26 de ago. de 2010

Obscenidades da Educação Paulista

Neste início de segundo semestre letivo fomos mais uma vez surpreendidos por polêmicas em torno dos livros distribuídos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE). Juntamente com outros dois títulos que compõem o programa ‘Apoio ao Saber’, a SEE entregou aos alunos do terceiro ano do ensino médio a coletânea ‘Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século’. No centro da questão, que tem causado alvoroço entre pais, alunos e professores, está o texto ‘Obscenidades Para uma Dona de Casa’ do escritor Ignácio Loyola Brandão.
Nele, que narra fantasias amorosas de uma mulher, o autor se utiliza de palavrões e termos chulos, além de descrições apimentadas de um ato sexual. Os moralistas, notadamente pais e certos professores, sentiram-se ofendidos com o texto. Já os alunos, com toda irreverência e furor típicos da juventude, esbaldam-se com o conteúdo erótico.
Como em todo ambiente plural e democrático, as opiniões divergem e o debate pega fogo. As discussões vão desde a escolha dos autores, se mereceriam ou não figurar numa lista dos ‘cem melhores’, outros tantos autores que ficaram de fora, e principalmente, se os textos selecionados atendem as necessidades pedagógicas e linguagem adequada ao ambiente escolar.
Os progressistas apontam a necessidade de estimular o debate sexual tanto nas escolas quanto nos lares, e alegam que as ‘obscenidades’ ali constantes não são piores que aquelas presentes em outros setores. Ainda sim, cabe de novo perguntar se a abordagem é a mais apropriada do ponto de vista pedagógico.
Os desdobramentos são mais graves, na medida em que nem os pais, nem os alunos, nem os professores, participaram da seleção do conteúdo. Os livros, ainda que distribuídos gratuitamente, foram comprados com dinheiro do contribuinte, o que garante a cada pai ou mãe, cada professor e cada aluno o direito de questionar tal ação.
Além das questões pedagógicas, a compra de tal livro suscita outro tipo de preocupação. A dita coletânea é editada pela Objetiva, pertencente ao grupo espanhol Prisa-Santillana. Não haveria problemas se não fosse a reincidência das relações econômicas entre a SEE e tal grupo. Em outra ocasião, a Secretaria comprou, sem licitação, assinaturas do jornal espanhol ‘El País’, do mesmo grupo.
E mais, no site da Fundação Santillana no Brasil, descobrimos que seu conselho consultivo é formado pelos tucanos Fernando Henrique Cardoso e pelo atual Secretário de Educação do Estado, Paulo Renato Souza, além dos Senadores Cristovam Buarque e José Sarney e a Nélida Pinon. As práticas econômicas se assemelham àquelas tratadas neste espaço no texto ‘A Educação Estadual, os lobistas e a Editora Abril. Não parece deslize, parece método, que se repete a cada nova situação.
Todos esses eventos demonstram a necessidade de toda a comunidade escolar (alunos, pais, professores, diretores, funcionários) manter a vigilância tanto na aplicação dos impostos na área da educação, como na relação com a qualidade do conteúdo dos materiais distribuídos. Afinal, foram comprados com nosso dinheiro e oferecidos aos nossos alunos.

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Clipping ‘Obscenidades’

Ao dar início ao segundo semestre do ano letivo, os alunos do terceiro ano do ensino médio, da rede de escolas públicas estaduais, foram agraciados com uma caixa de livros constantes do projeto ‘Apoio ao Saber’. Na caixa foram incluídos três títulos: Canto Geral (Ed. Bertran BrasilGrupo Record), do poeta chileno Pablo Neruda, Casa de Bonecas (Ed. Vida e Consciência), do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen e a coletânea de contos ‘Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século’. 
A polêmica se desdobra em torno do conto ‘Obscenidades para uma dona de casa’, de Ignácio de Loyola Brandão (pág. 471-477), que integra a coletânea ‘Os Cem Maiores Contos…’. Nele, uma dona de casa solitária detalha cartas obscenas que recebe de um amante. No contexto da narração, o autor escreve palavrões e termos chulos. Os questionamentos aparecem quanto à razoabilidade ou não de proporcionar o contato com um texto de tal teor, por alunos, menores de idade, da rede pública estadual.
Através deste link, pode-se conferir, na íntegra, o referido texto.
http://www.releituras.com/ilbrandao_obscenidades.asp
            Repercussão na Mídia
08 de agosto 21010 – O Estadão.com.br informa a polêmica causada a partir da distribuição dos livros em escolas públicas de São Paulo.
http://www.estadao.com.br/noticia_imp.php?req=not_imp591716,0.php
17 de agosto de 2010 – A Gazeta de Piracicaba também aborda o tema, na editoria Cidade.
http://www.gazetadepiracicaba.com.br/conteudo/mostra_noticia.asp?noticia=1701824&area=26050&authent=4C88DAE91243733DC9EDFD0132320A
19 de agosto de 2010 – O tema aparece no portal G1.com, sendo replicado em matéria na TV Globo e da TV TEM, filiada da emissora.
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/08/livro-com-conto-erotico-usado-em-escola-de-jundiai-causa-polemica.html
20 de agosto de 2010 – O G1.com abre espaço ao autor do conto, Ignácio de Loyola Brandão.
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/08/pais-que-pedem-recolhimento-de-livro-sao-burros-diz-escritor.html
Em rápidas pesquisas realizadas sobre o assunto, verifica-se que a edição do  livro em questão é da editora Objetiva, que pertence a um grupo de mídia espanhol chamado Prisa-Santillana, também dono da Editora Moderna, forte atuante no mercado editorial brasileiro, com ênfase em material didático.
De acordo com o site da Fundação Santillana, o conselho consultivo no Brasil é composto por Fernando Henrique Cardoso, Paulo Renato Souza, José Sarney, Cristovam Buarque e Nelida Píñon. http://www.fundacaosantillana.com.br/06_releases_2.asp
As relações econômicas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e o grupo espanhol Prisa-Santillana não são inéditas. Sabe-se que também compraram, sem licitação, assinaturas do jornal EL País, que também é de propriedade do grupo Prisa-Santillana. http://namarianews.blogspot.com/2010/05/paulo-renato-y-sus-hermanos-de-espana.html 
O caso guarda semelhanças com as relações entre a SEE e o Grupo Abril, na compra das Revistas Nova Escola e Recreio.  Contratos milionários, sem licitação, tema discutido em artigo no blog do Tiago Pereira http://tiagopereira.wordpress.com/2009/06/12/a-educacao-estadual-os-lobistas-e-a-editora-abril/
Ainda sobre a questão dos conteúdos inapropriados, não parece haver ineditismos, como os jornais de cerca de um ano atrás podem confirmar:
Folha Online
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u568059.shtml
ABIGRAF

http://www.abigraf.org.br/index.php/br/ultimas-noticias/4693-apolca-secretaria-exclui-cinco-livros-do-programa-de-leitura-de-sp
G1

http://busca2.globo.com/Busca/g1/?query=livros+eroticos+educa%C3%A7%C3%A3o

Por Tiago -  23.08.2010

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