos remete imediatamente à questão do problema da religião em Marx. Seguindo seu método, Marx vê na Religião o reflexo do que está nos anseios das pessoas. Estes anseios podem levar a uma busca de concretização espiritual ou, ao contrário, dependendo de quem está no poder, a uma espécie de fanatismo tirânico incapaz de suportar qualquer visão de mundo diferente da sua e estimula seitas que perpetuem o mundo em que domina. Isto é fato e é atual. Basta ver o discurso fundamentalista e messiânico de Bush ou ligar a televisão à noite para se notar que a segunda modalidade de atividade ganha da primeira. Infelizmente, a fácil teologia de mercado midiático suplantou a sensível Teologia da Libertação. Assim temos o democrático e ecumênico “Encontro para a Nova Consciência” sendo atacado violentamente por um suposto “Encontro para a Consciência Cristã” evangélico e politicamente poderoso, etc. Mas, embora a famosa frase “a religião é o ópio do povo” seja usada fora de contexto e recortada do texto em que está muitas vezes de má fé por simpatizantes e críticos de Marx e da Religião institucionalizada, o que o pensador quer dizer de fato, está contida linhas acima desta finalização tão conhecida encontrada no texto da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel: :
“ “O homem faz a religião, não é a religião que faz o homem. A religião é, na realidade, a consciência e o sentimento próprio do homem que, ou não se encontrou ainda, ou já se perdeu de novo. Mas o homem não é um ser abstrato, exterior ao mundo real. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado, essa sociedade produzem a religião (....)
“A religião é a teoria geral desse mundo, seu compêndio enciclopédico, sua lógica sob forma popular, seu ponto de honra espiritual, seu entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua razão geral de consolo e de justificação (...)
“A miséria religiosa é, de um lado, expressão da miséria real e, de outro, protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida pela infelicidade, a alma de um mundo sem coração, e é o espírito de uma época sem espírito. É o ópio (ou seja, a anestesia diante da crueldade de um mundo 'coisificado') do povo”.
Ainda hoje, mais de um bilhão de seres humanos vivem e são educados naquilo que se chama erroneamente de marxismo (China, Cuba). Porém, há décadas que se sabe que este marxismo não é a proposta social de Karl Marx, e tal qual ele se apresenta, há pouco de Marx e muito de outros, ou seja, está altamente contaminado. Na verdade, o tipo de governo socialista da Noruega, Suécia e Suíça estaria, em análise, mais perto do ideal socialista ( e de fato, os dois primeiros países constituíram seus governos dentro de um modelo socialista) do que de alguns países ditos “comunistas”.
Este "marxismo" de estado é uma vertente interpretativa do pensamento de Marx e dificilmente seria aceita por ele, mas, infelizmente, se tranformou numa ideologia rígida dos chamados países comunistas e foi, também, apropriada e altamente cristalizada tal como hoje se apresenta, calculadamente, pelos ditos capitalistas, sendo usada como arma para manter, por ambos os blocos, seu poder. De qualquer forma, não há que se negar que mesmo nestes países as conquistas sociais foram inúmeras. Dentre os bilhões de habitantes da China, quase ninguém passa fome, e em Cuba, apesar de um embargo econômico criminoso da superpotência dominante de mais de 40 anos contra a ilha indefesa, todos têm direito à educação, moradia e um dos melhores sistemas médicos do mundo. De qualquer modo, o poder intelectual de Marx abriu os olhos do ocidente para verdades terríveis de um modo de produção que explora e aliena o ser humano (para uma maior e melhor comprensão histórica da mecânica capitalista, veja-se o texto "Capitalismo, O Sepulcro Caiado"). De fato, tal foi a força e alcance de sua mensagem, que uns o usaram para obter o poder a qualquer custo, e outros, assustados com seu afiado bisturi, calculadamente deturparam suas idéias, inclusive falando as mais absurdas bobagens. Só um imbecil poderia responsabilizar Marx por desmandos de governos ditos "comunistas", do mesmo modo que só um imbecil poderia responsabilizar Jesus Cristo pela Inquisição ou pelo mercantilismo alienador de algumas seitas evangélicas. Talvez este imbecil seja educado pela Rede Globo ou pela sórdida Revista Veja (clique aqui para assistir ao video "Midiatrix", uma sátira a estes dois veículos de comunicação ideológicos). Por sinal, não faltaram televangelistas e radioevangelistas que chegassem a comparar Marx ao próprio Diabo, e incentivaram bastante as intervenções do imperialismo em vários países, usando e abusando da máquina de guerra para dizimar populações inteiras (em especial as que tenham escolhido a via socialista) e garantir os interesses comerciais, numa prática bastante sutil e bem própria do "amai-vos uns aos outros".
Como bem observa Francis Wheen:
A história do século XX é um legado de Marx. Vários ícones e monstros da era moderna se apresentam como seus herdeiros. Mas, se ele os reconheceria como tais, já é outra história. Mesmo durante a sua vida, as momices de pretensos discípulos costumava levá-lo ao desespero. Ao tomar conhecimento de que um novo partido francês se dizia marxista, ele respondeu que, neste caso, "Eu, pelo menos, não sou marxista". Não obstante, menos de cem anos depois de sua morte, metade da população mundial era dominada por governos que professavam ter no marxismo seu credo norteador. As idéias de Marx transformaram o estudo da economia, da história, da geografia, da sociologia, da filosofia e da literatura. Desde Jesus Cristo, nenhum pobretão obscuro havia inspirado tanta devoção global - ou sido tão calamitosamente mal interpretado.
Não podendo abarcar toda o alcance e extensão da obra de Marx, que é um dos pais da Sociologia e presença obrigatória nos cursos de História e Filosofia, podemos começar dizendo que o pensamento de Marx é, fundamentalmente, uma tentativa de compreensão da sociedade capitalista, onde uma minoria (os capitalistas) dita as regras para o viver e o pensar de uma maioria (os trabalhadores). Marx se dedica analisar as contradições entre estas duas classes. A distância imensa e o desequilíbrio entre os que detêm os instrumentos para a produção, como máquinas e equipamentos vários, e a terra (meios de produção) e os que nada têm a não ser sua força de trabalho (os assalariados, empregados e operários), constituindo duas classes básicas e cada vez mais polarizadas no sistema capitalista, é o que salta aos olhos nos primeiros estudos de Marx. A tensão entre estas duas classes, que a cada dia parece aumentar - mesmo que tacitamente - agora pode se mostrar em sua frieza já que não parece mais existir a ameaça socialista, desde o fim (há décadas buscada e aspirada pelas potências do Lucro) da União Soviética - e tal fim é amplamente propagado pelos meios de comunicação responsáveis pela divulgação da ideologia (visão de mundo) mais favorável ao capitalismo, e este pode agir como bem quiser, sem que haja o contrapeso 'marxista' para equilibrar seus exageros.
Cabe aqui uma reflexão do Psicólogo e Direitor da UNESCO para a Educação para a Paz, Dr. Pierre Weil:
NEOCAPITALISMO OU NEOFEUDALISMO?
Vivemos numa época muito curiosa e até intrigante. Algo está a nos deixar perplexos: À medida que se desenvolve o neo-capitalismo, a pobreza e a miséria aumenta. Isto se dá não somente nos países pobres, mas também nos, do primeiro mundo.
As causas são bastante conhecidas desde os estudos de Marx. Há porém fatores mais recentes que vem ainda mais piorar o quadro: a explosão populacional, a automação, a informática, o "enxugamento" dos programas de racionalização do trabalho, estão "jogar" milhões de seres humanos para a rua aumentando estupidamente o número de excluídos do processo sócio-econômico.
Com isto estamos voltando progressivamente à uma situação bastante parecida com a da época feudal, na qual tinha os senhores feudais com a sua corte e súditos que viviam numa situação financeira ótima ou razoável conforme o caso, e de outro lado a maioria do povo que padecia na miséria. O resultado era uma situação permanente de assaltos, violência, roubos, o que obrigava a classe dominante a se trancar dentro de castelos, cercados por um sistema de defesa constituído por um cinturão de água, e colossais muros. Para entrar, a famosa ponte levadiça.
Parece que estamos voltando para uma situação bastante parecida. Enquanto aumenta a pobreza e a miséria, através sobretudo do desemprego, aumentam os assaltos e, paralelamente as medidas de proteção; a única diferença com a época medieval, é que os sistemas de defesas foram modernizados. Em vez das altas paredes, temos as grades metálicas pontiagudas; no lugar da ponte elevadiça, temos o portão eletrônico; as torres de observação, foram substituídas por câmaras de televisão e os vigias que davam o alarme são agora representados por sistemas eletrônicos de alarme.
A história se repete, mas com diferenças referentes à época. Os meios primitivos da era medieval foram substituídos por processos etnológicos sofisticados. Mas a situação e a sintomatologia são assustadoramente parecidos. Não será um dos sinais de alarme de que precisamos mudar de sistema econômico?
Pierre = Weil
" "A história de toda a sociedade humana, até nossos dias, é a história do conflito entre classes, especialmente de uma minoria que explora uma imensa maioria. Entre o homem livre e o escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de ofício e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos se encontram sempre em conflito, ora disfarçada, ora abertamente, e que termina sempre por uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou então pela ruína das diversas classes em luta".
Karl Marx e Friedrich
Engels, O Manifesto Comunista, 1848.
Ora, hoje a exploração unilateral das grandes multinacionais tem um braço armado na maior potência mundial dos dias de hoje, e uma ideologia mecanicista e intelectualista que constrói artificialmente toda uma visão de mundo adequada à exploração natural e humana leveda às últimas conseqüências. Como "neoliberalismo" e "globalização" são duas palavras fabricadas para maquiar a velha exploração, usura e roubo, vejamos o que sobre isso nos diz o jornalista Sebastião Nery:
Agiotas globalizados
Eles são satânicos. Alugam, compram, corrompem a imprensa, economistas, analistas, assessores e consultores, inventam e impõem palavras novas para tentar disfarçar velhos crimes deles contra a humanidade. Colonialismo virou imperialismo, depois mundialização e afinal globalização. Desde a Bíblia, agiotagem era usura. Virou banca, investimento financeiro, agora é rentismo. Está todos os dias nos colunistas venais. Rentista é o agiota com a fatiota de patriota para enganar a patota idiota.
Portanto, para Marx, o que vemos constantemente na história humana é uma luta entre setores opostos, classes antagônicas, que, em seu processo de interação, buscam uma solução para as tensões econômicas resultantes de suas diferenças. E a sociedade atual capitalista, a sociedade da globalização econômica, não é diferente, ou é até ainda mais explicitamente antagônica do que a de outros tempos.
Na verdade, a imensa maioria da população mundial depende de uma ridícula minoria para sobreviver. Esta detêm os meios de produção, ou seja, dos meios físicos necessários à produção (terra, maquinários, ferramentas, máquinas, instalações, etc.) que são inacessíveis ao homem/mulher comum, que não tem outra coisa para "vender" a não ser sua própria força de trabalho, que é considerada pelo capitalismo mais uma mercadoria, e cada vez menos valorizada.
Fala Marx em seus "Manuscritos Econômico-Filosóficos":
"Os salários tem parte de seu valor determinado pelo conflito entre o capitalista e o trabalhador. Neste, o capitalista sempre vence, impreterivelmente. Ele, afinal, pode viver mais tempo sem o trabalhador do que este sem aquele". Ora, desta forma, a pessoa do trabalhador passa a ser tratada como uma mercadoria ambulante - ou até menos que isso, já que a mercadoria "morta" não faz exigências por melhores condições de vida, e ainda pode ser vendida passivamente por um preço muito acima do que foi gasto em sua produção, dando bastante lucro. Ainda hoje, na contabilidade, o pagamento de salários não é registrado como investimento na produção, mas sim como "despesa".
Ora, o capital e seu sistema nada mais são que uma busca obsessiva pela acumulação crescente dos frutos do trabalho alheio (ao operário que produz algo é negada muitas vezes a possibilidade de poder comprar este mesmo algo que produz), o que implica que - ao menos na fase de expansão capitalista do século XIX (já que a de finais do século XX ficou escandalosamente pior com a globalização) - o crescimento econômico de um país se dá por um crescendo de alienação "quando uma quantidade cada vez maior dos frutos ou produtos produzidos do trabalhador lhe são retiradas, quando seu próprio trabalho o confronta crescentemente como propriedade alheia, e quando seus meios de vida e de atividade concentram-se cada vez mais nas mãos do patrão capitalista". Francis Wheen compara tal fato ao modo ocorrente em que "uma galinha inteligente (se existisse essa criatura improvável) teria a suprema consciência de sua impotência no auge da sua vida produtiva, ao por uma dúzia de ovos com o suor e a dores de seu corpo e vê-los surrupiados ainda quentes por quem nem de longe participa diretamente de sua produção".
Ora, numa nação onde há prosperidade econômica, há também uma crescente concentração de capital e de poderes ao seu redor junto com uma competição mais intensa, não só entre capitalistas, como também entre os trabalhadores, pelo inchamento de oferta de mão-de-obra jovem ávida por salários num mercado cada mais restrito. Continua Marx: "Os grandes capitalistas arruínam os pequenos, por absoluta impossibilidade destes fazerem frente economicamente àqueles, e uma parcela destes pequenos empresários mergulha na classe trabalhadora comum, a qual, em vista desse aumento de seus integrantes, sofre uma nova depressão salarial (o aumento do exército de desempregados é usado como motivação para se reduzir salários dos operários na ativa) e torna-se ainda mais dependente das decisões do punhado de grandes capitalista que, em sua busca do maior lucro no menor tempo possível, dão de cima para baixo todas as condições e exigências aos quais o trabalhador não tem outra escolha senão a de submeter-se. Como o número de capitalistas diminui diante dos grandes cartéis e monopólios multinacionais, praticamente deixa de existir entre eles uma competição pelos trabalhadores, que em se apresentando em grande número, acaba por constituir-se em um contingente muito maior que a da oferta de empregos. Ora, sendo cada vez maior o número de trabalhadores, ano após ano aumenta a competição entre estes por uma vaga de trabalho, a batalha por um lugar torna-se ainda mais considerável, ANTINATURAL, DESUMANA E VIOLENTA". Quem não consegue emprego - e as exigências do deus "mercado"para tanto são sempre crescentes - precisa sobreviver de alguma forma. Quem nada tem, nada tem a perder a não ser a vida, daí o surto de violência urbana contemporânea - sem esquecer que se existem traficantes bem equipados, grande parte do dinheiro que eles conseguem advêm da própria burguesia viciada que os sustenta. Mas quem consegue trabalho, nem por isso está em uma situação maravilhosa com melhores condições de dignidade humana. Este processo - que têm a frieza da lógica cartesiana dos gráficos da economia - aponta que, mesmo entre as economias mais propícias, e, ainda mais, como no caso do Brasil, nas economias "capengas", as únicas conseqüências para o infeliz trabalhador são, além do sentimento de "coisificação" e redução de homem em apêndice da máquina - um apêndice, de resto, descartável - é "o excesso de trabalho e a morte prematura, o estresse, o mal-estar, a redução à condição de máquina, a escravização ao capital". Isto foi escrito em 1848, mas Marx vai mais além, parecendo estar observando o século XX do pós-guerra: "Uma vez que o trabalhador é reduzido a uma máquina, a máquina em si pode confrontá-lo na condição de concorrente".
O processo, porém, chega a um ponto calamitoso quando os grandes monopólios produtivos e financeiros extrapolam seus países de origem e buscam consumidores em outra países, impondo toda uma cultura de consumo pelo consumo visivelmente suicida, já que esgotam os recursos naturais e humanos do planeta a uma taxa sempre crescente e irreversível. Fala Marx em O Manifesto Comunista o que todos os ecologistas dizem hoje em dia: "Pela exploração do mercado mundial, a alta burguesia imprimiu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países". Comenta Francis Wheen que "enquanto importa artigos exóticos, a burguesia impinge seus próprios produtos, gostos e hábitos a todas as outras pessoas". "Numa palavra", no dizer de Marx, "ela cria um mundo à sua própria imagem", sem se perguntar se o "MUNDO" natural agüenta toda essa imbecilidade. "Para reconhecer a veracidade disso", comenta Wheen, "basta visitarmos Pequim - a capital de uma nação declaradamente comunista -, onde o centro da cidade assemelha-se agora, estranhamente, a uma rua movimentada dos Estados Unidos, com lojas do McDonald's, da Monsanto, da Kentucky Fried Chicken, da Haagen-Dezs e do Pizza Hunt, sem falarmos das filiais do Chase Manhattan Bank e do Citibank em que se depositar os lucros".
Marx previra em vários de seus trabalhos, e em particular em "O Capital" - um dos livros mais importantes (e paradoxalmente um dos menos lidos na íntegra), e ainda menos compreendido - e por isso mesmo tão amplamente descartado pelos "intelectualóides" neoliberais da moda e outros ainda piores - dos últimos trezentos anos, que o amadurecimento do grande capitalismo de oligopólios e monopólios internacionais provocaria crises e recessões econômicas periódicas e sempre mais graves, uma dependência crescente da tecnologia que aumenta a produção e o desemprego e cujo mal uso causa a maior parte dos crimes ecológicos atuais, bem como o crescimento anti-natural, qual imenso Leviatã saturnino a devorar seus "filhos", de empresas transnacionais poderosas que, qual imensa aranha, projeta suas teias pegajosas aos quatro cantos do mundo, na sua insaciável e sempre exponencial fome de novos povos a explorar. E o que tem sido toda a história do século XX, incluindo duas Guerras Mundiais e centenas de outras menores mas não menos assassinas (Vietnã, Coréia, Guerra-Fria, "Tempestade no Deserto", etc.) senão a expressão da fúria por mercados, povos ou áreas com recursos naturais necessários ao deus "capitalismo"? E a dominação mundial da McDonald's e da Microsoft? E o desemprego endêmico na hoje ex-potência econômica que é o Japão? E pior, com a revolução tecnológica que "deveria" facilitar a vida do homem, o que se tem acrescido é um número maior de exigências físicas, financeiras e intelectuais que tomam todo o tempo e forças do homem, tornado as 24 horas do dia muito pouco tempo para o tanto de exigências que se abatem sobre um trabalhador que tenta, mais que viver, sobreviver, sacrificando horas valiosas que poderiam ser usufruidas na companhia dos filhos, dos amigos e da auto-instrução, no que a professora, filósofa, editora, conferencista e escritora brasileira Rose Marie Muraro chama de "a espiral enlouquecida". Mas há mais de cem anos Marx já tinha plena consciência de para onde caminhava o capitalismo e seu incentivo no progresso tecnológico, que ao invés do que nos fazem crer, tem menos a ver com o conforto humano que com a produção de lucros para os vampiros do capital, como encontramos em O Capital :
"Os meios pelos quais o capitalismo aumenta a produtividade distorcem o homem comum trabalhador em um fragmento de homem, rebaixam-no ao nível de apêndice de uma máquina, destroem o conteúdo real de seu trabalho, transformando-o num tormento cheio de exigências a serem cumpridas; alienam dele as potencialidades intelectuais do processo de trabalho, na mesma proporção em que a ciência é incorporada neste como uma força independente, de pessoas pagas para pensarem pelas demais; deturpam suas condições de trabalho e o submetem, durante o processo de trabalho, a um despotismo que é ainda mais odioso por sua mesquinhez; transforma-lhe a vida em horário de expediente e atiram sua esposa e filhos sob as rodas do carro de Jagrená do capital (...). A acumulação da riqueza num dos pólos, portanto, é, ao mesmo tempo, a acumulação da miséria, a tortura do trabalho que deveria ser um lazer e fonte de satisfação pessoal, a escravidão intelectual e física, a ignorância, a brutalização e a degradação moral no pólo oposto".
Mas isso pode se dar com características bizarramente caóticas em um mesmo país, no qual sua burguesia ajuda a importar valores e estilos do chamado "Primeiro Mundo" para atrair recursos e capitais externos, piorando a situação econômica interna.
Senão vejamos: no Brasil existe ou subsiste ainda uma forma bastante primária de capitalismo no Nordeste. No Sul, existe uma forma mais sofisticada, onde uma burguesia industrial e agrária convive com uma burguesia insdutrial internacional que impõe modelos de consumo e comportamento. Estes membros formam a força economicamente privilegiada da nação por deter em suas mãos os meios técnicos e físicos para a produção econômica. E para manter indefinidamente seu poder, é necessário resguardar sempre o domínio destes meios de produção o que é feito mediante o aperfeiçoamento técnico dos mesmos, daí a ênfase e o apóio nas chamadas ciências técnicas: engenharia mecânica e elétrica, computação, etc. Marx fala que "a burguesia não pode subsistir sem transformar os instrumentos de produção e, portanto, as relações de produção (ou seja, a forma como se dá a relação entre as máquinas e as pessoas que trabalham com elas), o que implica na transformação do conjunto das condições sociais (...). A burguesia criou forças produtivas mais maciças (por exemplo, as grandes fábricas mecanizadas) e mais colossais do que as que haviam sido criadas por todas as gerações do passado, em conjunto (op.cit). Desse jeito, é incentivado um processo de mecanização e obsolescência, onde instrumentos que deveriam servir como auxiliares e meios (veja-se o caso dos computadores), por serem rapidamente descartáveis, se tornam fins em si, realimentando o processo, matando o emprego e, com este, a dignidade da pessoa humana, que só tem valia se for consumidora.
Surgem assim duas formas básicas de contradição na sociedade capitalista:
1º. Contradição entre os Meios Técnicos e as Relações de Produção. - Os capitalistas, ou seja, os donos daas máquinas, da terra e das fábricas criam ou incentivam a criação incessante de meios de produção mais poderosos, por exemplo, novos computadores que controlam novos robôs, dispensando mão de obra humana e liberando o patrão de pagar os encargos sociais dos empregados. Os desempregados, que se aglomeram nas cidades, acabam formando um exércido de mão-de-obra de reserva que, igualmente, é usado para inibir os operários e empregados que ainda trabalham e que podem ser facilmente substituídos pelos que estão desempregados, caso tentem causar problemas aos patrões. Mas as relações de produção, ou seja, as relações entre propriedade, trabalho e a distribuição das rendas não se transformam no mesmo rítimo, ao contrário, tenta-se sempre deixar aos detentores dos meios de produação todo os direitos que deveriam ser compartilhado com todos, inclusive a renda. Por isso a grande Belíndia (mistura entre Bélgica e Índia) ou o Texas-África que é o Brasil: uma perversa distribuição de renda que se mantêm às custas da alienação política da nação, em grande parte mantida e incentivada pelos meios de comuncação de massa, como a mídia eletrônica que, em nosso país, é praticamente controlada pela Rede "Mundo" de Televisão, surgida na ditadura militar criada com apoio dos EUA em 1964, e sempre governista. Favelas ao lando de grandes prédios... Indústrias no Sul contra o sistema fundiário do Norte, etc. (para um estudo do Golpe Militar de 1964, Clique Aqui).
2º. Contradição entre o Aumento das Riquezas e a Miséria Crescente da Maioria.- Os que não detêm os meios de produção, ou seja, a grandiosa maioria da população, ficam à mercê do que querem os detentores dos meios de produção. Ora, estes querem sempre obter mais lucros e garatir seu poder e padrão de vida, sendo assim, tentam minimizar as despesas com pessoal e manter o controle sobre o pensamento público. Isso aumenta o desemprego e afunila as maravilhas do mundo moderno, como educação e saúde, apenas para quem tem o poder de COMPRÁ-LOS. Empenhados em uma concorrência louca - que transborda as fábricas e rrecai sobre o modo de vida de todos e nas relações entre as pessoas -, os capitalistas não podem deixar de aumentar seus meios de produção e, com isso, ampliar o número de dependentes proletários e sua miséria (veja a Home Page Capitalismo: o Sepulcro Caiado).
Como nos fala Raymond Aron, "o caráter contraditório do capitalismo se manifesta no fato de que o crescimento dos meios de produção em vez de se traduzir pela elevação do nível de vida dos trabalhadores leva a um duplo processo de proletarização (os pequenos agricultores vedem suas terras para procurar empregos nas cidades) e pauperização (crescem os miseráveis nas favelas por falta de emprego)"(Aron, 1993, p. 137).
Sendo assim, o capitalismo alienou, isto é, separou, divorciou o trabalhador comum dos seus meios de produção, pois, por exemplo, um artesão não poderá competir com uma fábrica. Só lhe resta vender sua oficina e ir trabalhar nesta fábrica aceitando as ordens do patrão em troca de um salário pela venda de sua força de trabalho. A industrialização de lucro, a propriedade privada e o assalariamento separam o trabalhador dos meios de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da alienação econômica, fortalecida pela alienação cultural (os programas de televisão aos domingos e as redes evangélicas pentecostalistas traduzem bem isto), que ajuda na alienação política.
A alienação política se dá assim: o Estado, que é administrado pelos políticos eleitos, é mantido pelos que são eleitos devido não ao debate de idéias ou presença de competência mas, na maioria das vezes, à manipulação da propaganda e dos meios de comunicação, às custas do abuso do poder econômico. Nisso, então, a Democracia passa a ser uma farsa, pois os direitos não são iguais entre os candidatos. O Aparentar, o Parecer suplanta o Ser. Basta ver o modo tendencioso da Rede "Mundo" de televisão nas últimas três primeiras eleições presidenciais no Brasil para se ter uma idéia disso (a mesma poderosa organização da mídia eletrônica ajudou a eleger Collor de Mello e o acompanhava todos os domingos na sua marotona calculada na Casa da Dinda para, para, posteriormente, descartá-lo do cenário político quando seus interesses começaram a ser ameaçados pela mediocridade deste primeiro Dom Fernando). Assim sendo, os que estão no poder não representam o povo em si, mas a CLASSE ECONÔMICA DOMINANTE, ou seja, a dos grandes empresários, banqueiros latifundiários e entidades internacionais. FHC e ACM são os dois ícones máximos dessa representatividade elitista (e, agora, por cúmulo do paroxismo esquizfrênico, o próprio "Príncipe Operário", que transformou, ao chegar ao Poder, a esperança de um Partido dos Trabalhadores em um pesadelo dirigido por um Partido de Traidores).
Os programas de comunicação de massa refletem bem essa ideologia do poder de um determinado grupo. A revista "Observe", por exemplo, juntamente com a Rede "Mundo" de Televisão fizeram e desfizeram tudo o que quiseram para enegrecer Lula (no tempo em que ele e o PT ainda eram - ou pareciam ser - os representantes e o partido dos trabalhadores, o que infelizmente mudou, e muito) e engradecer FHC, o doador-mor das riquezas nacionais à ganância internacional. Esquecendo facilmente que o maior Presidente Norte-Americano, Abrahan Lincoln, era um lenhador sem estudos, o pobre ex-operário (e atual traidor) Lula foi avacalhado diante do nobre Doutor Sociólogo... Hipocrisias que trazem os frutos para que delas usam... Hoje os estudantes universitários são tachados de mal-educados por estes dois veículos de comunicação ao protestarem contra o sucatemento com vistas a privatização das universidades públicas, enquanto FHC é chamado de gentleman mesmo quando chama o povo brasileiro de capira, os aposentados de vagabundos (hoje ele não os chama mais assim, é verdade. Ele apenas age com eles como se realmente o fossem), os sem-terra de maconheiros, etc... Muito imparcial esses instrumentos de comunicação.
Assim, mutilado e alienado econômica e socialmente, o homem só pode se recuperar sua condição humana se despertar e se educar. Educação? No Brasil isso não pode se dar, pois assim muitos iriam despertar para a sujeira política de nosso sistema, iriam ter uma visão crítica de mundo, como sonhava Paulo Freire. Assim, é melhor sucatear a educação pública e as universidades. Só os que têm dinheiro, e são do lado da burguesia dominate, ao menos concordantes com sua idelogia, é que podem e devem ser educados para, assim mesmo, ajudar a manter o sistema. Não é sem luta que os trabalhadores comuns podem burilar a si mesmos.
E, depois de conscientizado e esclarecido, o homem tem de agir politcamente para mudar o quadro de desigualdades. Quando isso ocorre, a tão propalada democracia, especialmente na América Latina, dá lugar ao apóio da burguesia e dos latifundiários ao Golpe Militar ou ao Golpe de Estado, para se proteger da ameaça marxista. Foi assim no Brasil com o infame Golpe de 64, foi assim no Chile, na Argentina.... Fala-se muito das atrocidades dos "comunistas" mas se calam quanto aos porões das várias ditaduras das repúblicas de bananas da América Latina. Ainda pior e quase cômicas são as cruzadas de certos "intelectuais" de direita que, não podendo fazer frente ao poder intelectual de Marx, reconhecido e admirado no mundo todo, menos dos Estados Unidos e - por imitação subserviente - no Brasil, apelam para os maiores absurdos com o aval da mídia comercial, geralemnte aso de grandes conglomerados industriais, para desacreditar os pensadores de esquerda, mesmo os mais úteis ao país, em especial no Brasil. Nomes como Roberto Campos ou do auto-intitulado "filósofo" - e também astrólogo - Olavo de Carvalho (articulista de um império de telecomunicações que põe e tira da presidência quem quer, desde que seja de direita, sob o comando de um nonagenário Cidadão Kane tupininquim, como diz o excelente documentário da BBC Brazil, Beyond the Citizen Kane) já são suficientes exemplos de tais "pseudo-pensadores" ou os poucos privilegiados pelo sistema injusto, tipos M. Kadayan e seus aviõezinhos. Para um aprofundamento desta questão veja a entrevist de Noam Chomsky para a jornalista Regina Zappa, intitulada "Mídia e Poder".
"Mas há um fenômeno que nem Marx nem eu tínahmos previsto: é que, no fim da década de 1990, depois do fim da Guerra Fria e da aparente vitória que para os ricos e bem postos seria a de Deus sobre Satanás, em que um sem-número de sabichões declarara que havíamos chegado ao que Francis Fukuyama chamou, presunçosamente, de o Fim da História, e depois de ter sido descartado pelos liberais da moda, Marx viesse a ser subitamente saudado como um gênio pelos próprios velhos burgueses capitalistas maldosos. O primeiro sinal dessa reavaliação bizarra surgiu em outubro de 1997, quando uma edição especial do New Yorker rotulou Karl Marx de 'o próximo grande pensador', um homem que tem muito a nos ensinar sobre a corrupção política, o monopólio, a alienação, a desigualdade e os mercados globais. 'Quanto mais tempo passo em Wall Street, mais me convenço que Marx tinha razão', disse um rico banqueiro de investimento à revista. ' Estou absolutamente convencido de que a abordagem de Marx é a melhor maneira de pensar o capitalismo'. Desde então, economistas e jornalistas de direita começaram fazer fila para prestar homenagens semelhantes (...)."
Francis Wheen
É essa a mensagem básica de Karl Marx, e a sua grandeza. O conceito de alienação é, para mim, o mais básico e brilhante da teoria marxiana do capitalismo. Em muitos pontos, foi sua bagem humanista e filosófica que levou Marx ao estudo aprofundado da Economia e da História. Marx tinha o que hoje chamamos de consciência sistêmica ou ecológica das coisas, mas não desenvolveu muito - nem poderia com os recursos de seu tempo - um trabalho nesse sentido. Mas ele viu muito à frente do seu tempo. Ele fez muito para uma só existencia e isso já basta. Seu trabalho foi levado adiante em nosso século por nomes como Rosa Luxembrugo, Antonio Gramsci, Pablo Picasso, Frida Kahlo, Edgar Morin, Jean Paul Sartre, Che Guevara, Mário de Andrade, Antonio Houaiss, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Barbosa Lima Sobrinho, Chico Buarque de Holanda, Carlos Chagas... E podemos ver que o pensamento marxiano, no que tem de profundamenteo humanista, está concordo com os trabalhos progressistas e profundamente e cristão de Leonardo Boff, Dom José Maria Pires, Dom Hélder Câmara, ou de organizações como Greenpeace, ONGs várias, entre inúmeros outros nomes e associações.
"A alienação imputável à propriedade privada dos meios de produção se manifesta no fato de que o trabalho, atividade essencialmente humana, que define a humanidade (e criatividade) do homem, perde suas características humanas, já que passa a ser, para os assalariados, nada mais que um meio de sobrevivência. Em vez do trabalho ser a expressão do próprio homem, o trabalho se vê degradado em instrumento, em meio de viver.
"Os empresários também são alienados, pois a finalidade das mercadorias de que dispõem não é atender a necessidades realmente sentidas pelos outros, mas são levados ao mercado para obter lucro. O empresário se torna escravo de um mercado imprevisível, sujeito aos azares da concorrência. Explora os assalariados mas nem por isso ele é humanizado no seu trabalho, pelo contrário, aliena-se em benefício de um mecanismo anônimo."
Raymond Aron
Links:
Bibliografia:
Aron, Raymond (1993). As Etapas do Pensamento Sociológico. Martins Fontes, São Paulo
Fromm, Erich (1979). Conceito Marxista do Homem. Zahar Editores, Rio de Janeiro
Marx, Karl (1997). Manuscritos Econômico-Filosóficos. Coleção Os Pensadores. Ed. Abril, SP.
Marx, K. & Engels, F. (1997) O Manifesto Comunista. Paz e Terra, São Paulo.
Marx, Karl (1997). O Capital. Coleção Os Economistas. Abril Cultural, São Paulo.
Reale, G. & Antiseri, D. (1993). História da Filosofia, volume III. Ed. Paulus, São Paulo.
Wheen, Francis (2001). Karl Marx. Editora Record, Rio de Janeiro.
"Você pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único"
John Lennon
Karl Max foi o maior filho da puta que já existiu na humanidade.
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